São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Presidente contraria expectativas do mercado e não intercede por Palocci em discurso dado horas antes do depoimento no Senado

Sem citar ministro, Lula defende economia

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No único discurso público que fez ontem, horas antes do depoimento de Antonio Palocci (Fazenda) no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fez uma defesa enfática do ministro nem chegou a citá-lo, mas elogiou a política econômica e disse que era preciso compreender "corretamente" o atual momento político para o Brasil não jogar fora oportunidades conquistadas.
Um discurso mais incisivo a favor de Palocci era aguardado tanto pelo mercado como pelo próprio ministro. O presidente chegou a confidenciar a assessores que defenderia publicamente Palocci, alvo de acusações de corrupção feitas por ex-auxiliares e de pressões internas contra a condução do modelo econômico.
Ao falar sobre os avanços econômicos, Lula pediu aos cerca de 500 presentes na abertura da 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, que prestem atenção naquilo que é veiculado pela imprensa e que tomem cuidado com o que é divulgado.
"Eu quero dizer para vocês prestarem atenção no momento político que o Brasil está vivendo. Leiam com muito cuidado todos os jornais, assistam com muito cuidado a todos os programas, porque eu acho que precisamos refletir sobre o que está acontecendo no Brasil [...]. Se não houver compreensão do que está acontecendo neste momento, poderemos permitir que o Brasil jogue fora essa oportunidade."
Com visual cansado e voz baixa, Lula repetiu dados que considera positivos da área econômica, como o controle da inflação e o aumento das exportações, e disse que não há "momento da história do país com uma combinação de fatores tão positivos".
O presidente, que já chegou a dizer que ele e Palocci eram "unha e carne", ontem adotou uma linha moderada em relação à política econômica.
"Eu digo todo dia que não há momento da história do Brasil -e tenho analisado desde o governo Juscelino [Kubitschek, 1956-1961]- em que tenhamos tido uma combinação de fatores tão positivos neste país [...]. Vai depender da sociedade brasileira saber definir corretamente o que nós queremos."

Incômodo
No discurso, ora lido ora improvisado, houve espaço para pitadas sobre eleições e sobre cobranças ao governo. Lula disse que as pressões às vezes "incomodam", mas que a sociedade "não é obrigada a se contentar com as coisas que o governo acha que já fez".
O presidente afirmou conseguir esconder sua irritação com as cobranças. "Não se incomodem se não sou daqueles que ficam irritados com cobrança, porque na minha vida inteira eu cobrei. Portanto, posso até não gostar, mas jamais demonstrarei que não estou gostando."
Sobre a disputa eleitoral do ano que vem, primeiro disse que "tem gente com muita sede para discutir isso agora".
Depois, ao final do discurso, o presidente Lula voltou a insinuar sua desconfiança com setores da imprensa e a condenar a "mediocridade" dos governantes que "pensam o país apenas de quatro em quatro anos".
"Atenção, se vocês lêem dois jornais por dia, leiam quatro. Nem sempre terão tudo o que vocês gostariam, ou notícias boas ou notícias ruins, mas haverá um momento em que o povo brasileiro terá que definir, afinal de contas, ano eleitoral sempre é um ano muito delicado, porque o Brasil sempre foi pensado de quatro em quatro anos, o Brasil nunca foi pensado para 20 anos ou para 30 anos. E o país que é pensado apenas de quatro em quatro anos, a nação fica tão medíocre quanto os dirigentes que a dirigiram."


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