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DISPUTA ENTRE PODERES
De olho na reforma, presidente deve liberar contratação de 12.120 pessoas para Judiciário e Ministério Público
Após atrito, projeto reaproxima Lula e juízes
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de meses de declarações
pouco amistosas de lado a lado, o
Palácio do Planalto vai tomar medidas que deverão facilitar a reaproximação entre os Poderes Executivo e Judiciário.
Nos próximos dias, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva deve sancionar três projetos de lei que autorizam a contratação de 12.120
funcionários até 2008 para o Judiciário e para o Ministério Público
Federal.
Há ainda um quarto projeto que
está na Câmara aguardando um
sinal do Planalto para ser votado
pela base governista, o que deverá
ocorrer nesta semana. O texto autoriza a contratação de 5.700 funcionários para o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
A sanção dos projetos ocorre
em um momento em que o governo busca o entendimento com o
Judiciário, e Lula está para se encontrar com o presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal),
Maurício Corrêa, depois de um
período de atritos.
O encontro entre os dois não
acontecerá no STF nem foi na data indicada por Corrêa, o último
dia 13. O campo escolhido acabou
sendo a casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),
espécie de "território neutro".
As relações entre Lula e Corrêa
estão abaladas desde que o ministro assumiu a presidência do STF
conclamando uma mobilização
dos juízes contra a reforma da
Previdência, no início de junho,
diante de Lula, que não tinha direito à palavra.
Pouco antes, o presidente da
República havia criticado a existência de uma "caixa-preta" no
Judiciário, em uma alusão à necessidade do chamado controle
externo, gerando uma crise institucional.
Para o Planalto, quanto melhores forem as relações, mais fácil
será a aprovação da reforma do
Judiciário, que tramita no Senado. Além disso, os projetos reduzem uma deficiência já crônica de
pessoal no Judiciário.
O subchefe da Casa Civil para
Assuntos Jurídicos, José Antônio
Dias Toffoli, afirmou que as negociações para a aprovação e a sanção dos projetos são uma prova
de que "nunca houve um problema institucional entre Executivo e
Judiciário".
Toffoli ressaltou que esses projetos já estavam no Congresso havia dez anos e que sua aprovação
representa um avanço para o Judiciário. Segundo ele, é "coincidência" o fato de a sanção ocorrer
num momento em que esquentaram as negociações da reforma.
O acordo para a aprovação dos
quatro projetos começou a ser alinhavado em março. O consenso
em relação a três deles foi obtido
em julho, e os projetos chegaram
à Casa Civil para sanção entre os
dias 3 e 6 de novembro. Pela data
regimental, o presidente tem 15
dias para sancioná-los. O impasse
nas negociações foi o prazo das
contratações. Os tribunais queriam um período máximo de três
anos para finalizá-las, mas o governo exigiu o prazo de seis anos.
Os projetos geram um impacto
de R$ 1 bilhão por ano no Orçamento da União. Por isso, serão
aplicados gradualmente até 2008.
Projetos
Os três projetos dizem respeito
ao Ministério Público Federal
(cujos procuradores atuam no Judiciário), à Justiça Federal e à Justiça do Trabalho. O quarto -que
se refere ao Tribunal Superior
Eleitoral- está na Câmara e
aguarda uma sinalização do Planalto para ser votado, o que deverá ocorrer até o fim desta semana.
Para a Justiça Federal, Lula vai
sancionar a criação de 183 varas,
47 ainda neste ano e o restante até
2008. Serão contratados 3.956
funcionários, entre juízes, corpo
técnico e auxiliares.
Na Justiça do Trabalho, no mesmo período, serão criadas 232 novas varas, cada uma com dois juízes e oito funcionários, num total
de 1.856 servidores.
Já o Ministério Público da
União (incluindo Trabalho, Militar e do Distrito Federal e Territórios) vai ganhar 6.308 funcionários, entre procuradores, subprocuradores, corpo técnico e apoio,
até 2008.
O escalonamento das vagas
obedece a um critério financeiro:
o Orçamento não pode ser onerado em mais de R$ 250 milhões por
ano. O TSE não concordou com o
período de escalonamento e ficou
fora do acordo. Queria a contratação dos 5.700 funcionários (dois
para cada zona eleitoral do país)
em três anos.
Nas zonas eleitorais, o tribunal
precisa recorrer a funcionários
emprestados de Estados e prefeituras. Mesmo assim, o governo
não arredou o pé do prazo de seis
anos para autorizar o total de contratações.
Não é à toa que o Planalto está
investindo para incrementar as
relações com o Judiciário. O texto
que hoje está no Senado, apesar
de polêmico, é apenas uma pequena parte da reforma profunda
que o governo pretende fazer no
setor ainda em 2004.
"A sociedade está pressionando
por mudanças no Judiciário",
afirma Sérgio Renault, titular da
secretaria de Reforma do Judiciário, vinculada ao Ministério da
Justiça.
Para ele, as reformas são um
passo para a consolidação da democracia no país, na medida em
que tornarão a Justiça mais rápida
e mais acessível à parcela mais pobre da população.
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