São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Parlamentares argumentam que petista foi "genérico" e não respondeu às dúvidas da CPI dos Bingos; ministros defendem que ele fique no cargo

Oposição dá como certa ida de Palocci à CPI

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A oposição saiu convencida de que adotou a tática certa ao se negar a fazer perguntas ao ministro Antonio Palocci sobre as denúncias que pesam contra ele. Palocci compareceu ontem à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e, no meio de seu depoimento, senadores do PFL já davam como certa a sua convocação para prestar depoimento na CPI dos Bingos -tudo o que o governo queria evitar.
"Ele não respondeu às dúvidas da CPI [dos Bingos]", afirmou o relator Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). "Suas afirmações foram muito genéricas e não abordaram determinados temas porque só quem faz as perguntas é que pode saber se os questionamentos são esclarecidos."
Ele se referia ao discurso do ministro, no qual Palocci negou que fizesse caixa dois na Prefeitura de Ribeirão Preto, disse que está sendo perseguido politicamente, e que a denúncia da revista "Veja" sobre o suposto envio de dólares de Cuba para a campanha de Lula, em 2002, são falsas.
"Ficamos com a obrigação de convocá-lo a depor na CPI dos Bingos", afirmou o relator da CPI.
O líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), disse que o depoimento do ministro não atendeu às expectativas da oposição. "A reunião foi burocrática e só serviu para discutir assuntos econômicos", afirmou Agripino. Para ele, "ir à CPI é um caminho natural".
Tasso Jereissati (PSDB-CE), que assume amanhã a presidência de seu partido, elogiou a iniciativa de Palocci, que, na CAE, afirmou que não se oporia a comparecer "em qualquer instância" que o Senado quiser. "Ele mesmo disse que está disposto a ir à CPI", declarou.
O próprio líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), assentiu que é praticamente impossível que Palocci não seja convocado pela CPI. "Acho que foi um erro [da oposição] e uma oportunidade perdida", disse Mercadante a respeito da tática adotada pelo PFL e PSDB.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que passou a maior parte do tempo na mesma mesa que Palocci, afirmou que o ministro compareceu à CAE "com muita sinceridade, abertura e transparência". Na semana passada, Renan cobrou a presença de Palocci no Senado. "O silêncio dele alimentava o ambiente de crise. Ele foi muito convincente, mais uma vez."

Ministros
Dois dos ministros mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na atual crise, Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Ciro Gomes (Integração Nacional) disseram ontem não ver motivos para a saída do colega Antonio Palocci Filho (Fazenda) e atribuíram a alta temperatura das acusações contra o governo à eleição presidencial do ano que vem.
"Eu não sei se o ministro pensa em sair. Mas o fato é que nós vemos, concretamente, ao lado de denúncias que não o atingem diretamente, uma política econômica coroada do mais absoluto êxito", afirmou Thomaz Bastos.
Ciro também defendeu o ministro. "O importante é o seguinte: ou o Palocci é inocente e está sofrendo um cerco oportunista de falsa motivação ética por fatos ou alegações que, em tendo ocorrido, teriam na longínqua década de 90, ou não é verdade. E o Palocci vai demonstrar, tenho a esperança e séria confiança de que ele demonstrará, como já fez em outras ocasiões, que é inocente." (CHICO DE GOIS, ANDRÉA MICHAEL, PEDRO DIAS LEITE e EDUARDO SCOLESE)

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