São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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Para procurador, ex-banqueiro "teve deslize esperado há 7 anos'

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-banqueiro Salvatore Cacciola foi preso em Mônaco após deslize esperado há sete anos pelo Ministério Público Federal, que apostou na estratégia de monitorá-lo à distância e tentar detê-lo quando saísse da Itália -onde tem cidadania- com o auxílio da Interpol.
A detenção aconteceu porque o principado mantém rigoroso controle de fronteiras e, ao checar os dados de Cacciola, identificou um "alerta de difusão vermelha" da Interpol, apontando-o como foragido.
"Ele teve um deslize. Era o que esperávamos que acontecesse. Trabalho policial é assim: tenta-se dez vezes e uma dá certo. Ficamos sempre trabalhando, insistindo, e a Interpol no Brasil nos apoiou muito", disse o procurador regional da República Artur Gueiros, desde o início no caso, ao lado dos procuradores Raquel Branquinho e Bruno Acioli.
Gueiros reconhece as dificuldades da extradição -"não é uma coisa certa"-, mas espera ver Cacciola transferido para o Brasil. Caso o pedido feito pelo governo brasileiro ao de Mônaco seja negado, o ex-banqueiro será solto. "Se isso ocorrer, começaremos tudo de novo."
Embora solto, o ex-banqueiro foi durante todo o período monitorado pelo serviço de inteligência da Itália, que mantinha contato e troca de informações com a Interpol no Brasil.
"A expectativa é que o governo envie o pedido de extradição o quanto antes. É importante demonstrar que a sociedade não tolera mais tanta corrupção nem agüenta a impunidade dos poderosos. Foi prejuízo de R$ 1,05 bilhão nunca reparado: o dano de um crime de colarinho branco é muito maior do que um crime de sangue."

Briga difícil
O procurador afirmou que o fato de Mônaco não ter tratado de extradição com o Brasil não inviabiliza o procedimento, porque a transferência pode ser pedida "sob promessa de reciprocidade" futura -o que é normalmente aceito, disse.
"É uma briga difícil, não é coisa certa. Todo pedido pode ser aceito ou não. O fato de Cacciola ser cidadão da comunidade européia pode dificultar o caso. Ainda não há certeza", disse Gueiros, que é autor de um livro sobre extradições -"As Novas Tendências do Direito Extradicional (ed. Renovar)- e um sobre transferências -"Presos estrangeiros no Brasil" (ed. Lumen Juris).
Segundo o procurador, o MPF optou por não pedir a prisão do ex-banqueiro na Itália por se tratar de processo complexo, de grande repercussão no Brasil. Para ele, é importante que Cacciola seja preso aqui.
Não será a primeira vez que o Brasil pedirá a extradição de Cacciola, que fugiu do país em 2000, após receber liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello -revogada em seguida. Pouco tempo depois de se descobrir o paradeiro do ex-banqueiro, o governo teve o pedido negado pela Itália, que alegou o fato de ele ter a cidadania italiana.
O Tribunal Regional Federal do Rio deve julgar nas próximas semanas apelações no processo de Cacciola, condenado em primeira instância a 13 anos de prisão em regime fechado.


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