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Para procurador, ex-banqueiro "teve deslize esperado há 7 anos'
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-banqueiro Salvatore
Cacciola foi preso em Mônaco
após deslize esperado há sete
anos pelo Ministério Público
Federal, que apostou na estratégia de monitorá-lo à distância
e tentar detê-lo quando saísse
da Itália -onde tem cidadania- com o auxílio da Interpol.
A detenção aconteceu porque o principado mantém rigoroso controle de fronteiras e, ao
checar os dados de Cacciola,
identificou um "alerta de difusão vermelha" da Interpol,
apontando-o como foragido.
"Ele teve um deslize. Era o
que esperávamos que acontecesse. Trabalho policial é assim: tenta-se dez vezes e uma
dá certo. Ficamos sempre trabalhando, insistindo, e a Interpol no Brasil nos apoiou muito", disse o procurador regional
da República Artur Gueiros,
desde o início no caso, ao lado
dos procuradores Raquel Branquinho e Bruno Acioli.
Gueiros reconhece as dificuldades da extradição -"não é
uma coisa certa"-, mas espera
ver Cacciola transferido para o
Brasil. Caso o pedido feito pelo
governo brasileiro ao de Mônaco seja negado, o ex-banqueiro
será solto. "Se isso ocorrer, começaremos tudo de novo."
Embora solto, o ex-banqueiro foi durante todo o período
monitorado pelo serviço de inteligência da Itália, que mantinha contato e troca de informações com a Interpol no Brasil.
"A expectativa é que o governo envie o pedido de extradição
o quanto antes. É importante
demonstrar que a sociedade
não tolera mais tanta corrupção nem agüenta a impunidade
dos poderosos. Foi prejuízo de
R$ 1,05 bilhão nunca reparado:
o dano de um crime de colarinho branco é muito maior do
que um crime de sangue."
Briga difícil
O procurador afirmou que o
fato de Mônaco não ter tratado
de extradição com o Brasil não
inviabiliza o procedimento,
porque a transferência pode ser
pedida "sob promessa de reciprocidade" futura -o que é
normalmente aceito, disse.
"É uma briga difícil, não é
coisa certa. Todo pedido pode
ser aceito ou não. O fato de Cacciola ser cidadão da comunidade européia pode dificultar o
caso. Ainda não há certeza",
disse Gueiros, que é autor de
um livro sobre extradições
-"As Novas Tendências do Direito Extradicional (ed. Renovar)- e um sobre transferências -"Presos estrangeiros no
Brasil" (ed. Lumen Juris).
Segundo o procurador, o
MPF optou por não pedir a prisão do ex-banqueiro na Itália
por se tratar de processo complexo, de grande repercussão
no Brasil. Para ele, é importante que Cacciola seja preso aqui.
Não será a primeira vez que o
Brasil pedirá a extradição de
Cacciola, que fugiu do país em
2000, após receber liminar do
ministro do Supremo Tribunal
Federal Marco Aurélio Mello
-revogada em seguida. Pouco
tempo depois de se descobrir o
paradeiro do ex-banqueiro, o
governo teve o pedido negado
pela Itália, que alegou o fato de
ele ter a cidadania italiana.
O Tribunal Regional Federal
do Rio deve julgar nas próximas
semanas apelações no processo
de Cacciola, condenado em primeira instância a 13 anos de
prisão em regime fechado.
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