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ELIO GASPARI
Boa notícia: o eleitor cobrará pedágio
José Serra terá que
decidir qual será o
custo político da fúria arrecadadora tucana
O TUCANO É UM animal estranho. Quando se discorda dele, repete a explicação. Afinal, se alguém ousa divergir, deve ter
entendido mal.
Na semana passada, a empresa espanhola OHL arrematou cinco estradas federais num leilão de resultados surpreendentes. A concessão
das rodovias saiu por cerca da metade do teto que a União aceitava. O
tucanato odiou esse desfecho.
Dois hierarcas da equipe do governador José Serra criticaram o modelo seguido por Nosso Guia e previram o Apocalipse rodoviário. Carlos
Dória, da Agência de Transporte do
Estado, indicou que leiloará cinco
estradas paulistas seguindo o tradicional modelo dos anos 90.
A principal diferença entre os dois
métodos está nas luvas que São Paulo exige e o governo federal dispensa. Os tucanos que condenam esse
caminho e o atribuem a Lula não fizeram a lição de casa ou, o que é mais
comum, acham que os outros são
bobos. Nosso Guia fez exatamente a
mesma coisa que FFHH. Entre 1995
e 1997, o tucanato federal leiloou
cinco concessões, entre as quais estavam a ponte Rio-Niterói e a Dutra.
Foram ao martelo sem um ceitil de
luvas.
Nunca será demais repetir que, se
um cidadão viajar de Belo Horizonte
para São Paulo, pagará à OHL R$
1,42 para cada 100 quilômetros. Caso prossiga para o Rio, o pedágio sobe para R$ 7,58.
Não foi o governo federal quem fixou os pedágios baratos. Foram as
empresas, na livre competição do
mercado, que baixaram os preços.
Se houvesse apenas dois interessados na Fernão Dias, um pedindo R$
4,00 (o teto aceito pela União) e outro deixando os 100 quilômetros por
R$ 3,99, o segundo ficaria com a
concessão. A OHL ofereceu-se para
operar a R$ 1,42 e levou-a.
No caso dos próximos leilões paulistas a situação se complica.
Primeiro, porque se o cidadão que
veio pela Fernão Dias resolver ir a
Santos, pagará R$ 13,10 para cada
cem quilômetros. Certamente o governo de José Serra poderá destrinchar a oferta que fará ao mercado.
Qual será o impacto das luvas sobre
os pedágios? Assim, o sujeito saberá
que pagará R$ 10, mas que 20% desse valor (pura hipótese) destina-se a
novas obras. Trata-se de um imposto disfarçado, mas deixa pra lá.
Além disso, a patuléia poderá conhecer a taxa de retorno que o governo de São Paulo considerou razoável. Com um pouco de trabalho,
pode-se desossar as cifras, de forma
a tornar os dois sistemas tão comparáveis quanto possível. Estranho
animal o tucano, cobra mais caro e
ainda quer convencer a escumalha
de que fazer comparações é coisa de
imbecil.
Finalmente, um detalhe que foi
decisivo nas últimas privatizações
federais: qual a abertura para a entrada de empresas estrangeiras no
leilão? Quando as sete rodovias vendidas por Nosso Guia estavam
amarradas ao cartel de empreiteiras
e concessionárias nacionais, a taxa
de retorno andou em 18%, para não
dizer 25%. Acabou em 9%.
Uma lei espanhola subsidia empresas que investem na América Latina. Para US$ 4 exportados, podem
deduzir US$ 1 da base de cálculo de
seu imposto de renda. O rei da Espanha subsidia, com dinheiro de seu
tesouro, uma empresa do seu país
para explorar a concessão de uma
estrada no Brasil, cobrando pedágios baratos. Pode-se protestar, mas
também pode-se sugerir que se mude o nome de uma estrada dessas para "Rodovia Rei Juan Carlos".
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