São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alianças ajudam PT só nos grotões

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A intenção do PT de casar a reforma ministerial com a eleição municipal enfrenta problemas nos grandes centros. Por enquanto, essa "aliança estratégica", como definiu o ministro José Dirceu (Casa Civil), parece mais provável apenas nos grotões.
PMDB e PP, legendas que estão sendo incorporadas ao governo, resistem a eventuais alianças já no primeiro turno nas grandes capitais. O mesmo ocorre com outras siglas à "direita", como PTB e PL.
A começar por São Paulo, onde os aliados "conservadores", até por conta da dificuldade petista de assimilar nomes de fora do partido, avaliam outras variáveis.
O PMDB demonstrava disposição de se aliar a Marta Suplicy, indicando o candidato a vice. A prefeita, que pensa em disputar o governo paulista em 2006, prefere uma chapa puro-sangue.
Nessa hipótese, os peemedebistas já discutem uma alternativa própria: lançariam Michel Temer, atual presidente do PMDB, ou o ex-governador Orestes Quércia.
O PTB paulista pensa em lançar Ricardo Izar, enquanto o PL prefere esperar até ter mais clareza da situação. "O problema não é a Marta, é ver qual o melhor caminho para o partido", diz seu presidente, Valdemar da Costa Neto.
Também no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte (MG), em Recife (PE) e em Porto Alegre (RS) são quase nulas as possibilidades de o PT reeditar, no primeiro turno, a aliança federal.
A coligação é possível no Paraná, com o aval do governador Roberto Requião (PMDB) ao candidato a ser escolhido pelo PT, provavelmente o deputado Ângelo Vanhoni. Mas é inviável em Londrina, uma das maiores cidades do Estado.
No Rio, o PMDB entra na passarela com o ex-prefeito Luiz Paulo Conde. O PL, com o senador Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal. Em Porto Alegre, PT e PMDB são forças antagônicas e polarizam a disputa, assim como em Recife. O PL pretende lançar o vice-governador de Minas, Clésio Andrade, em Belo Horizonte.
"Não quero fazer alianças no primeiro turno, se não eu destruo o PTB", diz o presidente do partido, Roberto Jefferson (RJ). Os petebistas elegeram 26 deputados federais em 2002 e 350 prefeitos em 2000. Graças à aliança com o governo, ampliou sua bancada para 52 deputados e o número de prefeitos para 450.
"Se eu não ponho o time em campo, eu não tenho torcida. Vou me apequenar. Preciso de uma resposta na eleição que justifique meu crescimento congressual", diz Jefferson.
O PL é outro partido que cresceu à sombra do apoio congressual ao governo: elegeu 26 deputados, 332 prefeitos e 3.012 vereadores. Agora tem uma bancada de 43 deputados, 378 prefeitos, 3.984 vereadores e precisa manter ou aumentar a musculatura na eleição, para continuar a ser ouvido em Brasília.

Efeito Duda Mendonça
Nas grandes cidades, o PT deve se contentar com o compromisso dos aliados de não atacar o governo Lula e de apoios -recíprocos- no segundo turno. "Não vamos impedir os aliados de crescer", diz o presidente nacional do PT, José Genoino, que defende eventuais alianças com o PP de Paulo Maluf, hoje um aliado do governo no Congresso.
Segundo o presidente nacional do PT, o PP representa "uma base econômica e social" com a qual o Planalto mantém um diálogo permanente. Mas nega a possibilidade de um acordo com Maluf na eleição paulistana.
Setores do PT avaliam que a entrada de Maluf dividiria o eleitorado conservador, ajudando a candidatura de Marta. Apesar dos desmentidos, é certo que já há canais de comunicação abertos entre Marta e Maluf. Um deles opera na freqüência do publicitário Duda Mendonça, ex-marqueteiro de Maluf que fez a campanha vitoriosa do PT à Presidência da República e vai fazer a de Marta à prefeitura. (RAYMUNDO COSTA)


Texto Anterior: Dança dos ministros: Lula ouve muito, mas reluta em tomar decisões rápidas
Próximo Texto: A grande família: Parentes de Lula decidem encarar as urnas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.