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ELIO GASPARI
Tungas de Natal: IPVA e seguro obrigatório
Mantega fala em desonerar a produção. O aumento do seguro do trator foi maior do que o do carro de passeio
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É EMPULHAÇÃO a conversa segundo a qual o governo tem algum
remoto interesse em reduzir a
carga de obrigações da patuléia. Pelo
contrário, precisamente na área do ministro Guido Mantega, da Fazenda, a
Superintendência de Seguros Privados
aumentou em 11,13% o preço do seguro
obrigatório de automóveis. Isso, depois
de ter aplicado uma tunga de 43,4% em
janeiro passado.
A Susep fez pior. O reajuste das indenizações em casos de morte e invalidez
ou com despesas médicas foi de 0,15%.
Muito bonito. Paga-se um aumento
quase quatro vezes acima da inflação,
mas o valor que se recebe é recalculado
com um índice 20 vezes menor que a
desvalorização da moeda. A cobertura
de despesas médicas foi de até R$ 2.696
para R$ 2.700. Em grana real, encolheu. Uma coisa não pode ficar atrelada
à outra, mas o que um paga não deve
ser reajustado em Júpiter enquanto o
que o outro recebe é corrigido em Jurujuba. Considerando-se que a choldra é
obrigada a fazer seguro para proteger
as vítimas de acidentes, não é difícil
perceber que parte de seu dinheiro embebeda-se.
O doutor Mantega fala em desonerar
a produção. O aumento do seguro dos
tratores (14,8%) foi superior ao dos carros de passeio. A Susep tomou essa medida sem oferecer qualquer explicação
ao público. Quando o cardeal Joseph
Ratzinger comandava a Santa Inquisição, justificava suas decisões, respeitando os hereges. Registre-se que há
um abismo entre a competência teológica de Ratzinger e os segurocratas nacionais.
Junto com o reajuste do seguro obrigatório a escumalha tem esse restinho
de ano para contabilizar outros avanços sobre seu bolso. Os governos estaduais reajustaram o valor do IPVA dos
veículos. Em quase todos os casos o aumento médio foi superior à inflação. O
Rio Grande do Sul manteve os mesmos
valores, o Rio pegou leve (3,5% de aumento médio) e São Paulo pegou pesado (6,5%).
Somando-se a tunga do seguro à do
IPVA, um Gol 1.0 de 2000 pagará, no
ano, R$ 350 em Santa Catarina, R$ 590
no Rio e R$ 620 em São Paulo. Uma família com renda de R$ 1.750 desembolsará entre 1,5% e 3% de sua renda anual
com a papelada do possante.
Quem manda pobre querer carro?
Deve andar de ônibus. Engano. O aumento das tarifas de transportes vem
sendo superior aos índices da inflação e
do IPVA. No Rio, 11%. Em São Paulo,
15% para o ônibus e de 16,7% para o tarifa integrada, que permite viajar sobre
pneus e trilhos com um só bilhete. (Um
trabalhador de Nova York que toma
duas conduções para ir e voltar do serviço compra um cartão mensal pelo
equivalente a R$ 160. Submetido à voracidade tucano-pefelê que confiscou
um desconto parecido, o paulistano paga R$ 198.)
Quanto mais próxima da base da pirâmide, mais a patuléia apanha. Se ninguém cuidar, criarão uma despesa para
quem anda a pé.
COMO A BANCA NÃO GOSTOU, A IDÉIA TRAVOU
Em fevereiro completa-se
um ano que o então secretário
do Tesouro, Joaquim Levy,
anunciou sua disposição de licitar a folha de pagamentos do
INSS (R$ 11,3 bilhões em 24
milhões de contas). Quando
uma idéia agrada a banca, o seguro obrigatório dos carros é
reajustado em 60% em menos
de 12 meses. Quando desagrada, trava. Levy foi para Washington, mudou-se para o Rio, e nada. Hoje essas contas ficam em 20 bancos, que pagam
zero à Viúva. Leiloadas, valem
entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões a cada cinco anos. Em
agosto, o ministro da Previdência, Nelson Machado disse
que era necessário fazer mais
algumas reuniões para definir
a iniciativa. Ele e o secretário
do Tesouro, Carlos Kawall,
concorrem ao Prêmio Reunião, pois nem no pacote de
medidas para socorrer a gestão do INSS o assunto amadureceu. Poderiam recebê-lo
com uma grande festa, quando a idéia de Levy comemorar
seu primeiro aniversário.
