São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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Hoje, a PF é a responsável, com 40 agentes; militares querem assumir a função após a posse do presidente

Segurança pessoal de Lula é disputada por PF e militares

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal (PF) e os militares travam nos bastidores uma disputa sobre quem comandará a segurança pessoal do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
A PF é a responsável hoje pela segurança de Lula, com cerca de 40 agentes destinados para a tarefa, além de equipes regionais nos Estados em que o presidente eleito visita.
Desde o envolvimento de integrantes da cúpula da PF em grampos, o presidente Fernando Henrique Cardoso colocou sua segurança particular nas mãos do general Alberto Cardoso, da Secretaria de Segurança Institucional, ligada diretamente à Presidência da República.
Os agentes federais são auxiliares, mas não se envolvem nas questões centrais da segurança.
Os 40 agentes que fazem parte do núcleo de segurança de Lula se dividem em três turmas de escalas semanais: uma acompanha o presidente eleito, uma segunda descansa e a última treina.
Os militares querem manter a responsabilidade pela segurança do presidente depois que ele tomar posse. Nos bastidores, relembram episódios da Polícia Federal no governo tucano.
Ainda durante seu primeiro mandato, FHC exonerou o embaixador Julio Cesar dos Santos, um assessor próximo, por ter sido grampeado supostamente negociando privilégios a empresas que disputavam a licitação de implantação do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Santos foi alvo de uma escuta telefônica com autorização judicial -a PF pediu a um juiz o grampeamento do telefone dele com base em uma duvidosa investigação sobre narcotráfico.
O ex-diretor da PF Vicente Chelotti, durante uma disputa interna de poder na entidade, teve divulgada uma gravação em que citava supostas fitas que comprometeriam o presidente da República e que estariam em suas mãos. Caiu do poder, afastando de vez a PF do núcleo próximo de FHC.
Já os agentes federais rebatem lembrando que os principais grampos no país envolveram agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), subordinada ao general Cardoso.
O caso principal é o do grampo do BNDES, no qual um agente da Abin - Telmo Rodrigues- foi recentemente condenado sob acusação de tê-lo colocado. O primeiro escalão da Abin no Rio foi investigado, mas a sentença da semana passada os isentou de responsabilidade.
Conversas sobre a privatização do Sistema Telebrás do então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e do então presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), André Lara Rezende, inclusive as mantidas com FHC, foram grampeadas.
Os agentes da PF afirmam que os grampos hoje são negócios empresariais e políticos comandados por pessoas que pertencem ou pertenceram à chamada comunidade de informações, que vive na órbita da Abin.

Impasse
A solução desse impasse dependerá do encaminhamento de outra questão: quem chefiará no governo de Lula o ministério da Defesa e os comandos militares das três Forças.
O presidente eleito tem mantido contatos com representantes das Forças Armadas e não quer melindrá-los. Os petistas afirmam manter boas relações com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Os militares querem no Ministério da Defesa alguém que siga a linha de atual ministro, Geraldo Quintão. Na prática, envolve-se pouco nos temas específicos dos militares.
O petista mais cotado para o cargo, o deputado José Genoino, tem boas relações com os militares, mas dificilmente aceitaria ter um papel quase decorativo.
O fato de ter combatido na guerrilha do Araguaia é tido como superado. O problema seria o grau de reformas que eventualmente poderia tentar fazer no cargo. Quanto maior, maior a resistência.



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