São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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BRASIL

Com 33,6% dos votos no país, partido de Lula e da base federal tiveram mais votos em 15 dos 26 Estados; aliança PSDB-PFL vem logo atrás

PT e aliados estabelecem juntos força nacional

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Somados os votos do primeiro turno das eleições municipais, o grupo formado pelo PT e seus mais fiéis seguidores no plano federal (PL, PTB, PSB e PC do B) recebeu mais votos em 15 dos 26 Estados brasileiros na comparação com outras forças políticas.
Não foram vitórias fáceis. Em alguns Estados, como São Paulo, há quase um empate com a segunda força nacional, formada por PSDB e PFL.
A Folha montou uma tabela e um mapa que mostram o desempenho estadual de cada um dos agrupamentos que tendem a ter objetivos nacionais eleitorais comuns em 2006. O resultado está nesta página. As dúvidas de sempre permanecem para a sucessão presidencial:
1) Quais serão os destinos do PMDB e do PP, esse último um partido em decadência e dono de um espólio considerável?
2) Quem exatamente estará com o PT no projeto de reeleger Luiz Inácio Lula da Silva? Também continua incerto o rumo da possível associação entre PPS e PDT, que já tem quase o tamanho de um PMDB.
Os números do primeiro turno também ajudam a desmontar a tese, difundida de tempos em tempos, de que os partidos nanicos estão crescendo.
Há siglas que aumentaram o número de eleitos, mas em termos de votação total, os nanicos continuam mais ou menos onde sempre estiveram. Em 2000, receberam 3,89% dos votos para prefeito. Neste ano, tiveram 3,71%.
Outro dado a ser medido é o peso de algumas figuras de destaque em cada sigla. No PFL, por exemplo, o prefeito reeleito do Rio, Cesar Maia, sozinho, é responsável por 15,4% de todos os votos do partido para prefeito no país.
A seguir, um relato do que pode ser depreendido desses números e o que eles sugerem para 2006 -sempre com a ressalva de que ainda faltam dois anos para a sucessão presidencial e para as eleições de governadores de Estado.

PT e seus seguidores
Juntos, o PT e seus mais fiéis seguidores tiveram 33,6% dos votos para prefeito em todo o país. É pouco se comparado ao que teve Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno de 2002 -46,44% dos votos válidos.
Ainda assim, é notável que o grupo de partidos governistas tenha ficado à frente em 15 dos 26 Estados na eleição para prefeitos. Não há partidos grandes na simulação de aliança lulista apresentada nesta página. O PMDB está fora, assim como o PPS, que ensaia se descolar do governo antes de 2006, ano de eleição.
Do jeito que as forças partidárias estão dispostas, só em dois Estados periféricos existe uma hegemonia completa, com os governistas ficando com mais de 50% dos votos: Acre e Amapá.
Há duas leituras a respeito de ter hegemonia no Acre e no Amapá. A primeira é que são Estados periféricos e sem relevância política nacional (juntos, tiveram nesta eleição só 0,59% dos votos do país). A segunda interpretação é que essas duas unidades da Federação elegem três senadores e oito deputados cada uma. São congressistas que ajudam a dar sustentabilidade ao futuro governo.
Nessa força partidária governista, o destaque eleitoral maior fica com a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Mesmo em segundo lugar na disputa paulistana, a petista respondeu por 13,53% dos votos para prefeito que o PT recebeu em todo o país.

O fator PSB
Incluído na simulação como força governista fiel, o PSB teve só 4,7% dos votos para prefeito. Ainda assim, se retirado do grupo lulista, faz uma grande diferença.
Sem o PSB os governistas perdem a primeira colocação em cinco Estados: Alagoas, Espírito Santos, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.
O PSB teve Anthony Garotinho (hoje no PMDB) como candidato a presidente em 2002. Hoje, tem um ministro de Estado -Eduardo Campos, na Ciência e Tecnologia- e apóia o Planalto. Não é possível saber se entrará no projeto de reeleição do presidente, mas vários de seus integrantes certamente são anti-PT.
São os casos de Luiza Erundina em São Paulo e William Dib, esse último prefeito reeleito de São Bernardo do Campo (SP). Também é a mesma situação do candidato do PSB derrotado a prefeito de Belo Horizonte, João Leite.

