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Para Lula, débito de Estados financiará casas
Como reduzir a pobreza por meio
de programas sociais se, ao menos
no início do governo, haverá sérias
restrições orçamentárias? O sr. pretende, por exemplo, transferir gastos da aposentadoria dos servidores públicos para outros programas, como o Bolsa-Escola?
As políticas compensatórias são
necessárias para salvar vidas e dar
dignidade às pessoas. Mas é fundamental combater as causas da
exclusão por meio de políticas estruturais: geração de emprego e
de renda, reforma agrária, políticas para a agricultura familiar e
recuperação do salário mínimo.
O governo Lula não pretende
reduzir a pobreza por meio de políticas compensatórias, mas por
meio de uma mudança do atual
modelo econômico, promovendo
a retomada do crescimento para
gerar empregos e uma melhor
distribuição de renda.
Os programas chamados compensatórios estão, hoje, repartidos entre distintas instituições governamentais. Em sua maioria,
são dirigidos ao mesmo público
alvo. A primeira questão, portanto, diz respeito à fragmentação
institucional, à superposição e à
correlata pulverização dos recursos públicos. Para enfrentar esse
problema, que agrava a escassez
de recursos, colocaremos em ação
uma nova concepção de gestão
administrativa intersetorial,
criando o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que
terá como atribuição coordenar,
definir metas e desenhar instrumentos de incentivos para a estratégia de inclusão social.
Vamos, em primeiro lugar, introduzir uma maior racionalidade no gasto público, dirigindo-o
para a geração de empregos, provocando assim maior impacto sobre os níveis de pobreza. Em segundo lugar, vamos deixar claro
que os programas de combate à
pobreza não são meras políticas
compensatórias, mas direitos de
cidadania, e serão ampliados para
as pessoas em situação vulnerável, começando pelo combate à
fome. O programa Fome Zero será uma das prioridades do governo Lula. Em terceiro lugar, vamos
redefinir prioridades nos gastos
públicos. Isso não implica a transferência de gastos da rubrica dos
aposentados para o programa
Bolsa-Escola, pois há outras formas de obter os recursos adicionais necessários como, por exemplo, ampliar a captação de recursos para o Fundo de Combate à
Pobreza, hoje existente.
Os candidatos têm destacado em
seus programas que obras de saneamento básico e de construção
civil podem estimular a criação de
empregos para os trabalhadores
menos qualificados (e mais pobres)
com custos relativamente baixos.
O sr. pretende estimular tais programas com investimento público?
Com estímulos fiscais (renúncia de
tributação)? Pretende estimular a
privatização do saneamento básico? Como vai estimular a concessão
de crédito para a habitação?
O déficit habitacional do país é de
6,5 milhões de unidades. Desse
total, 83% referem-se ao déficit de
moradia das famílias de renda inferior a três salários mínimos.
O saneamento persegue o mesmo destino trágico. A água não
esta disponível para 22% das casas -38 milhões de pessoas. As
redes coletoras de esgoto não chegam a 53% dos domicílios.
A construção civil responde por
15% do PIB. Cada R$ 1 milhão
aplicado no setor é capaz de gerar
65 novos empregos. Investir em
habitação e saneamento, portanto, trará como efeito não só a necessária geração de novos empregos na construção civil, mas o
atendimento ao preceito constitucional de que cada brasileiro tem
direito a uma moradia digna e a
condições de saúde.
Recursos existem. O FGTS tem
disponibilidade de R$ 25 bilhões.
Recebe, em pagamento de operações realizadas no passado, R$ 5
bilhões por ano. Só no exercício
de 2001 auferiu receitas financeiras da ordem de R$ 3 bilhões, projetando, para 2002, R$ 5 bilhões.
De 1994 a 2001, as empresas públicas de saneamento pagaram ao
FGTS R$ 12,2 bilhões. No mesmo
período, só R$ 2,7 bilhões foram
aplicados em novas obras. O
FGTS pode investir até R$ 5 bilhões anuais em saneamento e habitação. Para atender às famílias
de baixa renda, o Projeto Moradia, que integra o programa de
Lula, prevê a instituição de uma
política de subsídios, a partir de
recursos fiscais, aplicada em conjunto com os recursos do FGTS.
Os recursos fiscais serão provenientes dos pagamentos efetuados por Estados e municípios pela
dívida rolada com a União (lei
8.727). No saneamento, além da
recuperação das empresas públicas, a iniciativa privada deverá colaborar na expansão dos serviços
de água e esgotos.
José Graziano da Silva, assessor da
campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, é
professor de Economia da Unicamp e
respondeu à questão número um.
André Luiz de Souza é coordenador temático do Projeto Moradia, elaborado
pelo Instituto Cidadania e incorporado
ao programa de Luiz Inácio Lula da Silva,
e respondeu à segunda questão.
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