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ELEIÇÕES 2006 / MARANHÃO
Sarney é oposição pela 1ª vez em 40 anos
Roseana contrapõe força dos cargos federais no Estado à frente liderada pelo governador José Reinaldo Tavares (PSB)
Ex-aliado de Sarney, Tavares
apóia três candidatos para
governador; "quem tem
três candidatos não tem
nenhum", afirma Roseana
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUÍS (MA)
Pela primeira vez em 40
anos, a família Sarney disputa
uma eleição no Maranhão tendo contra ela a máquina do governo estadual, a maioria dos
prefeitos e da Assembléia. A
campanha começou com troca
de acusações de corrupção e de
desvio de verbas públicas entre
o grupo da senadora Roseana
Sarney (PFL) e os candidatos
apoiados pelo governador José
Reinaldo Tavares (PSB).
Cria política do ex-presidente José Sarney, Tavares rompeu com ele em 2004 e apóia
três candidaturas adversárias
de Roseana: a do ex-presidente
do STJ Edson Vidigal (PSB), a
de Jackson Lago (PDT) e a de
Aderson Lago, do PSDB. A senadora desdenha da aliança:
"Quem tem três candidatos não
tem nenhum". Com 63% das
intenções de voto na pesquisa
do Ibope em agosto, venceria a
eleição já no primeiro turno.
Mesmo fora do governo, o sobrenome Sarney simboliza o
poder no Estado. Deputado federal, quatro vezes senador, governador (1966-71) e presidente, José Sarney foi decisivo na
eleição de todos os governadores que o sucederam. Roseana
foi governadora de 1995 a 2002.
Ao se aliar a José Reinaldo
Tavares, que foi homem de
confiança de Sarney por 38
anos, a oposição perdeu a coerência do discurso. Tavares é
acusado de usar verbas públicas para favorecer prefeitos
aliados e discriminar os adversários. A mesma acusação existe contra a família Sarney em
relação aos programas federais.
O candidato do PSDB ao governo, Aderson Lago, diz que
continua de oposição, embora
seu partido tenha uma secretaria no governo. "Sou oposição
ao poder, e o poder no Maranhão tem CPF, endereço e se
chama José Sarney", afirma.
Ouvidos pela Folha, o governador e os três principais adversários de Roseana disseram
que os Sarney dominam o Tribunal de Contas do Estado, o
Tribunal de Justiça, os cargos
federais e sobretudo a mídia.
A família Sarney é proprietária da principal rede de TV (TV
Mirante, afiliada da Globo), do
principal jornal ("O Estado do
Maranhão") e da principal rede
de rádios, a Mirante. A segunda
maior emissora (Difusora, afiliada do SBT) é da família do
senador Edison Lobão (PFL),
coordenador da campanha de
Roseana. A Band local é de outro aliado, o ex-presidente da
Assembléia Manoel Ribeiro.
Há ainda o jornal "Veja Agora",
em São Luís, do cunhado de
Roseana, Ricardo Murad.
Segundo o pedetista Jackson
Lago, 53 dos 56 cargos federais
no Estado foram indicados pelos Sarney. A última indicação
foi em junho, com a posse de
Gerardo Freitas Fernandes,
primo de Manoel Ribeiro, na
superintendência regional do
Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes.
Roseana é acusada de usar o
programa Luz Para Todos, do
governo federal, para favorecer
prefeituras. O programa é administrado pelo Ministério de
Minas e Energia, cujo titular,
Silas Rondeau, foi indicado por
José Sarney. O diretor nacional
do Luz para Todos, José Ribamar Santana, é maranhense e
indicado por Sarney. O governador registrou denúncia no
Ministério Público Federal e se
queixou com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Roseana nega interferência
no programa, mas diz que ajuda os prefeitos enviando ofícios. "Nesse campo, o governador faz pior", diz ela, referindo-se ao uso de verbas públicas para favorecer aliados. O diretor
do Luz Para Todos, José Ribamar, contesta a acusação.
Convênios de Tavares
A balança de acusações de
uso indevido de recursos públicos é pesada tanto do lado da
candidata Roseana, quando do
lado do governador. Tavares assinou 1.323 convênios com prefeituras e com associações de
diversos municípios para repasses de verbas nos últimos
dez dias de junho. Nas cidades
em que o prefeito é aliado de
Roseana, ele entregou o dinheiro a associações ligadas a políticos de sua base aliada.
Em Mata Roma, a Associação
Comunitária Lidia Almeida, ligada ao deputado estadual Paulo Almeida Neto, do partido do
governador, recebeu R$ 101,7
mil para construção de abastecimento de água. A Folha conversou com a mãe do deputado,
Rosa Almeida, que diz ter deixado a presidência da entidade
no início do ano. Indagada sobre detalhes dos convênios,
disse: "Num sei, cumade". O
governador diz que não houve
irregularidade nos convênios.
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