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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Presidente contraria expectativas do mercado e não intercede por Palocci em discurso dado horas antes do depoimento no Senado
Sem citar ministro, Lula defende economia
EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No único discurso público que
fez ontem, horas antes do depoimento de Antonio Palocci (Fazenda) no Senado, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não fez
uma defesa enfática do ministro
nem chegou a citá-lo, mas elogiou
a política econômica e disse que
era preciso compreender "corretamente" o atual momento político para o Brasil não jogar fora
oportunidades conquistadas.
Um discurso mais incisivo a favor de Palocci era aguardado tanto pelo mercado como pelo próprio ministro. O presidente chegou a confidenciar a assessores
que defenderia publicamente Palocci, alvo de acusações de corrupção feitas por ex-auxiliares e
de pressões internas contra a condução do modelo econômico.
Ao falar sobre os avanços econômicos, Lula pediu aos cerca de
500 presentes na abertura da 3ª
Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação, em Brasília, que prestem atenção naquilo
que é veiculado pela imprensa e
que tomem cuidado com o que é
divulgado.
"Eu quero dizer para vocês
prestarem atenção no momento
político que o Brasil está vivendo.
Leiam com muito cuidado todos
os jornais, assistam com muito
cuidado a todos os programas,
porque eu acho que precisamos
refletir sobre o que está acontecendo no Brasil [...]. Se não houver compreensão do que está
acontecendo neste momento, poderemos permitir que o Brasil jogue fora essa oportunidade."
Com visual cansado e voz baixa,
Lula repetiu dados que considera
positivos da área econômica, como o controle da inflação e o aumento das exportações, e disse
que não há "momento da história
do país com uma combinação de
fatores tão positivos".
O presidente, que já chegou a
dizer que ele e Palocci eram "unha
e carne", ontem adotou uma linha
moderada em relação à política
econômica.
"Eu digo todo dia que não há
momento da história do Brasil
-e tenho analisado desde o governo Juscelino [Kubitschek,
1956-1961]- em que tenhamos
tido uma combinação de fatores
tão positivos neste país [...]. Vai
depender da sociedade brasileira
saber definir corretamente o que
nós queremos."
Incômodo
No discurso, ora lido ora improvisado, houve espaço para pitadas
sobre eleições e sobre cobranças
ao governo. Lula disse que as
pressões às vezes "incomodam",
mas que a sociedade "não é obrigada a se contentar com as coisas
que o governo acha que já fez".
O presidente afirmou conseguir
esconder sua irritação com as cobranças. "Não se incomodem se
não sou daqueles que ficam irritados com cobrança, porque na minha vida inteira eu cobrei. Portanto, posso até não gostar, mas jamais demonstrarei que não estou
gostando."
Sobre a disputa eleitoral do ano
que vem, primeiro disse que "tem
gente com muita sede para discutir isso agora".
Depois, ao final do discurso, o
presidente Lula voltou a insinuar
sua desconfiança com setores da
imprensa e a condenar a "mediocridade" dos governantes que
"pensam o país apenas de quatro
em quatro anos".
"Atenção, se vocês lêem dois
jornais por dia, leiam quatro.
Nem sempre terão tudo o que vocês gostariam, ou notícias boas ou
notícias ruins, mas haverá um
momento em que o povo brasileiro terá que definir, afinal de contas, ano eleitoral sempre é um ano
muito delicado, porque o Brasil
sempre foi pensado de quatro em
quatro anos, o Brasil nunca foi
pensado para 20 anos ou para 30
anos. E o país que é pensado apenas de quatro em quatro anos, a
nação fica tão medíocre quanto os
dirigentes que a dirigiram."
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