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OPERAÇÃO ANACONDA
Perícia em computador do agente Rodriguez identifica decisões de Rocha Mattos em favor de acusados
Advogado escreveu sentenças de juiz, diz PF
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma perícia feita pelo Instituto
Nacional de Criminalística na
memória de um computador
apreendido pela Operação Anaconda revela que o agente da Polícia Federal e advogado César Herman Rodriguez escrevia sentenças que foram assinadas pelo juiz
João Carlos da Rocha Mattos. As
sentenças são em geral digitadas
por funcionários do gabinete do
juiz ou estagiários.
Rodriguez e Rocha Mattos estão
presos em São Paulo, sob acusação de liderarem um grupo que
vendia setenças judiciais.
Em sete das dez sentenças encontradas no disco rígido de um
computador que era usado pelo
agente, o autor do arquivo foi batizado de "Cesar", segundo o relatório final da Operação Anaconda. A autoria em arquivos Word,
programa da Microsoft, pode ser
consultada num campo chamado
"propriedades". O computador
foi apreendido no escritório de
advocacia de Affonso Passarelli
Filho, na avenida Faria Lima, na
zona oeste de São Paulo.
Das sete sentenças de "Cesar",
só uma é de condenação. As outras seis absolvem acusados de
contrabando, de sonegar imposto
de renda e de apropriação de recursos da Previdência por parte
de empresários que descontam o
valor do salário dos funcionários
e não repassam o montante para
o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).
Todas as sentenças foram escritas em 1996, segundo o laudo do
Instituto Nacional de Criminalística. À época, Rodriguez estava
afastado da PF e atuava como advogado -havia sido expulso em
1992, sob acusação de ter contrabandeado um fuzil AR-15 de Miami, e foi reintegrado em agosto de
1999, por decisão judicial.
Hermínio Alberto Marques
Porto Jr., advogado de Rodriguez,
afirma que o agente não escreveu
as sentenças. Elas estavam na memória de um computador que o
agente comprou do juiz Rocha
Mattos e foram transferidas para
outra máquina para servirem como um banco de dados jurídico
(leia texto abaixo).
Odemir Bruno, professor do
Instituto de Ciências Matemáticas
e da Computação da USP em São
Carlos (SP), diz que, se houve
uma simples transferência de arquivo, o nome do autor que criou
o documento não se altera.
Bruno analisou cinco hipóteses
e concluiu que o nome de autor
do arquivo se altera "com certeza"
em dois casos: quando é usado o
recurso copia e cola (o autor passa
a ser quem fez a última operação)
e se fosse utilizado um outro programa de texto (como o Star Office ou Open Office) para manipular o documento criado no Word.
"Um documento desses é uma
evidência, não uma prova. Ninguém pode afirmar com certeza o
que aconteceu quando há pelo
menos cinco hipóteses. No mundo virtual, é muito difícil estabelecer a autoria", diz Bruno.
A PF também achou nos computadores do escritório da Faria
Lima arquivos que haviam sido
apagados. Num telefonema em 12
de setembro de 2003, gravado pela PF, o advogado Passarelli Filho
manda uma pessoa chamada Reizinho apagar arquivos, sumir
com pastas -"tudo que tiver tem
de tirar", ordena, na mais evidente demonstração de que o grupo
sabia que era investigado.
Um dos arquivos apagados continha formulários para emissão
de passaporte para três filhos do
juiz Casem Mazloum.
Havia também na memória de
um computador uma ação judicial da juíza Adriana Pilleggi de
Soveral contra cinco procuradores que haviam criticado sua decisão de excluir o ex-prefeito Paulo
Maluf numa ação em que ele era
acusado pela emissão de títulos da
dívida da Prefeitura de São Paulo
de forma fraudulenta.
"Nos computadores do escritório de Passarelli e Guimil Ltda. foram encontrados elementos indicativos do vínculo de Adriana Soveral" com a organização criminosa, afirma o relatório.
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