São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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Para arcebispo de São Paulo, crise dificulta reeleição do presidente

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA

O arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom Cláudio Hummes, 71, disse ontem que a crise política tornou "mais difícil" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se candidate à reeleição, devido às denúncias de corrupção que atingem o governo federal.
"Acho que ele ainda não decidiu se vai concorrer ou não. Para ele, já é mais difícil hoje decidir isso, como também, obviamente, a partir daí, é mais difícil ele se reeleger, claro", disse o cardeal.
A declaração foi feita ontem no penúltimo dia da 43ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), realizada em Indaiatuba (SP).
D. Cláudio chegou a ser apontado como um dos favoritos à sucessão do papa João Paulo 2º. Entre 1975 e 1996, ele foi bispo da Diocese de Santo André (SP). D. Cláudio apoiou as greves dos metalúrgicos no ABC no início dos anos 80, quando conheceu Lula.
Para d. Cláudio, parte das promessas feitas pelo presidente "não estão sendo cumpridas e realizadas". "Há muitas promessas que não foram cumpridas, algumas muito importantes, como vencer a fome e a miséria", disse.
Segundo ele, "o povo não pode permitir que haja retrocesso no país" em razão da crise política. "O povo não pode permitir que haja retrocesso no país. As investigações têm de ir até o fim e todos os culpados devem ser punidos e afastados do poder. Somos maiores que um partido e a crise é uma oportunidade de o país crescer."

Traição
O cardeal disse não achar necessário que o presidente dê os nomes de quem o teria traído -em discurso na semana passada, Lula disse ter sido traído. "Não acredito que ele precise dizer um por um os nomes de quem o traiu. Provavelmente ele falou de modo geral, por aquilo que ele vê como resultado. Ele se vê traído, em primeiro lugar, por um grupo dentro do partido, talvez por outras pessoas de sua base política no Congresso. Mas, se ele vai dizer nomes ou não, é decisão dele. O importante é que haja investigação."
D. Cláudio defendeu uma "reforma política urgente" no país. Entre os pontos destacados por ele como estão a diminuição do número de partidos, a revisão da reeleição e da proporcionalidade da representação dos Estados no Congresso. "Somos favoráveis a uma reforma política com urgência. Se não fizer agora, vamos pôr para fora o pessoal que está metido nisso [acusações], só que depois começa tudo de novo."


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