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Otavio Frias Filho
PT, a corrupção social-democrata
NO COMEÇO aparece
um movimento
operário, fruto da
industrialização ainda recente, que se organiza para
obter melhores salários e
condições de trabalho. Esse
movimento repele a política e hostiliza os políticos
profissionais. Conforme
ganha força, crescem suas
ambições e ele acaba por se
converter num partido.
Minoritário, aguerrido, o
partido abraça como bandeira o velho sonho de
transformar num só golpe
revolucionário a sociedade
inteira. À medida em que
ele cresce, passa a exercer o
poder em administrações
locais. Conhece a distância
que separa ideais e realidade. Torna-se flexível e moderado.
A moderação atrai votos,
apoios, dinheiro. Ela surge
como o caminho óbvio para
vencer resistências e chegar ao poder central. Quando isso acontece, o partido
antes radical já se tornou
parecido com os partidos
convencionais. Na escalada
para chegar ao governo e
permanecer nele, surgem
as alianças pragmáticas, o
financiamento ilegal, a corrupção generalizada.
Nos parágrafos acima está um resumo esquemático
da história da social-democracia na Europa. É também um resumo do que
aconteceu ao PT, até porque, sob aparências confusas, é ele o partido social-democrata brasileiro. Os
processos são semelhantes,
a diferença está no ritmo. O
que levou ao menos 80
anos para acontecer em
países mais adiantados,
aconteceu no Brasil em 20
anos.
Já se lamentou muito (e
com razão) que as coisas tenham se passado dessa forma. Mas não se ressaltou o
bastante o quanto esse desfecho contribui para o esclarecimento dos cidadãos.
Vai por terra a fantasia que
divide a política entre
"bons" e "maus".
Uma fantasia que pode
ser substituída pela crença,
igualmente ilusória, de que
"todos são ladrões". Mas
que também pode, ao ser
solapada, abrir caminho a
uma noção mais realista e
madura: a corrupção não
pode ser erradicada, mas
pode ser reduzida pelos
mecanismos de controle
democrático e pela opinião
pública.
É difícil opinar (e impossível provar) se nunca houve tanta corrupção como
agora ou se, ao contrário,
nunca tantos escândalos
foram revelados ao conhecimento público. O mais
provável é que as duas coisas sejam verdade.
As práticas de corrupção
que comprometeram a
imagem do governo Lula e
do PT não têm afetado os
atuais índices da candidatura presidencial nas pesquisas de opinião. Lula se
beneficia da profusão de escândalos que, embora atingindo em cheio sua administração e seus aliados, parece disseminada.
Beneficia-se também de
uma correlação famosa em
política: quanto pior o desempenho da economia,
mais os escândalos pesam
na decisão do eleitorado.
Crescimento medíocre, estabilidade de preços e
transferências de renda até
agora têm bastado para
neutralizar os danos eleitorais da corrupção petista.
OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação
da Folha
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