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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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SELVA VIGIADA

Sivam cria rede de telefones via satélite para denúncias de tribos; das 940 unidades previstas, 361 já foram instaladas

Índio vira "informante" da Polícia Federal na Amazônia

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Uma rede de telefones via satélite tem permitido que índios de áreas remotas da Amazônia falem entre si e com a Funai (Fundação Nacional do Índio) e informem à Polícia Federal crimes ocorridos em seus territórios.
A rede faz parte do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), projeto de US$ 1,4 bilhão inaugurado em julho do ano passado para controlar os 5,2 milhões de km2 da Amazônia Legal -com a utilização de aviões, satélites, radares e outros equipamentos.
O sistema de telefones se chama V-Sat. De acordo com o Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), braço civil do Sivam, das 940 unidades previstas para serem instaladas até o 2004, ao custo total de R$ 48 milhões, 361 já foram colocadas desde julho do ano passado, sendo 161 em aldeias e postos da Funai. Há unidades ainda em prefeituras e postos do Exército, da PF e de outros órgãos.
"Os índios estão onde nós não estamos, eles são nossos olhos. Alguma coisa que, eventualmente, eles teriam que tomar as providências com as próprias mãos, agora, com o sistema, eles podem avisar a polícia e evitar embates com garimpeiros, madeireiros e invasores. É a polícia que tem que cuidar disso", afirmou o delegado regional da Polícia Federal do Amazonas, Sérgio Fontes.
Hoje em dia, muitos índios utilizam rádios para se comunicar. Mas eles só têm canais nos rádios em determinados horários do dia, o que, por vezes, acaba atrasando os pedidos de socorro.
Já o V-Sat é como uma rede de ramais de uma empresa. Ao tirar o fone do gancho, o índio pode falar na hora com qualquer outro ramal, seja o de uma aldeia, seja o da Funai ou o da PF.
Outra vantagem é a utilização de energia solar, que garante funcionamento ininterrupto dos equipamentos. Quando a rede estiver integralmente instalada, a previsão é que as unidades tenham também fax e computadores para envio de e-mails.
Hoje o sistema ainda é muito instável. Segundo o Sipam, em 75% dos aparelhos já instalados, a ligação nem sempre é completada na hora devido a problemas técnicos que ainda estão sendo analisados. Em algumas aldeias, índios não sabem usar o aparelho.
Na última semana, a Agência Folha testou o sistema, ligando do CRV (Centro Regional de Vigilância) para aldeias, postos da Funai, do Ibama, da PF e pelotões do Exército. As ligações que se completaram são rápidas e sem ruído. A única diferença de uma ligação entre o telefone convencional e o via satélite é que há um intervalo de dois segundos, que é o tempo de transmissão entre a estação terrestre e o satélite Brasil Sat 2.
"O sistema é uma grande rede de troca de informações. Numa região inóspita, de difícil acesso, onde a comunicação era zero, o sistema é muito significativo. Nas comunidades indígenas, esse instrumento é também de inclusão social", disse o diretor-executivo do Sipam, Edgar Fagundes Filho.
Segundo o Sipam, o uso do V-Sat já serviu para a deportação de um estrangeiro que tentava gravar um documentário sem a permissão da Funai. Em 12 de agosto deste ano, índios uai-uai da aldeia de Jatapuzinho (RR) usaram o V-Sat para informar ao CRV de Manaus que o alemão Rudiger Nehberg, 70, desceu de helicóptero na aldeia, trazendo na bagagem câmeras fotográficas e filmadoras.
Os índios uai-uai contam que, ao ser abordado, Nehberg disse que tinha permissão da Funai para permanecer na aldeia. Bastou um contato pelo telefone via satélite para saber que ele mentia.


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