São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVAS CONEXÕES

Preso, Toninho da Barcelona fala a integrantes da CPI, tenta negociar redução de pena e diz que pode listar operações ilegais

Doleiro envolve ministro e presidente do BC

Eduardo Knapp/Folha Imagem
O doleiro Toninho da Barcelona, algemado e escoltado, chega a prédio da polícia em SP para depor


DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo-se disposto a colaborar com a CPI dos Correios em troca de proteção à sua integridade física, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, foi categórico em depoimento a uma delegação da comissão: "Fiz algumas operações para políticos do PT entre 2002 e 2003". Ele afirmou que tem como mostrar como o partido "operacionalizava" contas no exterior.
Barcelona, que estava preso em Avaré, interior paulista, foi ouvido ontem no prédio do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) em São Paulo, após ser transferido de helicóptero. Os parlamentares viajaram à cidade.
Em resposta a um questionamento do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), Barcelona ameaçou provar -sem especificar como- que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, remeteu dinheiro para o exterior. Também sem apresentar documentos, prometeu detalhar à CPI operações ilegais do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no MTB Bank.
Segundo parlamentares, ele afirmou ser o doleiro com quem Thomaz Bastos opera, mas não informou se a remessa seria ilegal. Só disse que poderia apresentar documentos sobre essas operações: "A próprio declaração de Imposto de Renda pode mostrar se ele mandou ou não".
Abatido, vestindo roupa de presidiário, calça laranja e colete à prova de balas, com a cabeça raspada, Barcelona chorou durante o depoimento e confirmou que corre risco de morte.
Apesar de citar Meirelles, o doleiro defendeu a idoneidade do presidente do BC. "Foi surpreendente", disse ACM Neto (PFL-BA). "Se a caixa preta do MTB fosse aberta, seriam descobertas uma série de movimentações de Meirelles", disse o deputado.
Para a senadora Ideli Salvati (PT-SC), o doleiro "lança hipóteses que são graves, mas não apresenta provas". Segundo a senadora, "ele respondeu às perguntas sempre na lógica de que apresentará as provas se obtiver a redução das penas".
O advogado Ricardo Sayeg diz que Barcelona não apresentaria mais detalhes sem obter, antes, uma confirmação do Ministério Público.
"Ele [Barcelona] quis aguçar o apetite da CPI para negociar uma delação premiada", afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Dirceu
Confrontado com o nome do ex-ministro José Dirceu, Barcelona disse que, "no momento oportuno", poderá dar detalhes sobre operações com a corretora Bônus-Banval. Falou o mesmo do líder do PP, José Janene (PR).
A corretora é uma das principais beneficiárias de dinheiro saído das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. A ligação de Dirceu com a corretora teria ocorrido em 2002, possivelmente pouco antes de ocupar o ministério.
Sobre o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, disse que, como trabalhava com mais de 80 funcionários, precisaria de tempo para levantar suas operações com a casa de Câmbio Barcelona Tour.
Ainda sem apresentar provas, ele afirmou também que vendeu dólares para o deputado José Mentor (PT-SP). O doleiro reafirmou ter sido procurado na prisão, no dia 24 de junho, por dois advogados em nome do deputado. No encontro, ele negou ter operado para o PT desde 1989. Disse que usaram sua "figura, a de um ícone, para obterem vantagem".
Barcelona disse também conhecer o doleiro Paco, que teria usado uma "conta-ônibus" do MTB Bank no caso Lubeca, quando o PT foi acusado de uma suposta cobrança de propina na Prefeitura de São Paulo em 1989. Paco nunca foi localizado pela polícia.
O MTB Bank, dos EUA, é investigado pela CPI do Banestado por suspeita de ter sido usado por doleiros para lavagem de dinheiro.
"De 1985 a 2003, ele [o MTB] foi usado por toda a sociedade. Não escapa ninguém. Nem instituição filantrópica. Nem freira nem padre", disse Barcelona.

Santo André
Condenado a 25 anos de prisão, Barcelona prometeu aos parlamentares dar informações sobre operações do Banco Rural até março de 2005.
O doleiro disse ainda ter como contribuir com informações sobre um suposto doleiro que teria operado no caso Santo André -a Promotoria tem notícias de que parte da verba supostamente desviada da prefeitura petista da cidade foi remetida para o exterior.
O doleiro tenta negociar informações em troca de redução de pena. Os parlamentares alegaram que não podem assegurar esse benefício. Ontem, Barcelona foi transferido para o presídio de Franco da Rocha. Amanhã, a CPI votará o requerimento para sua convocação.


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