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ELIO GASPARI
Para que serve o poder de Dirceu?
O episódio do doutor Waldomiro Diniz expôs a debilidade de um projeto de poder
do comissariado petista. Trata-se de um projeto de poder primitivo, truculento, pobre. Só encontra paralelo em algumas
condutas da nobiliarquia alagoana na fase dourada do
collorato. Ele foi o primeiro, infelizmente não será o último.
Começando pelo doutor Waldomiro. O moço se aproximou
de José Dirceu precisamente no
final dos anos 90, durante os
quais o comissário moeu o PT
do Rio de Janeiro, impondo-lhe
os modos de Benedita da Silva e
os meios de Anthony Garotinho.
Essa visão de mundo aproximou Waldomiro Diniz de José
Dirceu. Um dia alguém vai estudar essas semanas e descobrirá
que os verdadeiros fundadores
do novo PT chamam-se Leonel
Brizola, Benedita da Silva e Anthony Garotinho. Foram eles
que conseguiram de Lula, Genoino e José Dirceu a carga da
cavalaria cossaca contra a esquerda carioca. Mais tarde, em
memorável cena de rompimento, Rosinha Matheus desentendeu-se com Dirceu e Garotinho
chamou o PT de "partido da boquinha".
Para se compreender a mecânica de poder que gera Waldomiros e toda a família de poderosos cometas de Brasília, vale
lembrar uma história atribuída
ao príncipe de Talleyrand, o
magistral chanceler da França,
quando a serviço de Napoleão
Bonaparte. Um negociador estrangeiro queria corrompê-lo e
disse-lhe:
"Dou-lhe 20 mil francos e não
conto a ninguém".
Talleyrand respondeu: "Dê-me 40 mil francos e conte a
quem quiser".
A diferença entre Talleyrand e
os Waldomiros desta vida está
no fato de que o bom príncipe
não esperava sigilo de quem o
comprava. Os Waldomiros acreditam que o andar de cima, com
sua experiência secular, vai contratá-los com cláusulas de confidencialidade.
Quando o PT diz que a extorsão praticada por Waldomiro
tem algo a ver com a arrecadação ilegal de fundos de campanha, mente e faz-se de bobo. Há
casos de empresas que, na defesa de suas idéias (ou de seus interesses genéricos) dão dinheiro
a candidatos sem registros contábeis. É o velho caixa dois. O
que Waldomiro propunha a
Carlinhos Cachoeira era que o
bicheiro desse nova redação a
um edital para a licitação de um
serviço público. Assim como não
há seqüestro-de-campanha, não
pode haver achaque-de-campanha.
Quando o PT-Federal diz que
agiu prontamente, demitindo o
funcionário, faz rir. Faltava só
que o mantivesse na função, indo ao Congresso negociar o fim
da multa do FGTS. O velho e
bom PT carioca mostrou aos comissários o que se fazia no Rio.
Havia mais provas de waldomiranças no Planalto do que de
água em Marte. É nesse sentido
que o projeto de poder do PT-Federal é débil, pueril no seu
deslumbramento.
Quem viu os 15 segundos de
fama do doutor Waldomiro no
Jornal Nacional conheceu seus
métodos de negociação. Essas
pessoas merecem saber que,
além do comissário José Dirceu
e de seus secretários-executivos,
só quatro funcionários da Casa
Civil tinham acesso às senhas
capazes de entrar no banco de
dados onde os companheiros listam o que se faz, o que se pede e
o que se promete à custa da Viúva.
Waldomiro Diniz tinha uma
utilidade. Era instrumento do
poder de José Dirceu. Feita essa
constatação, cabe a seguinte
pergunta: para que serve o poder de José Dirceu, além de alimentar as conversas a respeito
do tamanho do poder do comissário José Dirceu?
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