São Paulo, quinta-feira, 17 de setembro de 2009

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Lacuna em currículo e ligação com PT tornam indicação polêmica

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Quando se pergunta aos amigos de José Antonio Dias Toffoli quais são suas principais qualidades, invariavelmente as respostas versam ou sobre sua fama de bom moço, seja pela formação católica, seja pelo apego à família, ou sobre sua militância como advogado de causas sociais ou eleitorais.
Ninguém o vê como um jurista de expressão, e é essa lacuna em seu currículo, aliada à proximidade ao presidente e ao PT, que tornam sua indicação para o Supremo Tribunal Federal a mais polêmica da era Lula.
Toffoli se formou pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1990, aos 23 anos. Ele conta que trabalhou como caixa na Oficina de Pizzas, em São Paulo, na época de estudante, para se manter.
Ele não fez mestrado ou doutorado e foi reprovado em dois concursos para juiz estadual, em 1994 e 1995.
Formado, começou a militar nos movimentos populares, notadamente o de moradia. Foi nessa época que se aproximou do PT, e foi pelas mãos de Arlindo Chinaglia, então deputado estadual, que virou assessor jurídico da bancada, primeiro na Assembleia Legislativa, depois na Câmara. À época, promoveu várias ações diretas de inconstitucionalidade no STF contra medidas do governo Fernando Henrique Cardoso.
A atuação o aproximou de José Dirceu e de Lula. Foi advogado em três campanhas presidenciais. Em 1998, não era o principal advogado, mas assumiu a função em 2002 e 2006.
Ele foi subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil na era José Dirceu, e pediu demissão tão logo Dilma Rousseff assumiu. De volta à banca privada, foi contratado por Lula para defendê-lo na campanha reeleitoral, e recebeu honorários na casa de R$ 1 milhão.
Foi nesse período que comprou a confortável casa em que mora no Lago Norte, onde faz churrascos e partidas de futebol que reúnem a nata política e jurídica de Brasília. Um tanto tímido nos compromissos oficiais, Toffoli é descrito como brincalhão e informal no trato com os subordinados na AGU.
Palmeirense fanático, costuma defender o time que é também o da preferência da maioria dos oito irmãos. Sua devoção à família é outro dos predicados mais mencionados pelos que convivem com ele. Toffoli cuida de um irmão mais novo, portador de síndrome de Down, tem outro irmão padre e sempre costuma se referir à formação católica que recebeu.
A despeito disso, contrariou a igreja ao defender no STF a liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias, deu parecer favorável a que o casal possa decidir pelo aborto em caso de feto anencéfalo e à união civil homossexual.
Tem uma filha, é divorciado e namora uma advogada. Seus hobbies incluem shows de MPB, um decantado conhecimento sobre vinhos e uma coleção de mais de 15 diferentes armações de óculos de grau.
Aos 41 anos, Toffoli chega ao STF depois de ter sido cotado sucessivas vezes nos últimos dois anos.
Para se contrapor às lacunas em seu currículo, ele costuma citar o apoio interno que construiu depois de ter chegado ao órgão sob contestação por não ser concursado. Seu maior feito teria sido devolver aos cofres públicos um montante de quase R$ 500 bilhões desde 2007.


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