São Paulo, sábado, 17 de outubro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Fidel se mantém em evidência
do enviado especial Entra cúpula, sai cúpula, Fidel Castro Ruz, hoje com 72 anos, ditador cubano há quase 40, domina a cena e desata ódios e amores de igual intensidade. Desta vez, na Cúpula do Porto, será ainda mais acentuado o protagonismo de Fidel, que chegou ontem com as piadinhas habituais. "É melhor vocês cobrarem hora extra, mais almoço e jantar", brincou com os jornalistas, aludindo ao fato de que era dos primeiros a desembarcar e, portanto, os repórteres teriam uma longa espera pelos demais governantes. Fidel estava ainda mais à vontade, primeiro porque Cuba será a sede da 9ª cúpula, a de 1999. Com isso, o presidente cubano ganha o direito de ser um dos três únicos mandatários a fazer os discursos formais e a participar da tradicional entrevista de encerramento. Só os governantes da cúpula anterior (Venezuela), da atual (Portugal) e da próxima (Cuba) têm tal privilégio. Segundo, porque a crise financeira global poliu um pouco a imagem do ditador cubano, ao tornar menos solitárias suas críticas ao capitalismo. Na sua recente passagem pelo Brasil, Fidel deu-se ao luxo de dizer que a crise era "conseqüência inevitável das regras de mercado, mas também da globalização da ordem mundial". Terceiro, porque cresce, ano após ano, a oposição ao embargo imposto pelos EUA à ilha que Fidel governa. Na quarta-feira, a assembléia-geral da ONU condenou o bloqueio pelo sétimo ano consecutivo, desta vez por 152 votos contra apenas dois (EUA e Israel). Nos anos anteriores, os votos contra o embargo haviam sido 137 (em 96) e 143 (97). O documento final da Cúpula fará menção ao embargo, mas com linguagem cuidadosa. Nas ruas, também haverá manifestações de condenação ao embargo, compartilhadas ecumenicamente por opositores e admiradores de Fidel. Os opositores dirão que são contra o embargo porque afeta apenas a população cubana e não o governo. É a opinião da Juventude Social-Democrata (partido que, em Portugal, é de direita). Já os simpatizantes de Fidel, como a Juventude Comunista Portuguesa, criticam a posição de seus colegas sociais-democratas. Há, pois, todo um ambiente para que Fidel se mantenha no centro do palco, mesmo que ele próprio fique calado, o que não faz parte de seu repertório habitual. (CR) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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