São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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COMENTÁRIO

A hora dos caras-de-pau

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Não estivesse no poder um governo petista e as manifestações pelo impeachment do presidente há tempos estariam nas ruas -e por muito menos do que já se revelou. A capitaneá-las, os companheiros de sempre, com suas bandeiras e estrelas vermelhas.
Tratando-se, porém, de corrupção "de esquerda", os responsáveis pelas instâncias que instrumentalizam os chamados movimentos sociais desfraldam os pendões do oficialismo.
Após longo período de silêncio interrompido por imprecações contra a mídia mentirosa e o fantasma do "golpe" das elites, eis que se tornou impossível fingir que a roubalheira não existia. Então, o que fazer? A resposta foi imaginosa: promover uma manifestação contra a corrupção, mas, ao mesmo tempo, de apoio ao presidente. Foi o que um grupo de entidades, como a CUT, a UNE e o MST, fez ontem em Brasília.
A primeira é um aparelho controlado por uma elite sindical vergada -e fascinada- pelo poder, que, na figura do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, encarna o que se pode chamar de neopeleguismo. A UNE tem outros motivos, além das ligações políticas, para bajular Lula -agraciada que tem sido com verbas federais. Quanto ao MST, o loteamento da máquina pública e o repasse de recursos já haviam se encarregado de semear a subserviência.
Como afirmou o presidente da CUT, "o Lula para nós é um símbolo". Ou, nas palavras do líder da UNE, "não seremos ingênuos para permitir e apoiar a volta da direita". Topam reclamar da corrupção, mas não a ponto de arriscar suas benesses e conveniências, protegidas pelo mito neo-rousseauniano do "bom operário".
Será que depois dos caras-pintadas vamos assistir ao surgimento da geração dos caras-de-pau?


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