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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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PROGRAMA DE ÍNDIO

CNIC dá R$ 1 milhão para projeto

Raoni quer criar TV Indígena com programas feitos no próprio Xingu

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Meio século após tomar contato com o homem branco por meio do sertanista Orlando Villas Bôas (1914-2002), o cacique Raoni, líder dos índios caiapós, apresentou ao MinC (Ministério da Cultura) o projeto de criação da TV Indígena Aldeia Virtual. Conseguiu, na quinta-feira, R$ 1 milhão pelo CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura).
Raoni, que calcula ter 79 anos, quer exibir pela TV programas feitos pelos índios do Parque Nacional do Xingu, localizado numa faixa de terra a partir do centro de Mato Grosso até a divisa com o Pará. A área é maior do que o Estado de Sergipe. Pelo menos 21 lideranças indígenas assinaram documento apoiando a TV.
Batizado pelos caiapós como Cabelo de Milho, 46 (o nome verdadeiro ele prefere não dizer), o assessor do Instituto Raoni disse que, na aldeia, os índios já possuem câmeras digitais e equipamentos para edição de imagens.
O instituto foi criado em 2000, durante visita do cacique ao presidente da França, Jacques Chirac, e será responsável pela TV.
O secretário do Desenvolvimento das Artes Audiovisuais do MinC, Orlando Senna, afirmou que a verba de R$ 1 milhão aprovada na CNIC deve ser usada na elaboração do projeto e na compra de equipamentos. Senna disse que os índios podem começar com um programa na TV pública.
A UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) é a dona da TV Universitária, similar à TV Educativa existente em outros Estados. O reitor Paulo Speller disse que a programação será ampliada para atender os movimentos sociais, incluindo os índios.
Cabelo de Milho acrescenta que a idéia é ter um canal próprio, com sinal por satélite. Esse modelo, segundo Raoni, foi inspirado nos "parentes dos caiapós" no Canadá e nos Estados Unidos, onde haveria 54 emissoras indígenas.

Documentário
Em 1976, Raoni teve o primeiro contato com as câmeras, quando ajudou a filmar o documentário do francês Jean Pierre Dutilleux, "Mostrei a Floresta." O documentário ficou famoso ao ser narrado por Marlon Brando, em 1979, com o título "Raoni: a Luta pela Amazônia".
Um ano depois, o cacique ganhou fama ao assumir os assassinatos de 11 peões que entraram nas terras dos índios. Na ocasião, ele mostrou a borduna (arma de madeira), usada contra os homens. A partir daí, percorreu o mundo ao lado do roqueiro inglês Sting com a bandeira de preservação da Amazônia.
Para os caiapós, o projeto da TV Indígena não é bem uma novidade. Em 1993, o índio caiapó Kiabet Metuktire passou uma semana em São Paulo para levar imagens da cidade grande para a aldeia.
Megaron Txucarramãe, sobrinho de Raoni, apresentou naquele mesmo ano, no Japão, vídeos com imagens da aldeia.


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