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Falta estrutura ao STF, diz relator do mensalão
Segundo Joaquim Barbosa, tribunal não tem condição de conduzir ações penais
Ministro não revela o voto,
mas emite sinais de que na
próxima semana acolherá
ao menos parcialmente a
denúncia contra 40 pessoas
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Joaquim
Barbosa disse ontem que está
"dormindo e acordando com o
mensalão há meses" para preparar o voto sobre a abertura da
ação penal, com cerca de 400
páginas, que ele apresentará
aos colegas na próxima semana, na condição de relator desse
inquérito. Ele também criticou
a falta de estrutura do tribunal
para conduzir ações penais.
Barbosa não revelou o teor de
seu voto, mas deu sinais de que
acolherá ao menos parcialmente a denúncia criminal, em que
o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, acusa 40 pessoas de atuar
em organização criminosa que
pagava mesada a deputados em
troca de apoio ao governo.
O ministro disse que basta a
existência de indícios contra os
denunciados para a transformação do inquérito em processo, não sendo necessárias provas cabais, como ocorre no julgamento final. "É uma fase preliminar, só de indícios. Não se
está condenando ninguém. Esse é o entendimento mais aceito para esta fase", afirmou.
Ele declarou que não levará
em conta o risco de essa decisão
do STF representar um julgamento político do governo Lula, por causa do envolvimento
de petistas e ex-ministros, como José Dirceu -"não examino nada sob a ótica política"- e
que não se intimidará por ter
sido nomeado para o STF por
Lula: "Isso não interfere em nada. Sempre fui apolítico. Tenho
um interesse distantemente intelectual pela política".
Segundo o ministro, o julgamento do mensalão "será mais
intrincado" que o caso Collor,
em que o tribunal abriu ação
penal contra o ex-presidente
Fernando Collor, mas o absolveu no julgamento final por falta de provas. Isso por causa do
grande número de envolvidos e
de crimes em apuração.
Ele voltou a criticar o foro
privilegiado, pelo qual deputados, senadores, ministros de
Estado e presidente da República só podem ser julgados pelo STF. Ressaltou que tem
"oposição frontal" a esse privilégio e afirmou que o tribunal
não está preparado para conduzir ações penais: "O STF é estruturalmente despreparado
para isso. É concebido para julgar recursos de alta envergadura, não para apreciar minúcias
de processos penais, examinar
perícias e ouvir testemunhas".
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