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Lula desautoriza Mantega sobre nova CPMF e cortes
Presidente diz que ministro terá que convencê-lo sobre necessidade de criar tributo
Sobre anúncio de revisão do PAC e de gastos sociais, Lula afirma: "Não vamos parar nenhuma obra do PAC [e] nenhuma política social"
LORENNA RODRIGUES
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem o ministro Guido Mantega se acalmar e pediu mais "reflexão do
que reação" de sua equipe.
Ele repreendeu Mantega por
lançar a idéia de um novo imposto para a saúde, aparentemente sem consultar o Planalto, e por cogitar cortes em verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de
programas sociais. "Não existe
razão para ninguém ficar nervoso, nenhuma razão para que
ninguém faça uma loucura de
aumentar a carga tributária."
Lula disse que terá que ser
convencido da necessidade de
novos tributos e que o fim da
CPMF não vai frear obras do
PAC nem os programas sociais.
"Avalio que ele [Mantega] vai
ter que me convencer da necessidade disso. Falou para vocês
[imprensa], agora vai ter que
colocar na minha mesa e eu vou
decidir se vamos ou não vamos", disse, após votar no segundo turno da eleição interna
do PT, em Brasília.
Lula advertiu a equipe econômica. "O governo precisa entender que o momento é mais
de reflexão do que de reação."
Em entrevista à Folha, Mantega disse que "o PAC, os programas sociais e os investimentos
em geral serão reexaminados".
Em outra entrevista, publicada anteontem pelo jornal "O
Estado de S. Paulo", Mantega
havia sugerido a criação de um
novo imposto. Depois, disse
que foi mal-interpretado e que
a cobrança poderia ser discutida em uma reforma tributária.
Ontem, Mantega declarou
em nota que "a saúde não sobrevive sem recursos adicionais" e que é "preciso pensar
em outra medida para suprir o
que faltou". Mantega negou ter
dito que criaria o novo tributo
por medida provisória.
A nota não trata das declarações de ontem do presidente.
Mantega ligou à tarde para o
presidente e tentou se explicar.
Lula afirmou ontem ainda:
"Vamos ter que ver como encontrar uma saída porque não
vamos parar nenhuma obra do
PAC, não vamos parar nenhuma política social que estamos
fazendo e sabemos que temos
que investir na saúde".
Para compensar o fim da
CPMF, o presidente disse trabalhar com expectativa de
maior crescimento da economia no ano que vem e conseqüente maior arrecadação.
Lula tem encontro na quarta
com a equipe econômica para
definir as medidas para contornar a perda de R$ 40 bilhões no
Orçamento de 2008. Tais medidas já devem ser discutidas
hoje, em Montevidéu, onde ele
e Mantega estarão juntos em
encontro do Mercosul.
O pacote trará cortes de despesas, que podem ficar na casa
dos R$ 18 bilhões, mais aumento de tributos que podem ser
feitos sem passar pelo Congresso -entre eles, elevação de
alíquotas da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) e PIS/Cofins, que poderiam render até R$ 10 bilhões a
mais. O restante viria de aumento da arrecadação.
Ao comentar a derrota no Senado, Lula afirmou: "Foi um
gesto impensado e se foi pensado foi de má-fé, de algumas
pessoas que votaram contra sabendo que causaram um prejuízo de R$ 24 bilhões na saúde
em quatro anos". Declarou que
tais senadores não querem que
o governo dê certo e acreditam
no "quanto pior, melhor" e disse que a relação entre governo
e Senado ficará "a mesma", de
"independência e harmonia".
Lula acrescentou que a proposta de uma política industrial só será enviada ao Congresso no ano que vem.
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