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São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2003

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CAMPO MINADO

Dono pede reintegração de posse; comércio da cidade faz paralisação de uma hora contra as invasões

Sem-terra invadem outra área em Buritis

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BURITIS (MG)

Integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Buritis, no noroeste de Minas Gerais, invadiram ontem mais uma fazenda no município.
A fazenda Buritis, de 230 hectares, pertence ao presidente do sindicato rural do município, Délio Prado Lopes, que já pediu reintegração de posse à Justiça.
A PM foi acionada, mas não houve confronto.
Enquanto cem pessoas -principalmente mulheres e crianças- permaneceram na fazenda Palmeiras, invadida na quinta-feira, cerca de 500 sem-terra foram para a Buritis, a 3 km de lá.
A reportagem da Agência Folha estava no acampamento da fazenda Palmeiras e foi obrigada a marchar com os sem-terra até a outra fazenda, deixando carro e celulares. Lideranças do movimento alegaram "questões de segurança", por temerem que a informação sobre a invasão "vazasse".
Durante a concentração para a invasão, líderes puxaram gritos de guerra e odes à reforma agrária. Um líder falava: "Para acabar com o latifúndio". E os sem-terra respondiam: "MST!".
"Ontem [anteontem] fomos bem-sucedidos nas ações. Hoje vamos ocupar mais um latifúndio", disse Luciano Monteiro, um dos líderes do MST, ao grupo.
Anteontem, as duas agências bancárias da cidade (Banco do Brasil e Bradesco) foram invadidas por 280 sem-terra.

Furto
No discurso que antecedeu a invasão de ontem, um dos líderes pediu aos sem-terra que devolvessem os uniformes de vigilantes roubados da agência do Banco do Brasil -incluindo cassetetes e cartuchos de revólver calibre 38. "Os furtos podem dar cadeia", afirmou.
A agência do Banco do Brasil não funcionou ontem -um cartaz na porta alegava "inoperância do sistema". A agência do Bradesco abriu.
Ao contrário do que aconteceu na fazenda Palmeiras, o MST não permitiu que o gado que estava na Buritis (cerca de 300 cabeças) fosse levado para outra área de pastagem, na mesma propriedade.
Segundo o tenente Valmir Vital, do pelotão do Buritis, os sem-terra condicionaram a liberação do gado ao atendimento, pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), de sua pauta de reivindicações.
O MST do noroeste mineiro reclama crédito para custeio da safra 2003-2004 (R$ 3.000 por família), desapropriação para o assentamento de 1.100 famílias acampadas e infra-estrutura nos assentamentos (escola, água e luz), além de lonas e cestas básicas.
Representantes do Incra e da Ouvidoria Agrária Nacional estiveram em Buritis na semana passada, mas não houve acordo.
Hoje, o juiz da Vara de Conflitos Agrários de Minas Gerais, Cássio Salomé, estará no município. Julgará o pedido de reintegração de posse da fazenda Palmeiras.
A invasão de ontem aconteceu no mesmo dia em que a Associação Comercial e o Sindicato Rural de Buritis articularam uma paralisação de uma hora no comércio da cidade, em repúdio às recentes ações do MST na região.
Antes das 8h, um carro de som percorria a cidade conclamando a população a aderir ao protesto. "Estamos de luto, pois nossa segurança, nossa tranquilidade e nossa paz para trabalhar estão sendo ameaçadas", dizia uma gravação.
Faixas espalhadas pela cidade exacerbavam o clima de confronto. Uma delas dizia: "A propriedade rural precisa ser respeitada".
A maioria das lojas da cidade fechou suas portas das 9h às 10h. Integrantes do MST atribuíram a adesão de comerciantes à pressão de fazendeiros.
O comerciante Martinho Caetano, dono de uma loja de pneus, negou que tenha sido pressionado: "Já toleramos demais, já aguentamos demais. Chegou um ponto em que a gente tinha que tomar alguma atitude".


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