São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Defesa não teve acesso à investigação com antecedência

Gomes da Silva é "bode expiatório", afirma advogado

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado Roberto Podval, defensor de Sérgio Gomes da Silva, acusado pelo assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), disse ontem que seu cliente é o "bode expiatório da vez" e fez duras críticas às investigações que, segundo ele, fogem das regras jurídicas.
"Quero saber quais são as regras do jogo, porque isso não aprendi na faculdade. Se querem condenar sem provas, que condenem, mas que digam isso", disse Podval. Ele completou: "Não vou fazer papel de bobo, não sou palhaço. O que está acontecendo é assustador. Ele [Gomes da Silva] é o bode expiatório. Hoje é ele, amanhã pode ser eu, depois vocês, depois os donos dos jornais".
A declaração ou "desabafo", como disse Podval, foi feita ontem após Gomes da Silva deixar a sede da PF de São Paulo, que investiga suposto crime de sonegação fiscal atribuído ao empresário, que está preso desde dezembro em uma cadeia de Juquitiba (SP).
Podval e o advogado Adriano Vanni não tiveram acesso com antecedência à investigação promovida pela polícia: "Entregaram o inquérito uns cinco minutos antes do depoimento", disse Vanni. Por orientação da defesa, Gomes da Silva permaneceu em silêncio.
"Não existe auto de infração da Receita Federal. Não há um valor estipulado de quanto é preciso pagar para extinguir o processo, não há nada", disse Podval, para quem a Polícia Federal está sendo "usada" para a produção de provas para outras investigações.
Além do inquérito por sonegação fiscal, Gomes da Silva responde por crime de homicídio qualificado contra o prefeito. Ele foi denunciado também por corrupção -segundo Ministério Público, o empresário participaria de um suposto esquema de arrecadação de propina na Prefeitura de Santo André (SP), o que teria motivado o crime contra Daniel.
"[Os policiais] repetiram as mesmas perguntas que já tinham feito para o Sérgio e que ele não respondeu. Não perguntaram sobre sonegação", disse Vanni -no processo por crime de homicídio, Gomes da Silva se recusou a responder perguntas sobre o suposto esquema de corrupção na prefeitura petista.
O delegado Wagner Castilho, assessor de imprensa da PF em São Paulo, afirmou que os advogados não tiveram acesso ao inquérito com antecedência porque não tinham uma procuração de Gomes da Silva. "O inquérito é sigiloso e é preciso apresentar uma autorização expressa do acusado", afirmou. Na falta do documento, a autorização foi dada verbalmente por Gomes da Silva quando chegou à sede da polícia.
Segundo Castilho, o empresário será ouvido novamente sobre sonegação fiscal após a Receita encaminhar o auto de infração -documento necessário para o indiciamento. A investigação na PF começou há menos de um mês, após a Justiça criminal de Santo André determinar a quebra do sigilo bancário e fiscal de Gomes da Silva entre 1997 e 2002 e repassar os documentos à polícia.
Antes de retornar à cadeia, Gomes da Silva passou por exame de corpo de delito no IML de SP.


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