São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Diretor-geral da PF prende seu principal subordinado

Suspeito de beneficiar irmão com informações, Romero Menezes nega irregularidades

Ministério Público Federal pediu a prisão do número 2 da PF em conseqüência da Operação Toque de Midas, que investiga o grupo EBX


Valter Campanato - 25.out.2006/ABr
O delegado Romero Menezes, que colocou o cargo à disposição

LEONARDO SOUZA
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal prendeu ontem o diretor-executivo da própria corporação, o delegado Romero Menezes, suspeito de beneficiar o irmão com informações privilegiadas. Ele recebeu voz de prisão dentro do edifício-sede da PF, em Brasília, pelo diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa.
A prisão temporária do número dois da PF foi pedida pelo Ministério Público Federal do Amapá, num desdobramento da Operação Toque de Midas, que investiga a participação do grupo EBX, do empresário Eike Batista, num suposto esquema de fraudes em licitações de estradas de ferro no Amapá.
A Procuradoria apura se Romero vazou informações da operação, deflagrada em julho, quatro dias após a prisão de Daniel Dantas na Satiagraha. Por causa da suspeita de vazamento, a Toque de Midas foi antecipada. Além de Romero, o Ministério Público também pediu prisões temporárias, concedidas pelo juiz Anselmo Gonçalves da Silva (da 1ª Vara Federal de Macapá), do irmão dele, José Gomes de Menezes Júnior, e de Renato Camargo dos Santos, diretor da MMX, empresa subsidiária da EBX. Eles são suspeitos de incorrer nos crimes de advocacia administrativa, corrupção passiva privilegiada e tráfico de influência.
Os pedidos de prisão temporária (de cinco dias) seriam, sobretudo, para evitar que Romero pudesse de alguma forma prejudicar as investigações.
Menezes Júnior tem uma empresa de limpeza e conservação contratada do grupo EBX. Ele planejava prestar também serviços de segurança privada. Quem normatiza e concede autorização para a atuação de empresa de segurança privada é a PF. Segundo a Folha apurou, Menezes Júnior teve conversas gravadas na operação nas quais se referia ao irmão como alguém que poderia resolver os problemas de sua empresa e de seus clientes.
Nenhuma conversa de Romero teria sido interceptada.
Uma das suspeitas do Ministério Público é que Romero teria tentado exercer influência na Comportos (Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos) em benefício do irmão. O órgão é responsável por regulamentar a segurança portuária e é ligado à Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), que até 2007 era dirigida por Corrêa, antes de assumir a direção geral da PF.
A PF cumpriu mandados de busca e apreensão na sala de Romero na sede da PF, em sua casa e na Senasp. Às 9h50, Corrêa, ao lado dos diretores Daniel Lorenz (Inteligência) e Roberto Troncon (Combate ao Crime Organizado), informou Romero do mandado de prisão.
Numa conversa tensa, Romero negou participação em irregularidade e colocou o cargo à disposição, o que foi aceito. À tarde, constrangidos, Troncon e Anderson Rui Fontel, superintendente da PF no Amapá, deram entrevista, mas não detalharam a investigação.
"A PF tem atuado com vigor e imparcialidade em todos os momentos, principalmente nos difíceis, como esse", disse Troncon, negando que a prisão vá manchar a imagem da instituição. "No entender da PF, não seria necessária [a prisão].
Mas Justiça e Ministério Público entenderam [que sim]." Além do inquérito na PF, haverá processo administrativo disciplinar, que pode resultar na demissão de Romero.
Em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros membros do governo, o ministro Tarso Genro (Justiça) relatou que a PF estava contrariada com a prisão. Segundo a versão de Corrêa, transmitida por Tarso, era o caso de investigação interna, não de prisão.


Colaborou KENNEDY ALENCAR , da Sucursal de Brasília


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