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ELIO GASPARI
A diplomacia de Lula é seu maior fracasso
Como diria o presidente, nunca na história deste
país tanta coisa deu tão errado em tão pouco tempo
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O CHAPÉU dado pelo companheiro Evo Morales na petrodiplomacia de "nosso guia" (expressão criada pelo ministro Celso Amorim), é o rubi da coroa da política externa petista. Houve setores do governo
onde os fracassos, como o Fome Zero,
conviveram com êxitos, como o Bolsa-Família. Só na diplomacia deu tudo errado. Pior: Lula e seus çábios encrencaram coisas que funcionavam direito. É
o caso das relações com a Bolívia, o
Uruguai e o Paraguai.
A diplomacia marqueteira disputou
as presidências da Organização Mundial do Comércio e do BID, assim como
reivindicou uma cadeira no Conselho
de Segurança da ONU. Pluft. Passados
quatro anos, ela briga no FMI para impedir que a China e o México tenham
mais peso nas decisões do Fundo Monetário Internacional. No Mercosul,
trocaram a ligação geográfica com o
Uruguai e o Paraguai pela conexão política com os delírios venezuelanos e a
agonia fidelista.
Nas negociações tarifárias globais,
"nosso guia" acreditou que abalaria o
protecionismo agrícola da Europa e
dos Estados Unidos. Chegou a dizer
que estava "muito perto" de um acordo. Pluft. O jogo virou, e os americanos
ameaçam tirar o Brasil do seu Sistema
Geral de Preferências, que favorece
15% das exportações nacionais para o
seu mercado. Diante da prensa, o chanceler Amorim apresentou-se numa cena coreográfica com a negociadora
americana Susan Schwab, como se fossem Fred Astaire e Ginger Rogers.
A diplomacia do espetáculo teve um
grande momento há poucos dias, quando a exaltação governista louvou a "capacidade convocatória" do Itamaraty.
Traduzindo: a política externa brasileira, como o PT, é forte porque faz reuniões. Os observadores da teatralidade
aprenderam a lidar com "nosso guia".
Franqueiam-lhe o palco e desossam-no nos bastidores. Os americanos consolidaram a aliança com o Chile, atraíram o Uruguai e engraçaram-se com o
Paraguai. Com toda calma, apertam os
cravelhos que favorecem seus interesses na América do Sul e no Brasil.
Como diria Lula, nunca na história
deste país tanta coisa deu tão errado
em tão pouco tempo. Afinal, no seu tenebroso estilo, ele disse o seguinte em
dezembro: "Imagine o que significa se
o Evo Morales ganhar as eleições na
Bolívia. São mudanças tão extraordinárias que nem mesmo nossos melhores
cientistas políticos poderiam escrever,
porque não tinha livros antecedentes
mostrando que isso seria possível".
Uma linda revolução, num grande livro
Saiu um livro de mestre. É
"O Império Derrotado - Revolução e Democracia em Portugal" do professor Kenneth ("A
Devassa da Devassa") Maxwell.
Conta o colapso da cinqüentenária ditadura colonialista
portuguesa e a sofrida construção da democracia. Muita gente não sabe e muita gente não
lembra, mas em abril de 1974
houve em Portugal uma revolução cuja senha foi uma canção e seu símbolo, uma flor. Isso mais a celebridade momentânea de um general que usava
capa e monóculo. Foi um golpe
militar saído do núcleo esquerdista que quase levou o país da
liberdade ao caos.
Maxwell conseguiu contar em
290 páginas uma história de três
continentes, indo de Lisboa a
Luanda e Washington com o absoluto domínio das fontes. Há
personagens endemoniados: de
um lado, capitães portugueses e,
do outro, a obsessão anticomunista do secretário de Estado
americano Henry Kissinger. O
professor mostra o perigo que representaram.
Um belo assunto, narrado
com a maestria dos grandes historiadores. Quem entra nas
suas páginas sente-se em Lisboa naqueles anos caóticos e
emocionantes. Presencia a
transformação do romantismo
em anarquia.
Demônio golpista
Durante jantar de plutocratas a que Lula compareceu na
quinta-feira, o empresário Eugenio Staub perguntou-lhe como pretendia fazer, durante
um segundo mandato, as reformas que julga necessárias.
"Nosso guia" respondeu:
"Staub, não acorde o demônio
que tem em mim, porque a vontade que dá é de fechar esse
Congresso e fazer o que é preciso". Segundo Lula, o próximo
Congresso será pior do que "esse que está aí", pois virá com
Paulo Maluf e Clodovil.
Expressando-se na sua língua franca, deixou mal a mãe de
pelo menos 20 notáveis nacionais. A proposta golpista do demônio que Lula carrega consigo foi contestada pelos inúmeros convidados que a ouviram.
Lula vê outro empecilho para
o êxito do seu projeto: a imprensa.
Nos últimos 50 anos, o coisa-ruim rondou três presidentes:
Jânio Quadros, João Goulart e
Costa e Silva. Nenhum deles
concluiu o mandato. (Castello
Branco e Ernesto Geisel fecharam o Congresso por poucas semanas.) Seja o que Deus quiser.
Voz rouca
Uma pessoa de péssima índole jura ter ouvido o seguinte
numa esquina da avenida Rio
Branco: "Lula de novo, com a
bolsa do povo".
Olho clínico
Quem entende de televisão
sugere a Lula que trate melhor
os choldra em suas aparições
no horário gratuito da televisão. Está professoral, agressivo
e dá a impressão de que está
com pressa. Numa palavra:
"metido".
Eu, Gabrielli
John D. Rockefeller, fundador da Standard Oil e o maior
magnata da história do petróleo, não se referia à empresa
usando o pronome "eu" com a
freqüência com que o companheiro Sérgio Gabrielli se confunde com a Petrobras.
Uma diferença: a Standard
Oil era de Rockefeller.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e vai a
Brasília propor ao presidente
do Banco Central sociedade
numa empresa de atendimento
aos consumidores. Ele se aborreceu ao perceber que na sua
agência da Caixa Econômica os
engenhos eletrônicos são desligados dez minutos antes do fim
do expediente e foi reclamar na
página da central de reclamações do BC. Recebeu a seguinte
resposta: "Informamos que foi
atingida nossa capacidade diária de atendimento. Esse limite
foi estabelecido para que possamos atender tempestivamente todas as demandas registradas. Por favor, tente novamente amanhã". O idiota pediu a sua amiga Natasha que
traduzisse. Ela garante que disseram o seguinte: "Como as reclamações são muitas, nosso
expediente já fechou". O sonho
do idiota é abrir um serviço de
atendimento que não atenda.
Votos das almas
Novas curiosidades das estatísticas eleitorais:
No município de Flores, em
Pernambuco, há 20.205 habitantes e 17.652 eleitores (85,4%
contra 67,3% no país). Como os
jovens de até 14 anos são 6.709,
há cerca de 4.000 defuntos alistados. Em Exu, terra de Luiz
Gonzaga e de memoráveis tiroteios, fazendo-se a mesma conta sobram algo como 30 mil votos de almas penadas.
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