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SELVA VIGIADA
Sivam cria rede de telefones via satélite para denúncias de tribos; das 940 unidades previstas, 361 já foram instaladas
Índio vira "informante" da Polícia Federal na Amazônia
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Uma rede de telefones via satélite tem permitido que índios de
áreas remotas da Amazônia falem
entre si e com a Funai (Fundação
Nacional do Índio) e informem à
Polícia Federal crimes ocorridos
em seus territórios.
A rede faz parte do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia),
projeto de US$ 1,4 bilhão inaugurado em julho do ano passado para controlar os 5,2 milhões de km2
da Amazônia Legal -com a utilização de aviões, satélites, radares
e outros equipamentos.
O sistema de telefones se chama
V-Sat. De acordo com o Sipam
(Sistema de Proteção da Amazônia), braço civil do Sivam, das 940
unidades previstas para serem
instaladas até o 2004, ao custo total de R$ 48 milhões, 361 já foram
colocadas desde julho do ano passado, sendo 161 em aldeias e postos da Funai. Há unidades ainda
em prefeituras e postos do Exército, da PF e de outros órgãos.
"Os índios estão onde nós não
estamos, eles são nossos olhos.
Alguma coisa que, eventualmente, eles teriam que tomar as providências com as próprias mãos,
agora, com o sistema, eles podem
avisar a polícia e evitar embates
com garimpeiros, madeireiros e
invasores. É a polícia que tem que
cuidar disso", afirmou o delegado
regional da Polícia Federal do
Amazonas, Sérgio Fontes.
Hoje em dia, muitos índios utilizam rádios para se comunicar.
Mas eles só têm canais nos rádios
em determinados horários do dia,
o que, por vezes, acaba atrasando
os pedidos de socorro.
Já o V-Sat é como uma rede de
ramais de uma empresa. Ao tirar
o fone do gancho, o índio pode falar na hora com qualquer outro
ramal, seja o de uma aldeia, seja o
da Funai ou o da PF.
Outra vantagem é a utilização
de energia solar, que garante funcionamento ininterrupto dos
equipamentos. Quando a rede estiver integralmente instalada, a
previsão é que as unidades tenham também fax e computadores para envio de e-mails.
Hoje o sistema ainda é muito
instável. Segundo o Sipam, em
75% dos aparelhos já instalados, a
ligação nem sempre é completada
na hora devido a problemas técnicos que ainda estão sendo analisados. Em algumas aldeias, índios
não sabem usar o aparelho.
Na última semana, a Agência
Folha testou o sistema, ligando do
CRV (Centro Regional de Vigilância) para aldeias, postos da Funai, do Ibama, da PF e pelotões do
Exército. As ligações que se completaram são rápidas e sem ruído.
A única diferença de uma ligação
entre o telefone convencional e o
via satélite é que há um intervalo
de dois segundos, que é o tempo
de transmissão entre a estação
terrestre e o satélite Brasil Sat 2.
"O sistema é uma grande rede
de troca de informações. Numa
região inóspita, de difícil acesso,
onde a comunicação era zero, o
sistema é muito significativo. Nas
comunidades indígenas, esse instrumento é também de inclusão
social", disse o diretor-executivo
do Sipam, Edgar Fagundes Filho.
Segundo o Sipam, o uso do V-Sat já serviu para a deportação de
um estrangeiro que tentava gravar um documentário sem a permissão da Funai. Em 12 de agosto
deste ano, índios uai-uai da aldeia
de Jatapuzinho (RR) usaram o V-Sat para informar ao CRV de Manaus que o alemão Rudiger Nehberg, 70, desceu de helicóptero na
aldeia, trazendo na bagagem câmeras fotográficas e filmadoras.
Os índios uai-uai contam que,
ao ser abordado, Nehberg disse
que tinha permissão da Funai para permanecer na aldeia. Bastou
um contato pelo telefone via satélite para saber que ele mentia.
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