Oposição certa
De todos os 27 partidos brasileiros, apenas dois entre os maiores têm suas direções nacionais francamente contra a administração federal petista: PSDB e PFL.
Esse binômio pefelê-tucano deu oito anos de mandato presidencial para Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Agora, é o que mais se aproxima dos lulistas em termos de desempenho eleitoral. No primeiro turno, seus candidatos a prefeito tiveram 28,4% dos votos válidos.
Tucanos e pefelistas foram os campeões em sete Estados neste ano. Pode parecer pouco, mas o número deve ser relativizado porque em vários locais a dupla PSDB-PFL ficou quase empatada com os governistas.
É o caso do Estado de São Paulo. O PT e seu grupo tiveram 37,63% dos votos, contra 37,54% de PSDB-PFL.
Esse quase empate se repete no Rio de Janeiro, onde os governistas registraram 31,21%, contra 28,91% de tucanos e pefelistas.
Também é perceptível uma espécie de troca de guarda no PFL. Em 2000, o partido era comandado por um campeão de votos: o senador Antonio Carlos Magalhães. Os votos de candidatos a prefeito pefelistas na Bahia responderam por 15,1% da sigla em todo o país. Neste ano, 17,9%.
Ocorre que o reinado de ACM caiu para a segunda colocação. Os pefelistas fluminenses, sob o comando de Cesar Maia, foram responsáveis por expressivos 19,4% dos votos do PFL no país.
Reeleito prefeito do Rio no primeiro turno, Cesar Maia, sozinho, é o dono de 15,4% dos votos de sua sigla nacionalmente.
Entre os tucanos, vale registro para o desempenho de José Serra. Sua votação no último dia 3 representou 17,06% do total que os candidatos a prefeito do PSDB receberam em todo o Brasil.

PMDB e PP à deriva
Herdeiros diretos da Aliança Renovadora Nacional (Arena, partido de sustentação da ditadura militar de 1964 a 1985) e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o PP e o PMDB, respectivamente, são siglas à caça de um objetivo. Sem candidato a presidente da República em 2002, encolhem a cada pleito.
O PMDB teve nesta eleição uma votação de respeito: 14,97% dos votos válidos. Ocorre que 14,87% disso veio dos seus candidatos em cidades do Estado do Rio de Janeiro, onde a sigla está nas mãos de Anthony Garotinho.
Só para comparar, em 2000 o PMDB penou nas disputas municipais fluminenses: teve 656.409 votos, meros 8,46% do Estado. No último dia 3, o PMDB sob Garotinho recebeu 2.118.510 votos para seus candidatos a prefeito -ou 25,25% dos votos válidos.
Em resumo, o PMDB é Garotinho-dependente no que diz respeito a ter um nome de alguma projeção nacional.
Já o PP amarga uma situação delicada. Só teve 6,41% dos votos para prefeito no país, sendo que Paulo Maluf responde por 12,04% do total da agremiação.
No plano federal, o PP não tem senadores. Sua bancada de deputados vive de coletar as migalhas que escorregam do Palácio do Planalto. Esse processo de decadência se agravará em 2006, caso a sigla não consiga se renovar.

PPS e PDT ensaiam aliança
Siglas dormitório nos últimos tempos, pois nunca davam trabalho de fato em eleições presidenciais, PPS (ex-PCB) e PDT (agora sem Leonel Brizola, morto neste ano) ensaiam uma fusão. Se for concretizada, começa com 11,05% dos votos para prefeito em todo o país. É quase um PMDB sem Anthony Garotinho.
A dupla PPS-PDT já ostenta, neste ano, o maior número de votos em Pernambuco e em Roraima. Juntos, esses dois partidos podem ser o fiel da balança numa eventual aliança para a disputa presidencial de 2006.

Nanicos
O grupo mais tradicional de micropartidos se manteve quase no mesmo lugar. Eram 15 partidos em 2000 e receberam 3,89% dos votos para prefeito -exceto o Prona. Neste ano, 3,71%.
As siglas maiores engoliram três nanicos, mas não cresceram nada com isso. Aparentemente, existe uma parcela do eleitorado -de 3,5% a 4%- que deseja votar em partidos desconhecidos.
Os números da eleição mostram também que a ribalta durou pouco para o Prona, de Enéas Carneiro. A sigla teve 0,28% dos votos para prefeito em 2000 no país. Neste ano, só 0,23%.
Uma exceção entre os pequenos é o PV. Cresce a cada eleição: saiu de 0,76% dos votos em 2000 para 1,43% agora.
Há também os três nanicos radicais de esquerda: PSTU, PCO e PCB. Em 2000, tiveram 0,14% dos votos. Neste ano, subiram para 0,26%. Em breve, terão a ajuda do P-SOL, partido de ultra-equerda que está sendo montado pela senadora Heloísa Helena (AL).


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