São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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Lula apóia manobra para implodir grupo de Dirceu

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossa uma articulação para implodir o Campo Majoritário, tendência fortemente influenciada pelo ex-ministro José Dirceu e que domina o PT há dez anos.
Essa articulação, liderada pelo presidente do PT, Tarso Genro, e pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, objetiva isolar o grupo de Dirceu, visto como o maior responsável pela crise.
A Executiva do PT estava reunida em Brasília até a conclusão desta edição para decidir se reabriria o prazo para inscrições das chapas que concorrerão no Processo de Eleições Diretas, marcado para 18 de setembro, para escolher o novo comando do PT.
Se for permitida a reabertura dos prazos, Tarso e Mercadante liderarão uma nova chapa, abandonando o Campo Majoritário. Será o segundo grande racha entre moderados na história do PT. Em 1993, ocorreu fato semelhante, possibilitando a chegada dos radicais ao comando partidário.
Mercadante e Tarso querem comandar um grupo moderado que, em aliança com outras forças do PT, inclusive radicais, crie uma nova hegemonia no partido.
Tarso tem dito que Dirceu ainda é uma eminência parda no PT e no Campo Majoritário, tendência que hoje detém cerca de 70% dos postos de comando no partido. A implosão da atual maioria permitirá uma nova direção sem a influência de Dirceu, defendeu Tarso em conversa com Lula. O presidente, que também faz parte do Campo Majoritário, concordou.
"Se for autorizada a inscrição de novas chapas, eu e o Tarso vamos montar uma. Poderão nos acompanhar aqueles que quiserem. Alguns membros do PT adotaram práticas inaceitáveis, o que dá o direito a outros de tomar novos caminhos", diz Mercadante.
A autorização para inscrição de novas chapas é uma tentativa de evitar um conflito traumático com o grupo de Dirceu. Se a Executiva não permitir novas inscrições, Tarso e Mercadante estão dispostos a defender que Dirceu e seu grupo sejam excluídos da chapa do Campo Majoritário.
Essa alternativa enfrenta resistência de muitos moderados, e Lula também não gostaria de trilhar esse caminho. Motivo: equivaleria a uma espécie de condenação antecipada de Dirceu e de seu grupo por causa das acusações de envolvimento com o "mensalão".
Em conversas ontem com Mercadante e outros petistas, Lula disse que Tarso tinha razão ao defender um novo alinhamento no PT. A preocupação do presidente era evitar a imagem de que todos estão jogando Dirceu aos leões. Daí ter avalizado a articulação para rachar o Campo Majoritário.
Essa tendência surgiu de alianças dos moderados com outros grupos para retomar, em 1995, o controle do PT, que estava nas mãos dos radicais. Dirceu foi o grande arquiteto dessa operação.


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