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Índios matam 4 homens a pauladas, diz PM
Vítimas tinham ido resgatar trator da prefeitura de Cachoeirinha (TO); veículo teria sido tomado pelos apinajés há duas semanas
Servidores estavam com armas, mas foram cercados pelos indígenas e mortos com golpes de burdona,
um artefato de madeira
MATHEUS PICHONELLI
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
Quatro homens foram mortos a pauladas por índios apinajés, anteontem à tarde, na aldeia Buriti Comprido, em São
Bento do Tocantins, no norte
do Tocantins, segundo informações da Polícia Militar.
As mortes ocorreram, de
acordo com a PM, depois que as
vítimas entraram na aldeia para reaver um trator da Prefeitura de Cachoeirinha.
O veículo havia sido tomado
pelos índios há cerca de duas
semanas, quando levava palhas
de babaçu -fornecidas pela
prefeitura- para a construção
de ocas. A polícia disse que o ato
foi uma forma de pressionar a
administração local a providenciar a instalação de energia
elétrica na aldeia.
Os índios pediam ainda a reconstrução de uma ponte próxima à aldeia, que havia sido
queimada em um protesto contra a falta de energia elétrica.
O prefeito de Cachoeirinha,
segundo a PM, negociava com
as lideranças da aldeia a liberação da máquina, por intermédio da Funai e da Polícia Federal. A reportagem não conseguiu confirmar essa informação com a PF. A Funai informou que vai esperar o relato
dos funcionários para apurar o
que aconteceu. Ressaltou que
as vítimas cometeram ato ilegal
ao entrar na aldeia sem autorização e que, como estavam armados, os índios provavelmente agiram em legítima defesa.
Ainda de acordo com a PM,
foi o prefeito de Cachoeirinha,
Messias de Oliveira (PT), quem
elaborou um plano para resgatar o trator. A missão foi delegada a um cunhado dele, Joel da
Mota Reis, que chamou um lavrador e quatro servidores da
prefeitura para ajudá-lo, disse o
tenente Ademar de Souza Parente, da PM de Araguaína.
No sábado, enquanto cerca
de 150 índios assistiam a um jogo de futebol contra integrantes de outra aldeia, dois veículos foram deslocados até o local. Uma Kombi, onde estavam
o prefeito e seu cunhado, estacionou à entrada da aldeia, enquanto os funcionários da prefeitura seguiram em um outro
veículo, levando armas e uma
cópia da chave do trator.
Um dos servidores ligou a
máquina e deixou o local. Os
demais -Silveira Cordeiro da
Silva, Valfredo Rodrigues Ferreira, Gutierrez Leônidas de
Souza e Jonas Pereira dos Santos- ficaram para dar cobertura. Deram tiros para o alto, mas
foram cercados pelos índios.
Morreram com golpes de burdona, um artefato de madeira
usado como porrete.
Segundo a PM, o prefeito e o
cunhado fugiram da cidade
após o incidente e não haviam
sido encontrados até o final da
tarde de ontem. Parte dos índios fugiu para a mata e era procurada até a tarde de ontem.
Quando a PM e a Polícia Federal chegaram à aldeia, só havia cinco pessoas no local. A polícia recolheu três revólveres e
três espingardas.
De acordo com a Funai, cerca
de 50 índios vivem na aldeia.
Segundo o antropólogo Gilberto Azanha, do Centro de
Trabalho Indigenista, os índios
apinajés são "tranqüilos" e, para que houvesse tal reação, os
servidores deveriam estar armados -o que a PM confirma.
Azanha disse que a Funai deve agora enviar advogados ao
local para apurar o caso. Ele
acredita que dificilmente os autores do assassinato serão identificados. Se houver identificação, um inquérito deverá ser
instaurado pela PF. A legislação penal permite que índios
sejam condenados pela Justiça,
mas é preciso provar que o réu
conhecia a lei que foi violada.
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