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CAMPO MINADO
Dono pede reintegração de posse; comércio da cidade faz paralisação de uma hora contra as invasões
Sem-terra invadem outra área em Buritis
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BURITIS (MG)
Integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) em Buritis, no noroeste de
Minas Gerais, invadiram ontem
mais uma fazenda no município.
A fazenda Buritis, de 230 hectares, pertence ao presidente do sindicato rural do município, Délio
Prado Lopes, que já pediu reintegração de posse à Justiça.
A PM foi acionada, mas não
houve confronto.
Enquanto cem pessoas -principalmente mulheres e crianças- permaneceram na fazenda
Palmeiras, invadida na quinta-feira, cerca de 500 sem-terra foram
para a Buritis, a 3 km de lá.
A reportagem da Agência Folha
estava no acampamento da fazenda Palmeiras e foi obrigada a marchar com os sem-terra até a outra
fazenda, deixando carro e celulares. Lideranças do movimento
alegaram "questões de segurança", por temerem que a informação sobre a invasão "vazasse".
Durante a concentração para a
invasão, líderes puxaram gritos
de guerra e odes à reforma agrária. Um líder falava: "Para acabar
com o latifúndio". E os sem-terra
respondiam: "MST!".
"Ontem [anteontem] fomos
bem-sucedidos nas ações. Hoje
vamos ocupar mais um latifúndio", disse Luciano Monteiro, um
dos líderes do MST, ao grupo.
Anteontem, as duas agências
bancárias da cidade (Banco do
Brasil e Bradesco) foram invadidas por 280 sem-terra.
Furto
No discurso que antecedeu a invasão de ontem, um dos líderes
pediu aos sem-terra que devolvessem os uniformes de vigilantes
roubados da agência do Banco do
Brasil -incluindo cassetetes e
cartuchos de revólver calibre 38.
"Os furtos podem dar cadeia",
afirmou.
A agência do Banco do Brasil
não funcionou ontem -um cartaz na porta alegava "inoperância
do sistema". A agência do Bradesco abriu.
Ao contrário do que aconteceu
na fazenda Palmeiras, o MST não
permitiu que o gado que estava na
Buritis (cerca de 300 cabeças) fosse levado para outra área de pastagem, na mesma propriedade.
Segundo o tenente Valmir Vital,
do pelotão do Buritis, os sem-terra condicionaram a liberação do
gado ao atendimento, pelo Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), de sua
pauta de reivindicações.
O MST do noroeste mineiro reclama crédito para custeio da safra 2003-2004 (R$ 3.000 por família), desapropriação para o assentamento de 1.100 famílias acampadas e infra-estrutura nos assentamentos (escola, água e luz),
além de lonas e cestas básicas.
Representantes do Incra e da
Ouvidoria Agrária Nacional estiveram em Buritis na semana passada, mas não houve acordo.
Hoje, o juiz da Vara de Conflitos
Agrários de Minas Gerais, Cássio
Salomé, estará no município. Julgará o pedido de reintegração de
posse da fazenda Palmeiras.
A invasão de ontem aconteceu
no mesmo dia em que a Associação Comercial e o Sindicato Rural
de Buritis articularam uma paralisação de uma hora no comércio
da cidade, em repúdio às recentes
ações do MST na região.
Antes das 8h, um carro de som
percorria a cidade conclamando a
população a aderir ao protesto.
"Estamos de luto, pois nossa segurança, nossa tranquilidade e
nossa paz para trabalhar estão
sendo ameaçadas", dizia uma
gravação.
Faixas espalhadas pela cidade
exacerbavam o clima de confronto. Uma delas dizia: "A propriedade rural precisa ser respeitada".
A maioria das lojas da cidade fechou suas portas das 9h às 10h. Integrantes do MST atribuíram a
adesão de comerciantes à pressão
de fazendeiros.
O comerciante Martinho Caetano, dono de uma loja de pneus,
negou que tenha sido pressionado: "Já toleramos demais, já
aguentamos demais. Chegou um
ponto em que a gente tinha que
tomar alguma atitude".
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