São Paulo, segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Índios matam 4 homens a pauladas, diz PM

Vítimas tinham ido resgatar trator da prefeitura de Cachoeirinha (TO); veículo teria sido tomado pelos apinajés há duas semanas

Servidores estavam com armas, mas foram cercados pelos indígenas e mortos com golpes de burdona, um artefato de madeira

MATHEUS PICHONELLI
JOÃO CARLOS MAGALHÃES

DA AGÊNCIA FOLHA

Quatro homens foram mortos a pauladas por índios apinajés, anteontem à tarde, na aldeia Buriti Comprido, em São Bento do Tocantins, no norte do Tocantins, segundo informações da Polícia Militar.
As mortes ocorreram, de acordo com a PM, depois que as vítimas entraram na aldeia para reaver um trator da Prefeitura de Cachoeirinha.
O veículo havia sido tomado pelos índios há cerca de duas semanas, quando levava palhas de babaçu -fornecidas pela prefeitura- para a construção de ocas. A polícia disse que o ato foi uma forma de pressionar a administração local a providenciar a instalação de energia elétrica na aldeia.
Os índios pediam ainda a reconstrução de uma ponte próxima à aldeia, que havia sido queimada em um protesto contra a falta de energia elétrica.
O prefeito de Cachoeirinha, segundo a PM, negociava com as lideranças da aldeia a liberação da máquina, por intermédio da Funai e da Polícia Federal. A reportagem não conseguiu confirmar essa informação com a PF. A Funai informou que vai esperar o relato dos funcionários para apurar o que aconteceu. Ressaltou que as vítimas cometeram ato ilegal ao entrar na aldeia sem autorização e que, como estavam armados, os índios provavelmente agiram em legítima defesa.
Ainda de acordo com a PM, foi o prefeito de Cachoeirinha, Messias de Oliveira (PT), quem elaborou um plano para resgatar o trator. A missão foi delegada a um cunhado dele, Joel da Mota Reis, que chamou um lavrador e quatro servidores da prefeitura para ajudá-lo, disse o tenente Ademar de Souza Parente, da PM de Araguaína.
No sábado, enquanto cerca de 150 índios assistiam a um jogo de futebol contra integrantes de outra aldeia, dois veículos foram deslocados até o local. Uma Kombi, onde estavam o prefeito e seu cunhado, estacionou à entrada da aldeia, enquanto os funcionários da prefeitura seguiram em um outro veículo, levando armas e uma cópia da chave do trator.
Um dos servidores ligou a máquina e deixou o local. Os demais -Silveira Cordeiro da Silva, Valfredo Rodrigues Ferreira, Gutierrez Leônidas de Souza e Jonas Pereira dos Santos- ficaram para dar cobertura. Deram tiros para o alto, mas foram cercados pelos índios. Morreram com golpes de burdona, um artefato de madeira usado como porrete.
Segundo a PM, o prefeito e o cunhado fugiram da cidade após o incidente e não haviam sido encontrados até o final da tarde de ontem. Parte dos índios fugiu para a mata e era procurada até a tarde de ontem.
Quando a PM e a Polícia Federal chegaram à aldeia, só havia cinco pessoas no local. A polícia recolheu três revólveres e três espingardas.
De acordo com a Funai, cerca de 50 índios vivem na aldeia.
Segundo o antropólogo Gilberto Azanha, do Centro de Trabalho Indigenista, os índios apinajés são "tranqüilos" e, para que houvesse tal reação, os servidores deveriam estar armados -o que a PM confirma.
Azanha disse que a Funai deve agora enviar advogados ao local para apurar o caso. Ele acredita que dificilmente os autores do assassinato serão identificados. Se houver identificação, um inquérito deverá ser instaurado pela PF. A legislação penal permite que índios sejam condenados pela Justiça, mas é preciso provar que o réu conhecia a lei que foi violada.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Memória: RO foi palco de massacre há três anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.