São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A GRANDE FAMÍLIA

Pelo menos 8 familiares do presidente anunciaram que vão concorrer na disputa municipal deste ano

Parentes de Lula decidem encarar as urnas

RICARDO WESTIN
DA REDAÇÃO

FABIO SCHIVARTCHE
DO PAINEL

Mesmo ainda faltando nove meses, a "família Lula" já começa a se movimentar de olho nas eleições municipais. Até agora, pelo menos oito parentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciaram que pretendem concorrer em outubro.
Quem tenta seguir os passos do parente famoso são dois irmãos (por parte de pai), um sobrinho, quatro primos e uma cunhada (a irmã mais nova da primeira-dama da República).
Seus redutos eleitorais estão no agreste pernambucano (as cidades de Garanhuns e Caetés), na região metropolitana de Salvador (Dias D'Ávila), no ABC paulista (São Bernardo do Campo) e no litoral de São Paulo (Mongaguá).
"Se Lula conseguiu virar o chefe maior do Brasil, por que eu, que sou primo dele, não posso ser vereador de Garanhuns?", pergunta Paulo Sérgio Teixeira de Mello, 27, o Paulo de Cazuca, que trabalha consertando orelhões.
Foi acreditando nessa premissa aparentemente simples que, no mês passado, ele anunciou sua candidatura bem ao estilo do presidente, com um churrasco.
Só no eixo Garanhuns-Caetés, o presidente tem quatro primos candidatos nas eleições deste ano. Lula nasceu em Caetés, na época um distrito de Garanhuns.
"Se digo que ser primo de Lula não ajuda, estou mentindo", diz José Moura de Mello, o Moura, 50, dono de uma pequena empresa de construção em Garanhuns.
Dos oito parentes candidatos, Moura é o único que ambiciona o cargo mais alto. "Como prefeito, vou fazer por Garanhuns o que Lula está fazendo pelo Brasil."
Depois do presidente, o familiar que tem maior sucesso político é o ex-caminhoneiro José Florêncio Filho, o Dudinha, 66. Ele foi três vezes vereador e uma vez vice-prefeito de Garanhuns. Desta vez, "por insistência do povo", Dudinha será candidato a vereador pela pequena Caetés. Diz que até já começou a trabalhar:
"Estive em Brasília há pouco tempo e pedi a Lula cinco orelhões para a zona rural e três poços artesianos. Basta uma palavra dele, e os cabras fazem na hora. Estou no aguardo. Minha candidatura depende disso".
Na Bahia, a candidata da família é Maria da Silva Chamone, 44, dona de uma mercearia na cidade de Dias D'Ávila. Quando solteira, assinava Maria Inácio da Silva. Para a campanha eleitoral, a meia-irmã do presidente já concebeu um terceiro nome, bastante sugestivo: "Maria de Lula 2004".
Mas ela, que afirma que o presidente apóia sua candidatura, esclarece: "Não fico me gabando, falando que sou irmã dele. Até porque todo mundo aqui já sabe".
No berço político de Lula, em São Bernardo do Campo, o sobrinho Edison Inácio Marin da Silva, 40, acaba de lançar candidatura a vereador. O passado dele é sugestivo: trabalhou em fábricas e foi sindicalista. Hoje trabalha como assessor técnico no Ceagesp, entreposto de hortifrutigranjeiros de São Paulo, cargo do qual vai se licenciar para a campanha.
Contando com o parentesco, Edison prognostica: "Só se eu fosse louco para não fazer a associação com Lula. Se em 2003, um ano difícil, ele manteve altas taxas de aprovação, imagine como será em 2004, com o país crescendo".
Apesar da torcida familiar, há quem mantenha o ceticismo. Em Garanhuns, João Florêncio de Mello, o João de Doca, 64, primo que não é candidato, vê uma clara diferença entre Lula e a parentada: "Lula é uma coisa e os parentes são outra. Em política, você tem que ter o dom".


Texto Anterior: Alianças ajudam PT só nos grotões
Próximo Texto: Nem todos vão usar o nome do presidente
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.