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COMENTÁRIO
A hora dos caras-de-pau
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Não estivesse no poder um governo petista e as manifestações
pelo impeachment do presidente
há tempos estariam nas ruas -e
por muito menos do que já se revelou. A capitaneá-las, os companheiros de sempre, com suas bandeiras e estrelas vermelhas.
Tratando-se, porém, de corrupção "de esquerda", os responsáveis pelas instâncias que instrumentalizam os chamados movimentos sociais desfraldam os
pendões do oficialismo.
Após longo período de silêncio
interrompido por imprecações
contra a mídia mentirosa e o fantasma do "golpe" das elites, eis
que se tornou impossível fingir
que a roubalheira não existia. Então, o que fazer? A resposta foi
imaginosa: promover uma manifestação contra a corrupção, mas,
ao mesmo tempo, de apoio ao
presidente. Foi o que um grupo de
entidades, como a CUT, a UNE e
o MST, fez ontem em Brasília.
A primeira é um aparelho controlado por uma elite sindical vergada -e fascinada- pelo poder,
que, na figura do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, encarna o
que se pode chamar de neopeleguismo. A UNE tem outros motivos, além das ligações políticas,
para bajular Lula -agraciada que
tem sido com verbas federais.
Quanto ao MST, o loteamento da
máquina pública e o repasse de
recursos já haviam se encarregado de semear a subserviência.
Como afirmou o presidente da
CUT, "o Lula para nós é um símbolo". Ou, nas palavras do líder da
UNE, "não seremos ingênuos para permitir e apoiar a volta da direita". Topam reclamar da corrupção, mas não a ponto de arriscar suas benesses e conveniências,
protegidas pelo mito neo-rousseauniano do "bom operário".
Será que depois dos caras-pintadas vamos assistir ao surgimento da geração dos caras-de-pau?
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