São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

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Irritado com Executiva, Alckmin viaja para se encontrar com Tasso

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, embarcou ontem com destino a Brasília para uma reunião com o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, e hoje almoça com o governador de Minas, Aécio Neves. Na bagagem, queixas sobre a atuação da Executiva do partido no processo de escolha do candidato do partido à Presidência da República.
A interlocutores Alckmin reclama de integrantes da Executiva atuarem como chefes de torcida. Um exemplo recente teria sido a decisão de resumir o tempo de propaganda eleitoral, a que o partido terá direito em março, a críticas ao governo federal. Pela proposta de Alckmin, os comerciais seriam destinados a apresentação de sua obra e a do prefeito de São Paulo, José Serra. Mas venceu a idéia atribuída a Serra.
"Por que ele não assume a candidatura?", tem desafiado Alckmin em suas conversas com tucanos. Ontem, apesar das juras de apoio mútuo, Alckmin e Serra trocaram alfinetadas diante de uma platéia de prefeitos tucanos.
Incomodado com a estratégia do governador -de destacar que ele ainda não lançara sua pré-candidatura- Serra cobrou unidade partidária e criticou a "publicação" das divergências internas na sigla numa reunião do PSDB.
"Não podemos debater nossas divergências publicamente, para não dar munição para nossos adversários", disse Serra, após elogiar a administração de Alckmin e do ex-governador Mário Covas.
Alckmin deu o troco. Ao prometer emprestar "seu prestígio" ao candidato escolhido pelo partido, o governador fez questão de lembrar sua atuação em favor de Serra para a Prefeitura.
"Quem for escolhido candidato, serei o primeiro a erguer a bandeira e trabalhar por ele. Se o Serra for candidato, vou trabalhar, assim como já trabalhei na prefeitura que o PSDB ganhou pela primeira vez", disse, ressaltando: "Mas, com a mesma franqueza, olhando aqui nos olhos de cada um: eu vou disputar as eleições para a Presidência".
No entanto, Serra já não estava lá para ouvi-lo. O prefeito deixou o evento antes do discurso de Alckmin, declarando-se amigo do governador. Mas o calor é tanto que, na segunda-feira, Tasso reuniu a cúpula do PSDB no Rio na tentativa de fixar critérios para a escolha do candidato. Tasso e Fernando Henrique Cardoso foram destacados como interlocutores credenciados pelos dois pré-candidatos.
Já em Brasília, Tasso afirmou que, apesar de "posições naturais de fãs", a escolha será feita "sem conflito". Em jantar, os tucanos avaliaram os movimentos políticos de Alckmin e Serra. Participaram do encontro, além de Tasso e Paes, o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM), e o governador de Minas, Aécio Neves.
FHC está no exterior, mas será ouvido nos próximos dias. Para Virgílio, Tasso e FHC serão "interlocutores privilegiados" na definição entre Alckmin e Serra. "Temos de levar em conta fatores importantes para o PSDB e também para aliados de fora do partido", afirmou ele.
Hoje, o PFL, principal aliado dos tucanos, tem preferência pelo nome de Serra. Aécio explicitou sua preocupação: o risco de o preterido sair fragilizado da disputa.
Na reunião, Tasso afirmou que a disputa é natural. "Dentro de um clima de candidatura, tem sempre quem defenda um ou outro, como fãs, o que é normal".
O presidente do PSDB tentou minimizar os gestos de Alckmin, que declarou que irá deixar o governo do Estado para disputar a presidência e não estaria interessado em qualquer outro cargo eletivo. "Não vejo por que tanto barulho", disse Tasso. Virgílio também adotou o discurso da conciliação. "Quem se põe [como pré-candidato] tem de ter liberdade. O importante é garantir que a indicação seja conseqüência."
O líder tucano no Senado também comentou as últimas declarações de Serra, que aproveitou um evento anteontem para debater temas nacionais. "Se um pode, o outro pode", disse Virgílio, referindo-se à investida de Serra.
Embora não assuma publicamente a intenção de deixar a prefeitura para disputar a sucessão presidencial, Serra elevou o tom das críticas ao presidente Lula em uma área sensível aos empresários simpáticos à candidatura de Geraldo Alckmin.
Pelo segundo dia consecutivo, Serra criticou o comportamento do Banco Central em relação à taxa de câmbio no Brasil atacando diretamente o presidente, afirmando que Lula comanda o país "como se fosse presidente de uma ONG". "O que falta é governo que funcione, porque o Brasil não é uma ONG. O atual presidente funciona como se fosse o presidente de uma ONG", disse.


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