|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Poderes mudam rotina para fugir de grampos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A paranóia dos grampos
transformou a rotina dos três
Poderes em Brasília. Varreduras antiescutas, divulgação de
técnicas para evitar interceptações e construção de espaços
imunes a microfones indesejáveis estão entre as medidas incorporadas ao cotidiano dos órgãos públicos da capital.
A Aeronáutica chegou a elaborar documento com recomendações expressas aos comandantes. A norma, em vigor
desde 2005, diz que "é difícil
calcular quantas organizações
militares, indústrias e indivíduos são vítimas de vigilância
clandestina". O comando determina o isolamento acústico
de salas, a construção de outras
"bloqueadas para emissão de
radiofreqüência", inspeções
em "espaços vazios que existem em paredes e rodapés", entre outras medidas.
No STF, a descoberta de
"provável escuta" na sala do assessor-chefe do presidente Gilmar Mendes mudou a rotina da
segurança. São feitas varreduras constantes no gabinete de
Mendes e dos outros ministros.
O ministro Marco Aurélio
Mello disse ter recebido semana passada denúncia de que um
de seus números, do Rio, está
grampeado. "Lamentável, mas
não tenho o que temer", disse.
Legislativo
No Congresso, a neurose
chegou ao ponto de o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, descartar varredura-geral
por temer efeito contrário, ou
seja, a instalação de escutas
ocorrer durante o serviço. "Como não temos tempo para
acompanhar esse tipo de atividade, precisaríamos ter uma
equipe de absoluta confiança
para prevenir, não nos grampear", disse ele. Com a explicação, o deputado Colbert Martins (PMDB-BA), que cobrou a
varredura, disse: "Estamos mal,
então, senhor presidente". Chinaglia concordou: "Parece
brincadeira, mas não é".
A Polícia Legislativa faz varreduras periódicas no gabinete
e na residência oficial do presidente. Os demais congressistas
precisam fazer o pedido.
Partidos como PMDB e PP
mantêm salas para conversas
reservadas entre os deputados
nas lideranças. Segundo as siglas, as saletas foram construídas para conversas particulares, mas hoje são mais uma arma contra os grampos.
Na liderança do PMDB, a sala
tem isolamento acústico, duas
cadeiras, ar-condicionado e
uma linha telefônica. Não cabem mais do que duas pessoas.
"É para uma conversa reservada. Jornalistas também usam
quando querem uma conversa
"off the record" [sem declarações atribuíveis ao interlocutor]", disse o líder do partido,
Henrique Eduardo Alves (RN).
O líder do PP, deputado Mário Negromonte (BA), também
herdou uma dessas saletas. Ele
disse que pensou em desfazê-las, mas mudou de idéia. "A
maioria tem problemas com a
esposa e a sala é uma espécie de
consultório sentimental."
O líder do PR na Câmara, deputado Luciano Castro (RR),
disse que tem evitado "ao máximo" falar ao telefone e que recomendou a interlocutores que
não digam frases dúbias. "Dia
desses um assessor ligou para
dizer que a encomenda tinha
chegado. Perguntei: "Que encomenda? Explica para quem
mais estiver ouvindo saber"."
Presidente da Comissão de
Segurança Pública da Câmara,
o deputado Raul Jungmann
(PPS-PE), disse que reuniu os
funcionários de seu gabinete
para alertar sobre o risco de
grampo: "Disse a eles que tenham absoluto cuidado com
quem falam."
(ALAN GRIPP e ANDREZA MATAIS)
Texto Anterior: PF tem maleta que faz escuta sem passar por operadoras Próximo Texto: Congresso em São Paulo discute futuro dos jornais no país Índice
|