São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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Lula é omisso diante da crise, diz FHC

DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem "responsabilidade política" pelo escândalo do "mensalão" e que é "omisso" diante da crise. Tentou ser cauteloso, porém, ao falar de um processo de impeachment.
"O impeachment só acontece quando você sente que o país está convencido disso, e não me parece", disse FHC em entrevista exibida pela "BandNews". Uma versão editada da conversa foi veiculada no "Jornal da Band".
FHC afirmou que os fatos até agora "não imputam responsabilidade penal" a Lula. Comparou o impeachment a um terremoto e disse que não é discussão "fundamental": "Não é coisa boa para o país submetê-lo a essa convulsão política, mas não se trata de encobrir. Ninguém vai conseguir encobrir nada". Ele avaliou a crise como uma "implosão" do PT.
O ex-presidente criticou o pronunciamento de Lula à nação: "Se ele considera que foram as satisfações devidas, problema dele. Politicamente ele vai pagar. Ele vai enfrentar uma eleição. É aí que ele ver quem está satisfeito ou não." Ele voltou a negar ser candidato.
Ao comentar a boa situação de José Serra nas pesquisas, elogiou o prefeito de São Paulo, mas disse que qualquer candidatura agora "soará falsa" e que o cenário pode mudar. "Ele tem que resolver esse problema com São Paulo", disse sobre o cargo do tucano. Citou os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Aécio Neves (MG) como presidenciáveis.
FHC afirmou não ter sido procurado por Lula na crise. E se ele procurasse agora? "Nunca me neguei, mas agora não quero". Para ele, a população entenderia a conversa como "acordão" ou "cambalacho". Disse que Lula terá problemas para governar porque está perdendo liderança. "Para governar, não basta popularidade, tem de ter respeitabilidade."
Evitou falar do negócio entre a Telemar e a empresa de um dos filhos de Lula. Disse que a questão familiar é delicada quando se é presidente e que se deve manter o estilo de vida. Se o estilo mudar, diz FHC, se fará a pergunta: "Qual a vara que o ajudou a saltar?"
Sobre o uso de caixa dois, operado por Marcos Valério de Souza, pelo PSDB mineiro, afirmou ser "fato isolado". Negou ter utilizado a prática em suas campanhas. Diferença entre a contabilidade oficial e a real foram reveladas pela Folha. Questionado sobre a compra de votos para a emenda da reeleição, FHC disse: "É possível que tenha havido", mas afirmou que o caso não teve ligação com ele ou o governo. Em 1997, a Folha revelou conversas em que dois então deputados diziam ter recebido R$ 200 mil cada um para votar a favor da emenda.


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