|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Offshore lavou dinheiro do tráfico
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
As duas uruguaias que controlam a Guaranhuns Empreendimentos, empresa que recebeu
R$ 6 milhões do publicitário Marcos Valério de Souza que teriam
sido repassados ao PL, são acusadas pelo DEA (departamento de
combate ao narcotráfico dos
EUA) e pela Justiça argentina de
ter lavado dinheiro para o principal cartel de traficantes do México, o Cartel de Juárez.
A empresa que detém 99% do
capital da Guaranhuns, a Esfort
Trading S/A, foi criada em 2001
no Uruguai por Marta Otero Bergonzoni Dovat e Judith Viera Garola, segundo documentos obtidos pela Folha.
O empresário José Carlos Batista, que detém 1% das cotas da
Guaranhuns, diz que não sabia do
passado das uruguaias. Segundo
ele, a Guaranhuns passou a ter
uma offshore no Uruguai para pagar menos impostos.
As duas uruguaias tem um currículo comprometedor. Elas já
apareceram como diretoras de
quatro empresas, de acordo com
a Justiça argentina, usadas para
lavar pelo menos US$ 13 milhões
(cerca de R$ 30,3 milhões) do traficante mexicano Amado Carrillo
Fuentes, morto em 1997.
As empresas dirigidas pela dupla, entre as quais a Tamilur S/A,
Idafal S/A, Sasur S/A e Financiera
Estarey, compraram fazendas e
casas de praia no Chile, na Argentina e no Uruguai. A cidade de
Mar del Prata era um dos locais
preferidos do traficante.
O Brasil seria um dos alvos seguintes de Carrilo Fuentes, mas a
polícia argentina desbaratou a lavagem de dinheiro em 2000.
O senhor dos céus
Carrillo Fuentes era o principal
dirigente do Cartel de Juárez, que
tinha como base essa cidade na
fronteira entre o México e os
EUA. Nas contas de uma comissão do Senado dos Estados Unidos de 2001, esse cartel juntou
US$ 2 bilhões (R$ 4,6 bilhões) entre os anos 80 e 90.
Em julho de 1997, foi anunciada
a morte de Carrillo Fuentes. O traficante teria morrido no México
enquanto se recuperava de uma
cirurgia plástica. Há dúvidas, porém, se a informação era verdadeira ou cortina de fumaça para o
mexicano escapar das autoridades dos EUA. Carrillo Fuentes era
conhecido como "lord of the
skies" (senhor dos céus) porque
usava aviões de pequeno porte
para enviar cocaína para os EUA.
A lavagem dos dólares do Cartel
de Juárez começou a ser desvendada em 2000, quando um contador do traficante delatou o esquema que havia sido montado no
Chile, Uruguai e na Argentina.
Em maio de 2000, a polícia argentina prendeu Nicolás di Tullio,
empresário do ramo imobiliário
que fazia os negócios para o cartel. Documentos encontrados pelo DEA no México mostraram
que o traficante havia colocado
dinheiro na campanha presidencial do peronista Eduardo Duhalde em 1999 -o que foi negado
pelo então candidato.
Lavanderia
Marta Otero e Judith fazem parte de uma instituição uruguaia
-as pessoas que emprestam seus
nomes para negócios nem sempre lícitos. O Uruguai permite que
as empresas escondam seus verdadeiros donos desde 1955. Escritórios de advocacia criam as chamadas empresas de prateleira
-se algum doleiro, traficante ou
político precisar fazer remessas
para fora de seu país sem registrar
o envio no Banco Central pode
comprar uma dessas empresas.
Três advogados especialistas em
lavagem de dinheiro ouvidos pela
Folha acreditam que a Esfort tenha sido usada por doleiros não
muito cuidadosos -nem se deram ao trabalho de verificar se as
titulares da empresa tinham algo
comprometedor no passado.
Técnicos do Senado que trabalham na CPI dos Correios descobriram outras operações da Esfort
que não têm relação com o suposto repasse de R$ 6 milhões ao PL.
São depósitos de US$ 1,1 milhão
(R$ 2,56 milhões) feitos pela Esfort nos anos de 2002 e 2003 na
agência do Banrisul (Banco do
Rio Grande do Sul) que funciona
nas Ilhas Cayman, um dos paraísos fiscais no Caribe.
O banco informou por meio de
nota que nunca fez remessas da
Esfort do Brasil para as Ilhas Cayman e que segue a legislação dos
países onde opera.
A Folha fez uma pergunta simples à assessoria de imprensa do
Banrisul: a remessa para a conta
da Esfort no Banrisul de Cayman
não pode ter partido de Nova
York? A assessoria informou que
tudo que tinha para dizer sobre a
Esfort estava na nota divulgada.
Texto Anterior: Outro lado: Assessor diz que campanha foi paga no Brasil Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Novas conexões: Doleiro envolve ministro e presidente do BC Índice
|