TEATRO NA CORTE
Há dois desfechos possíveis
para a reunião de Nosso Guia
com líderes partidários de sua
Corte: mau teatro ou péssimo
teatro. Supor que medidas econômicas complexas possam ser
discutidas em poucas horas exige que doutores da coalizão sejam reencarnações de Milton Friedman. Lula faria melhor se
convidasse bons atores. Paulo
Autran contracenaria com Guido Mantega e Fernanda Montenegro, com Dilma Rousseff.
VINGANÇA
Após perder paciência e tempo no planeta 0800 ouvindo gerúndios insuportáveis, músicas
exasperantes e por dez vezes as
mesmas perguntas, as vítimas
não precisam mais pensar em
suicídio. A forra é simples e vem
da esperteza da garotada: basta
gravar a conversa, anexá-la a
imagens ao gosto do freguês e
mandá-la para o YouTube. As
telefônicas americanas já sentiram esse calor.
JÓIA JANISTA
Graças ao Centro de História
e Documentação Diplomática
do Itamaraty e ao embaixador
Álvaro da Costa Franco, foi publicada uma jóia na última edição dos Cadernos CDDH. São 288 bilhetinhos enviados em
1961 pelo presidente Jânio Quadros ao chanceler Afonso Arinos. Revelam a teatralidade e o
provincianismo de Jânio, que
usava esses papeizinhos para simular produtividade. Houve
um dia em que despachou nove.
Pediu ao ministro que ouvisse
os donos do cinema Apolo, de
SP, interessados em expandir
suas projeções. Revelam também como são velhas as novidades de Lula: "Interesse especial
pelo Gabão". Há mais bilhetes
tratando de inutilidades africanas que de temas europeus ou
americanos.
SEGURANÇA
Holger Wettlauer estava na
Alemanha quando seu celular
foi automaticamente acionado.
Sua casa no Guarujá acabara de
ser invadida. Foi ao laptop e teve, ao vivo, as imagens do larápio depenando-a. Ligou para
São Paulo e, minutos depois, o
marginal estava preso. Não há
milagre. Uma casa pode ser
protegida com programas e câmeras por R$ 10 mil ou R$ 15
mil. Um monitoramento profissional (o que não foi o caso de
Wettlauer) custa entre R$ 300
e R$ 1.200 mensais. Cuidado:
Há umas 200 firmas nesse
mercado. Merecedoras de fé, só
umas 20. Em matéria de segurança pública, vai-se de mal a
muito pior. Em novembro, surgiu a denúncia de que o aloprado Gedimar Passos reunira-se
clandestinamente com Freud
Godoy enquanto estava preso
na carceragem da PF. Mentira?
Bastava conferir os vídeos das
câmeras dos corredores. Informaram ao ministro Thomaz
Bastos que as fitas são apagadas
nos dias seguintes. Há equipamentos que guardam 24 horas
num CD. Gravam para apagar?
O'CONNOR E GRACIE
É grande a admiração da ministra Ellen Gracie por Sandra
O'Connor, a primeira mulher
nomeada para a Corte Suprema
dos EUA. Um freqüentador do
aeroporto de Washington jura
que, com freqüência, viu
O'Connor sentada na sala de
embarque da ponte aérea para
Nova York. Esse curioso suspeita que, se houvesse um apagão nos aeroportos, nem bandidos fariam O'Connor embarcar
num jatinho da Viúva para
evento em Miami. Seu colega
Harry Blackmun, morto em
1999, ia para o trabalho num
Fusca azul. Quando as filhas levaram o carro ao funeral, foram
barradas pela segurança do cemitério de Arlington.
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