São Paulo, segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

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Lula desautoriza Mantega sobre nova CPMF e cortes

Presidente diz que ministro terá que convencê-lo sobre necessidade de criar tributo

Sobre anúncio de revisão do PAC e de gastos sociais, Lula afirma: "Não vamos parar nenhuma obra do PAC [e] nenhuma política social"

LORENNA RODRIGUES
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA

FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem o ministro Guido Mantega se acalmar e pediu mais "reflexão do que reação" de sua equipe.
Ele repreendeu Mantega por lançar a idéia de um novo imposto para a saúde, aparentemente sem consultar o Planalto, e por cogitar cortes em verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de programas sociais. "Não existe razão para ninguém ficar nervoso, nenhuma razão para que ninguém faça uma loucura de aumentar a carga tributária."
Lula disse que terá que ser convencido da necessidade de novos tributos e que o fim da CPMF não vai frear obras do PAC nem os programas sociais. "Avalio que ele [Mantega] vai ter que me convencer da necessidade disso. Falou para vocês [imprensa], agora vai ter que colocar na minha mesa e eu vou decidir se vamos ou não vamos", disse, após votar no segundo turno da eleição interna do PT, em Brasília.
Lula advertiu a equipe econômica. "O governo precisa entender que o momento é mais de reflexão do que de reação." Em entrevista à Folha, Mantega disse que "o PAC, os programas sociais e os investimentos em geral serão reexaminados".
Em outra entrevista, publicada anteontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Mantega havia sugerido a criação de um novo imposto. Depois, disse que foi mal-interpretado e que a cobrança poderia ser discutida em uma reforma tributária.
Ontem, Mantega declarou em nota que "a saúde não sobrevive sem recursos adicionais" e que é "preciso pensar em outra medida para suprir o que faltou". Mantega negou ter dito que criaria o novo tributo por medida provisória.
A nota não trata das declarações de ontem do presidente. Mantega ligou à tarde para o presidente e tentou se explicar.
Lula afirmou ontem ainda: "Vamos ter que ver como encontrar uma saída porque não vamos parar nenhuma obra do PAC, não vamos parar nenhuma política social que estamos fazendo e sabemos que temos que investir na saúde".
Para compensar o fim da CPMF, o presidente disse trabalhar com expectativa de maior crescimento da economia no ano que vem e conseqüente maior arrecadação.
Lula tem encontro na quarta com a equipe econômica para definir as medidas para contornar a perda de R$ 40 bilhões no Orçamento de 2008. Tais medidas já devem ser discutidas hoje, em Montevidéu, onde ele e Mantega estarão juntos em encontro do Mercosul.
O pacote trará cortes de despesas, que podem ficar na casa dos R$ 18 bilhões, mais aumento de tributos que podem ser feitos sem passar pelo Congresso -entre eles, elevação de alíquotas da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) e PIS/Cofins, que poderiam render até R$ 10 bilhões a mais. O restante viria de aumento da arrecadação.
Ao comentar a derrota no Senado, Lula afirmou: "Foi um gesto impensado e se foi pensado foi de má-fé, de algumas pessoas que votaram contra sabendo que causaram um prejuízo de R$ 24 bilhões na saúde em quatro anos". Declarou que tais senadores não querem que o governo dê certo e acreditam no "quanto pior, melhor" e disse que a relação entre governo e Senado ficará "a mesma", de "independência e harmonia".
Lula acrescentou que a proposta de uma política industrial só será enviada ao Congresso no ano que vem.


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