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Indefinição de ministério de Lula é recorde histórico
Em 49 dias, petista não fechou equipe do 2º mandato; antes, maior demora era 5 dias
FHC, único caso anterior de chefe de Estado reeleito democraticamente no Brasil, já tomou posse com nova equipe ministerial
RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO
O petista Luiz Inácio Lula da
Silva busca imprimir a seu segundo mandato a marca da aceleração do crescimento, mas,
por enquanto, conseguiu um
outro recorde, nada positivo.
Com 49 dias no cargo, é o presidente efetivo que mais tempo
demorou para definir seu ministério na história do país.
Na semana passada, Lula voltou a afirmar o que já dissera
antes: que nenhum dos atuais
ocupantes dos ministérios está
garantido no cargo após a reforma que pretende fazer. Não oficializou, portanto, a equipe que
o acompanhará na Esplanada
no segundo mandato.
Em toda a história republicana brasileira, que começou em
1889, nenhum presidente que
assumiu o cargo de maneira
efetiva (sem ser interino) demorou mais do que cinco dias,
incluindo o da posse, para nomear o primeiro integrante do
ministério. É o caso de Nilo Peçanha, que em 1909 assumiu a
vaga deixada por Affonso Penna, que morreu no exercício do
mandato no dia 14 de junho.
Em 18 de junho, Peçanha já
havia nomeado novos ministros da Justiça e da Guerra.
Outros presidentes que assumiram mandatos de maneira
inesperada também mostraram agilidade superior a Lula
na definição dos ministérios.
O pai da República brasileira,
marechal Deodoro da Fonseca,
derrubou o Império em 15 de
novembro de 1889 já com um
ministro da Fazenda definido
-Ruy Barbosa, que ficaria no
cargo até janeiro de 1891, um
mês antes da saída de Deodoro.
Getúlio Vargas tomou posse
do seu primeiro mandato, fruto
da Revolução de 1930, em 3 de
novembro daquele ano. No
mesmo dia, nomeou dois ministros (da Justiça e da Agricultura). Desde o início da revolução, passou exatamente um
mês até que Getúlio assumisse,
já com dois ministros -e, no
dia seguinte, ele ainda nomeou
o chefe da pasta da Fazenda.
Café Filho assumiu em 24 de
agosto de 1954, após Vargas cometer suicídio. Dois dias depois
já tinha seus ministros da Fazenda, das Relações Exteriores
e o chefe do Gabinete Civil.
João Goulart estava em viagem à China quando Jânio
Quadros renunciou, em 25 de
agosto de 1961. Assumiu o mandato só no dia 8 de setembro,
mas já com uma equipe ministerial inteiramente montada.
Após o golpe de 1964, que
derrubou Goulart, Castello
Branco foi empossado em 15 de
abril já com 12 dos 18 cargos na
Esplanada preenchidos.
Itamar Franco substituiu
Fernando Collor, alvo de um
processo de impeachment, em
2 de outubro de 1992. Em três
dias, já tinha novos ministros
da Educação, da Fazenda, das
Comunicações, do Gabinete
Civil, do Gabinete Militar, da
Justiça, do Planejamento e das
Relações Exteriores.
Outras reeleições
Lula pode usar a seu favor o
argumento de que, como se
reelegeu, já tem um ministério
montado e não tem pressa para
substituir seus auxiliares. Como a Folha mostrou na semana passada, porém, a indefinição vem causando como efeito
a paralisia dos ministérios.
Há ainda o agravante que,
além dos 49 dias de mandato,
Lula teve pelo menos outros 53
-da reeleição, em 29 de outubro do ano passado, até 31 de
dezembro- para montar a sua
equipe ministerial.
A comparação com os outros
dois presidentes "reeleitos" da
história brasileira também não
favorece o petista: Vargas, que
assumiu a Presidência em 1930
por meio de um golpe, foi eleito
em 24 de julho de 1934, de forma indireta, para mais quatro
anos de mandato (acabaria
dando um novo golpe que prorrogou sua permanência no cargo até 1945). No mesmo dia, já
nomeou um novo ministro da
Fazenda, Artur de Souza Costa.
Fernando Henrique Cardoso, primeiro presidente reeleito democraticamente, anunciou sua reforma ministerial no
dia 23 de dezembro de 1998,
ainda no seu primeiro mandato. Tomou posse para o segundo, em 1º de janeiro de 1999,
junto com os novos ministros,
alguns deles, como Celso Lafer
(Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior), ocupando
pastas recém-criadas.
Assim como Fernando Henrique, todos os presidentes que
foram diretamente eleitos (inclusive o próprio Lula, em
2003) nomearam sua equipe
ministerial já no primeiro dia
de mandato.
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