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45% da cúpula do governo é sindicalizada
Pesquisa do CPDOC/FGV mostra que membros filiados a sindicatos ocupavam quase metade dos cargos de elite no poder
Vagas são as mais altas do
serviço público; estudo, que
levou em conta 1º governo
Lula, afirma que cerca de
19% eram filiados ao PT
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
Os cargos de confiança mais
altos no governo de Luiz Inácio
Lula da Silva são ocupados por
sindicalizados e filiados ao PT,
de acordo com dados da pesquisa "Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite
do poder", coordenada por Maria Celina D'Araújo, do CPDOC
(Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV.
"Você tem ainda uma superposição: parte dos petistas é
também sindicalizada. É uma
malha associativa muito forte",
diz a pesquisadora.
A amostra da pesquisa levou
em conta os cargos DAS 5, DAS
6 (Direção e Assessoramento
Superior) e NE (Natureza Especial), que são os mais altos no
serviço público. "A população
brasileira tem em torno de 14%
de sindicalizados. Na nossa
amostra, a gente tem 45%. É
muito diferente da realidade
brasileira", diz. "Nós pegamos
os níveis 5 e 6, que são cargos de
direção. Acho que, se olhar
mais para baixo, a tendência é
até ter mais militantes e sindicalizados. A nossa amostra é
uma elite que requer especialização técnica", complementa.
Segundo a pesquisa, cerca de
25% tinham filiação partidária:
19,90% eram filiados ao PT, e
5%, a outros partidos. O estudo
mostra que a maior parte dos filiados vem do serviço público
estadual e municipal. Informações do próprio PT dão conta
de que, ao todo, são 5.000 filiados que ocupam cargos comissionados no governo Lula.
"Os filiados são, em sua
maior parte, "outsiders" da esfera pública", diz o texto da pesquisa, segundo o qual os indicadores de "associativismo" também impressionam. "Um total
de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social,
31,8% declaram ter pertencido
a conselhos gestores e 23,8%, a
experiência de gestão local.
Apenas 5% pertenceram a associação patronais."
Profissionalização
Outro ponto que chamou a
atenção foi o fato de a área econômica ter o maior número de
servidores com experiência anterior (27%). Na área da saúde,
o número fica em 14,55%, na
social, em 19,12%, e na de educação, em 13,93%. "O que a gente observa é que a área econômica é a mais profissionalizada", comenta. "Quando a gente
vai ver as áreas onde há maior
concentração de pessoas sem
experiência, sem currículo anterior e com maior militância é
na área de saúde e nas áreas sociais. É muito a cara do Brasil,
uma cara que se repete."
O estudo faz questão de ressaltar que "nada disso permite
conclusões retumbantes, apenas aferir que, de fato, a tese
que insiste num forte vínculo
sindical, social e partidário está
correta". Para D'Araújo, a alta
participação de sindicalistas e
filiados ao PT pode ser vista como democratização, "porque
significa que a sociedade está
participando do governo", mas
também pode ser analisada como se a "sociedade organizada
estivesse sendo cooptada pelo
governo".
Mesmo assim, diz ser preciso
olhar com cuidado a possibilidade de movimentos sociais serem controlados pelo Estado.
"Isso acontece em outros países, Venezuela, Bolívia. Tem sido um recurso bastante usado
por governos de recorte popular e pode ter custo para a democracia também, porque você
tira autonomia, independência
desses movimentos."
A professora, que é autora do
livro "O Estado Novo", explica
que uma participação tão intensa de sindicalistas é inédita.
"Getúlio nem pensar. João
Goulart não era sindicalista. O
primeiro sindicalista no ministério foi o [ex-ministro do Trabalho Antonio] Rogério Magri,
no governo Collor", lembra.
"Estou falando de gente que
vem do chão da fábrica e depois
faz carreira no escritório do
sindicato. Agora, temos vários.
Não necessariamente vêm do
chão da fábrica, porque não são
operários braçais, mas vêm do
"chão do banco", são bancários.
Por exemplo, o [Ricardo] Berzoini foi ministro."
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