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SOMBRA NO PLANALTO
Pesquisa encomendada pelo governo indicou importância de investigação parlamentar
Dirceu diz que se afasta do cargo caso CPI seja aprovada
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, colocou o cargo à disposição do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em reunião anteontem de manhã no Palácio do Planalto. Na reunião, que discutia o
impacto do caso Waldomiro Diniz sobre o governo, Lula nem
respondeu, num sinal de discordância com a possibilidade, que,
ao pé da letra, significaria a saída
do ministro do governo.
Ontem, Dirceu voltou ao assunto de forma contundente. Ele avisou às presidências da Câmara e
do Senado e a líderes aliados que
já tomou uma decisão: caso haja
qualquer CPI, seja restrita, seja
ampla, seja unicameral ou do
Congresso, ele vai se afastar do
cargo para se dedicar "à defesa".
No mesmo dia em que Dirceu
colocava o cargo à disposição de
Lula, o governo recebeu o resultado parcial de uma pesquisa telefônica, que ele próprio encomendara, apontando que a maioria dos
entrevistados achava "importante" uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso sobre o caso Waldomiro.
A pesquisa aponta ainda desgaste do governo e do PT com o
episódio da fita de vídeo gravada
em 2002 que mostra Waldomiro
Diniz pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário de bingos. Na época, ele presidia a Loterj (Loteria do Estado
do Rio de Janeiro). Depois, como
homem de confiança de Dirceu,
virou subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, cargo que
deixou na última sexta-feira.
Surpresa
Segundo a Folha apurou, Dirceu deixou surpresos os participantes da reunião do Planalto em
que ele pôs o cargo à disposição
de Lula. Quando o ministro falou
em sair do cargo, se discutia o impacto do caso e a ida de Dirceu ao
Congresso para entregar a mensagem presidencial por ocasião
do início do ano legislativo. Ou seja, falava-se da importância de
prestigiá-lo e fortalecê-lo para evitar enfraquecimento do governo.
Apesar disso, Dirceu afirmou
que, na hipótese de aumento da
repercussão negativa do caso
Waldomiro Diniz, talvez fosse
preciso avaliar se não era conveniente que ele deixasse o governo.
Olhando para Lula, ele disse: "Eu
estou disponível". Mas Lula nem
deu resposta, sinalizando que não
pensava nessa possibilidade.
Ontem, ao confirmar a disposição para interlocutores do Congresso, o ministro disse que tinha
dois exemplos. Um foi o do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça
de Barros (Comunicações), que
foi ao Congresso se explicar sobre
as fitas das privatizações no governo FHC e acabou tendo que
deixar o cargo. O outro foi o de
Henrique Hargreaves, ex-chefe da
Casa Civil de Itamar Franco, que
se antecipou, pedindo afastamento e voltando ao cargo quando tudo foi esclarecido. "Prefiro seguir
o exemplo do Hargreaves", disse
Dirceu, segundo interlocutores.
Pessoas próximas do ministro
político mais forte do governo dizem que ele está muito abatido e
declarou ter ficado surpreso com
o pedido de propina feito por
Waldomiro, que conhecia havia
12 anos e com quem dividiu apartamento no tempo de deputado.
Lula avalia que uma eventual
saída de Dirceu do governo seria
uma espécie de confissão de culpa
e enfraqueceria brutalmente sua
administração. Em encontro com
jornalistas na semana passada,
Lula disse que Dirceu era o "capitão" do time. Na reforma ministerial, Lula tirou as atribuições políticas da Casa Civil a fim de liberar
Dirceu para cuidar com mais
afinco do gerenciamento.
A opinião da necessidade de
preservar Dirceu foi unânime na
reunião, da qual participaram os
ministros Jaques Wagner (Conselhão), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Aldo Rebelo
(Coordenação Política).
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, também foi chamado a participar do encontro.
Foi nessa reunião que se decidiu
tornar público um trabalho que
era feito nos bastidores: a varredura dos atos de Waldomiro na
Casa Civil para evitar surpresas.
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