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"Se a previsão for ruim, não digo"
DA ENVIADA A QUIXADÁ
Chico Mariano é "pop". Antes
de iniciar o Encontro de Profetas
Populares, já conversava em reservado com jornalistas, formavam-se rodinhas em torno dele.
Camisa branca, boina preta, pegou o microfone, pediu "uma salva de palmas" para os organizadores da reunião. Estava à vontade: "Profeta? Só teve um verdadeiro, que foi Noé. O primeiro profeta do mundo passou 40 anos
anunciando. Ninguém acreditou.
"É um doido, besta". Aqui ainda
tem uns daquele tempo de Noé".
O recado era para os que, porventura, duvidassem de suas
"profecias". Uma resposta a Raimundo Nonato, 68, um dos poucos agricultores da platéia: "Já vi o
Mariano errar muito". Nonato,
embora um profeta da chuva, já
que também observava a lua para
prever estiagens, nunca quis participar do encontro. "Nunca errei", disse Mariano, 69, à reportagem. A autoridade vinha do seu
"conhecimento" da água.
Já a fama vinha da cobertura
dos jornais: "Previsão de Chico
Mariano preocupa" foi título de
reportagem, em 1999, no "Diário
do Nordeste", jornal de maior circulação no Ceará. A preocupação,
porém, foi em vão: choveu em 99.
Mariano faz previsão olhando o
céu do mês de julho: se em 1º de
julho há nuvens, é janeiro de chuva. Se o dia 2 é limpo, fevereiro seco. E não tem cerimônia em desconsiderar métodos alheios. "Isso
é conversa dele, homem", ria, ao
falar da "experiência" de previsão
de Paulo Costa, 58, dentista que
também participava do encontro
de profetas apresentando a "vigília de Noé" -método que inclui
observar o céu por 40 dias, rezas e
abstinência sexual.
Mariano e Costa estavam, na
tarde do dia 10, junto com outro
profeta, Joaquim Santiago. Embora não fossem amigos, eles conviviam algumas horas para a gravação de um documentário.
"Profetas da Chuva", que deve ficar pronto em julho, é rodado
desde 2002, dirigido pelo cineasta
cearense Marcus Moura.
À câmera, Mariano dirá que a
técnica de prever as chuvas
aprendeu com o avô, mas que
ainda não a passou a nenhum dos
seus sete filhos. Deve dizer também, como disse à reportagem,
em tom de confissão, que nem
sempre diz tudo que prevê: "Já viu
médico dizer para o paciente que
ele vai morrer? Ele diz que tem esperança. Vai ver o bicho escapa. É
a mesma coisa comigo. Se for
ruim demais, não digo tudo..."
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