São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Poderes mudam rotina para fugir de grampos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A paranóia dos grampos transformou a rotina dos três Poderes em Brasília. Varreduras antiescutas, divulgação de técnicas para evitar interceptações e construção de espaços imunes a microfones indesejáveis estão entre as medidas incorporadas ao cotidiano dos órgãos públicos da capital.
A Aeronáutica chegou a elaborar documento com recomendações expressas aos comandantes. A norma, em vigor desde 2005, diz que "é difícil calcular quantas organizações militares, indústrias e indivíduos são vítimas de vigilância clandestina". O comando determina o isolamento acústico de salas, a construção de outras "bloqueadas para emissão de radiofreqüência", inspeções em "espaços vazios que existem em paredes e rodapés", entre outras medidas.
No STF, a descoberta de "provável escuta" na sala do assessor-chefe do presidente Gilmar Mendes mudou a rotina da segurança. São feitas varreduras constantes no gabinete de Mendes e dos outros ministros.
O ministro Marco Aurélio Mello disse ter recebido semana passada denúncia de que um de seus números, do Rio, está grampeado. "Lamentável, mas não tenho o que temer", disse.

Legislativo
No Congresso, a neurose chegou ao ponto de o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, descartar varredura-geral por temer efeito contrário, ou seja, a instalação de escutas ocorrer durante o serviço. "Como não temos tempo para acompanhar esse tipo de atividade, precisaríamos ter uma equipe de absoluta confiança para prevenir, não nos grampear", disse ele. Com a explicação, o deputado Colbert Martins (PMDB-BA), que cobrou a varredura, disse: "Estamos mal, então, senhor presidente". Chinaglia concordou: "Parece brincadeira, mas não é".
A Polícia Legislativa faz varreduras periódicas no gabinete e na residência oficial do presidente. Os demais congressistas precisam fazer o pedido.
Partidos como PMDB e PP mantêm salas para conversas reservadas entre os deputados nas lideranças. Segundo as siglas, as saletas foram construídas para conversas particulares, mas hoje são mais uma arma contra os grampos.
Na liderança do PMDB, a sala tem isolamento acústico, duas cadeiras, ar-condicionado e uma linha telefônica. Não cabem mais do que duas pessoas. "É para uma conversa reservada. Jornalistas também usam quando querem uma conversa "off the record" [sem declarações atribuíveis ao interlocutor]", disse o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN).
O líder do PP, deputado Mário Negromonte (BA), também herdou uma dessas saletas. Ele disse que pensou em desfazê-las, mas mudou de idéia. "A maioria tem problemas com a esposa e a sala é uma espécie de consultório sentimental."
O líder do PR na Câmara, deputado Luciano Castro (RR), disse que tem evitado "ao máximo" falar ao telefone e que recomendou a interlocutores que não digam frases dúbias. "Dia desses um assessor ligou para dizer que a encomenda tinha chegado. Perguntei: "Que encomenda? Explica para quem mais estiver ouvindo saber"."
Presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), disse que reuniu os funcionários de seu gabinete para alertar sobre o risco de grampo: "Disse a eles que tenham absoluto cuidado com quem falam." (ALAN GRIPP e ANDREZA MATAIS)

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