São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Amigos de ACM ficam dentro do Planalto

Da Sucursal de Brasília

Ao nomear Pedro Parente para a Casa Civil e Aloysio Nunes Ferreira para a Secretaria Geral da Presidência, o presidente Fernando Henrique Cardoso escolheu pessoas que têm amplo trânsito no governo e na aliança governista.
E mais: os dois são amigos do presidente do Congresso, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
A mudança do funcionamento interno do Palácio do Planalto era um dos principais objetivos da reforma ministerial. A intenção era dividir a operação administrativa da rotina política, evitando erros crassos na relação do governo com o Congresso, inclusive na votação de projetos.
Pedro Parente e Aloysio terão a responsabilidade de facilitar o trânsito dos pleitos que chegam ao presidente Fernando Henrique.
O objetivo não é atender a tudo, mas encaminhar de uma maneira menos áspera do que os despachos de Clóvis Carvalho, o atual chefe da Casa Civil e até anteontem um dos mais poderosos homens de Fernando Henrique.

Rotina
Parente se ocupará da rotina de elaboração e análise de projetos, decretos, medidas provisórias e relacionamento com o restante dos ministros. Estará sob sua responsabilidade, por exemplo, tocar um dos projetos mais caros ao presidente Fernando Henrique Cardoso, o PPA (Plano Plurianual), o plano estratégico de investimentos do governo.
Já Nunes Ferreira ficará com a negociação política desses projetos, não só no Congresso mas também com governadores e prefeitos de capitais.
Também caberá a ele o papel mais árido: os despachos diários com deputados e senadores.

Cunha
Pedro Parente também representará uma cunha da equipe econômica dentro do Palácio do Planalto. Já foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda e tinha Pedro Malan como chefe.
Não é possível, entretanto, dizer que Parente seguirá fielmente a cartilha de Malan dentro do Palácio do Planalto. O exemplo mais recente é o da instalação da Ford na Bahia.
O ministro Pedro Malan foi contra a concessão de incentivos federais como desejava o governo da Bahia e ACM. Pedro Parente ficou do lado do senador baiano.
Sem filiação partidária, Parente terá atribuições técnicas e burocráticas. Assim como Nunes Ferreira, não tem planos eleitorais que possam inviabilizar o contato com líderes partidários. A falta de um projeto eleitoral de curto ou médio prazo, especialmente um projeto majoritário, foi decisiva para a escolha de ambos.

Rompimento
Nunes Ferreira foi sempre ligado ao PMDB, até que teve de romper no ano passado por causa de uma incompatibilidade com a direção peemedebista em São Paulo.
Mesmo estando filiado ao PSDB, Aloysio tem amplo trânsito em todos os partidos da base aliada de FHC. Sua maior dificuldade será o relacionamento com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).
Em 97, Temer e seu grupo do PMDB paulista vetaram o nome de Aloysio para o Ministério dos Transportes. FHC acabou nomeando Eliseu Padilha (PMDB- RS) para o posto.
Num grande acordo tácito, os personagens envolvidos nas discussões e decisões da reforma ministerial garantiam ontem que tanto Parente quanto Nunes Ferreira foram "escolhas pessoais do presidente".
Os tucanos, entretanto, foram os que mais participaram dessas discussões. Se a indicação de Parente teve a aprovação de Pedro Malan, a de Nunes Ferreira passou por José Serra (Saúde) e Paulo Renato (Educação).
Além dos dois novos ministros, dois outros personagens deverão ter mais importância a partir de agora no Planalto: Vilmar Faria, chefe da Assessoria Especial, e Andrea Matarazzo, da Comunicação.

Seminário
Estão mantidos, também, o chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, e a assessora de imprensa, Ana Tavares.
Todos eles estão convidados para um seminário, amanhã, pleno domingo, para ouvir o diagnóstico de uma consultoria particular sobre como dar maior velocidade e eficiência à rotina da Presidência da República.
Quem contratou essa consultoria foi Clovis Carvalho, muito antes de supor que seria deslocado para o Ministério do Desenvolvimento.
(ELIANE CANTANHÊDE E FERNANDO RODRIGUES)


Texto Anterior: Presidente cede em parte aos tucanos
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.