São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PROTESTO A FAVOR

CUT, UNE e MST esperavam público maior e atacaram a "direita", o deputado ACM Neto e a imprensa

Dez mil saem às ruas por Lula em Brasília

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

A manifestação contrária ao impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ontem cerca de dez mil pessoas em Brasília, segundo a Polícia Militar. O número ficou abaixo do esperado por movimentos sociais, sindicalistas e estudantes, que defenderam Lula e atacaram a "direita" e a "imprensa burguesa".
Liderado por CUT (Central Única dos Trabalhadores), UNE (União Nacional dos Estudantes) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o ato de ontem atraiu meia dúzia de parlamentares do PT e PC do B, poupou o Palácio do Planalto de seu trajeto e nem sequer se aglomerou em frente ao Ministério da Fazenda, onde dezenas de policiais militares estavam perfilados.
Ao longo do protesto, que chegou esvaziado ao Congresso, havia camisetas de "Lula 2006", bandeiras petistas e faixas de apoio explícito ao presidente, como duas da CUT: "Companheiro presidente, conte com a gente" e "Lula do emprego, 3,1 milhões de empregos com carteira assinada".
Líderes do ato se colocaram como os "únicos capazes de cobrar o combate à corrupção" e desafiaram o Congresso a "passar por cima dos movimentos" caso tentem cassar o mandato de Lula. O MST foi além e prometeu uma onda de invasões caso suas reivindicações não sejam atendidas.
No ato, que durou cerca de três horas, além de pedidos de vaias ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e discursos citando "o nosso governo", ouviram-se gritos irônicos contra a família do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). "É ou não é piada de salão ver o neto do ACM [deputado ACM Neto] falando em corrupção?", cantavam os manifestantes, em sua maioria estudantes do Distrito Federal. Muitos estavam ao estilo caras-pintadas, vestidos de preto e com listras verde e amarela nos rostos.
Além do apoio a Lula, manifestantes pediram a investigação dos casos de corrupção e criticaram a política econômica.

Lula agradece
O ato de ontem foi pacífico, somente com o registro de centenas de estudantes promovendo a já tradicional invasão do espelho d'água do Congresso. A PM apenas observou o banho dos manifestantes, que, a princípio, tinham a expectativa de levar 30 mil pessoas e, anteontem, já falavam em 15 mil. Após o ato, disseram ter atraído 35 mil pessoas.
De última hora, para agradecer o apoio diante da pior crise de seu governo e ampliar a repercussão da manifestação, Lula convocou representantes das entidades para um encontro no Planalto.
As entidades, que rechaçam o rótulo de "chapa-branca" da manifestação e procuram demonstrar uma atuação autônoma diante do Planalto, estão, na prática, com parte de suas receitas financeiras vinculadas ao governo federal, por meio da assinaturas de convênios, por exemplo.
Ontem, o presidente da CUT, João Felício, atacou a imprensa por, segundo ele, desconfiar do financiamento do governo à manifestação. "Todos os atos da nossa central sindical, da UNE, do MST, da Coordenação dos Movimentos Sociais são financiados com o dinheiro do povo. Não precisamos de dinheiro de governo."
Um dia depois do protesto pró-Lula reunir cerca de 10 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, hoje a chamada esquerda radical sai às ruas de Brasília, desta vez para atacar o governo, o presidente e os mesmos setores da "direita" criticados ontem por CUT, UNE e MST.
Por conta do apoio e do ataque a Lula, as manifestações foram desmembradas, evidenciando um racha na esquerda que, anos atrás, comandou o "Fora FHC".
Hoje, liderados por PSTU, PSOL, PCB e Coordenação Nacional de Lutas (dissidência da CUT), os manifestantes vão carregar faixas de "Fora Todos". A idéia é atacar de uma só vez Lula, o Congresso, o PFL e o PSDB.
A concentração do protesto será em frente ao Congresso, no final da manhã.

Sem impeachment
A Força Sindical desistiu de pedir impeachment de Lula em ato contra a corrupção previsto para 6 de setembro. Entidades que podem juntar-se ao ato influíram na mudança: a Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação Comercial de São Paulo são contra o afastamento de Lula no momento.


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