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Pressionada, Câmara anuncia divulgação parcial de nota fiscal
Prestação de contas da verba indenizatória gasta a partir de agora será colocada na internet, em 45 dias, sem o CNPJ das empresas
Deputados não discutiram possibilidade de fornecer dados sobre o 1,5 milhão de notas apresentadas nos oito anos de existência da verba
MARIA CLARA CABRAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quase oito anos após criar
um ressarcimento mensal para
supostos gastos nos Estados
dos 513 deputados federais, a
Mesa da Câmara decidiu ontem
ampliar a transparência em relação à prestação de contas da
chamada verba indenizatória,
mas estabeleceu duas ressalvas: a abertura das notas fiscais
será parcial e o passado permanecerá sob sigilo.
Em reunião curta e a portas
fechadas, os sete deputados que
formam a cúpula da Câmara
-entre eles o presidente, Michel Temer (PMDB-SP)- formalizaram a decisão, que já havia sido combinada com antecedência como resposta imediata à suspeita de que o ex-corregedor Edmar Moreira tenha
usado a verba para pagar sua
própria empresa de segurança.
Pelo anunciado, a Câmara
colocará na internet, em até 45
dias, parte dos dados das notas
fiscais apresentadas pelos deputados federais para obterem
o ressarcimento, atualmente
em R$ 15 mil mensais.
Serão fornecidos o nome da
empresa -não ficou claro se o
nome fantasia ou o nome formal-, o valor do gasto e o número do documento fiscal. Como já haviam anunciado nos
bastidores, os deputados nem
discutiram a possibilidade de
fornecer dados sobre o 1,5 milhão de notas apresentadas nos
oito anos de uso da verba até
aqui. Ou seja, a transparência
anunciada ontem valerá apenas para o futuro.
Além disso, e mais importante, a Mesa decidiu que não informará o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), espécie de número de identidade
das empresas, com o qual é possível, entre outras coisas, saber
se ela está ativa ou tem pendências com a Receita Federal.
A cúpula da Câmara avaliou
que a divulgação do CNPJ poderia constranger deputados
que fizeram gastos em empresas com irregularidades fiscais
ou cadastrais. A decisão destoa,
por exemplo, da fórmula adotada pelo governo federal, que
fornece no Porta da Transparência (www.transparencia.gov.br) o CNPJ de empresas que lhe prestam serviços.
Segundo o primeiro-secretário da Câmara, Rafael Guerra, a
Casa fornecerá aos interessados acesso às notas fiscais (com
a informação do CNPJ), mas
ele não deixou claro de que forma isso se dará. "Se isso não
trouxer mais transparência à
Câmara, não sabemos o que
mais fazer", disse Temer.
A Câmara argumentou que
os 45 dias de demora para que a
medida entre em vigor serão
necessários para "adaptações
técnicas". Hoje, a Câmara fornece, em sua página na internet apenas dados genéricos sobre o uso da verba.
Ontem, no entanto, após o
anúncio da medida, Rafael
Guerra confirmou que já está
fazendo um estudo para acabar
com a verba indenizatória e incorpora-la ao salário. Uma das
possibilidades é equiparar o
atual vencimento dos congressistas, de R$ 16,5 mil, com o teto do STF, de R$ 24,5 mil.
No Senado, o presidente José Sarney (PMDB-AP) anunciou ontem que vai apresentar
na próxima reunião da Mesa
Diretora da Casa uma proposta
para a divulgação das notas fiscais apresentadas pelos 81 senadores para justificar os gastos com a verba indenizatória.
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