São Paulo, Quinta-feira, 18 de Fevereiro de 1999
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NORDESTE
Fundo investiu R$ 550 milhões em empresas que fecharam sem dar retorno; agora, elas podem ser vendidas
Sudene vai leiloar "esqueletos" do Finor


ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió


O novo superintendente da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), Aloísio Sotero, planeja leiloar os ""esqueletos" do Finor (Fundo de Investimento do Nordeste), que nos últimos 40 anos investiu R$ 550 milhões em empresas que fecharam sem dar retorno ou que nunca foram concluídas.
Sotero, que é ligado politicamente ao vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL-PE), toma posse na segunda e vai constituir uma comissão para levantar o patrimônio das empresas que podem ser leiloadas. ""Vamos leiloar os "esqueletos" do Finor para aplicar os recursos recuperados em projetos de alfabetização", afirmou.
O objetivo da medida, segundo Sotero, é tirar nordestinos carentes do atraso cultural.
A Folha publicou ontem um balanço exclusivo das atividades dos 40 anos do Finor. Das 2.070 empresas financiadas pelo fundo, 650 estão fechadas ou nunca foram concluídas. De 46 delas o governo tenta, na Justiça, cobrar R$ 381,1 milhões dos empresários que são acusados de terem desviado os recursos, segundo auditorias do Tribunal de Contas da União e da Sudene obtidas pela Agência Folha.
Há casos de empresários que transferiram todo o valor do Finor -que pode ser de até 40% do projeto proposto- para hospitais particulares ou para a compra de apartamentos e carros.
As auditorias foram realizadas para verificar o destino dos R$ 13,6 bilhões (em valores atualizados) investidos pelo Finor desde que começou a funcionar, em 1959.

"Ações moralizadoras"
Sotero assume o cargo que foi ocupado pelo tucano Sérgio Moreira, que já assumiu a presidência executiva do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa).
Nas gestões de Moreira e do ex-superintendente general Newton Rodrigues aconteceram as primeiras auditorias no Finor e a eliminação dos critérios políticos na liberação de recursos. Com isso, houve um melhor aproveitamento dos recursos.
""Com as ações moralizadoras iniciadas pelo general conseguimos criar 82 mil empregos diretos apenas em 98, contra os 433 mil em toda a história do Finor. Espero que o Sotero encontre uma brecha legal para leiloar os "esqueletos" do Finor sem que se tenha que passar pelos demorados caminhos da cobrança judicial", afirmou Moreira.
Sotero prefere não revelar como pensa executar seu plano de leilões dos prédios do Finor. Ele afirma que prefere aguardar o levantamento da comissão.

Problemas políticos
O novo superintendente da Sudene vai solicitar ajuda dos governadores nordestinos na identificação dos ""esqueletos" do Fundo. Ele pretende diluir problemas políticos, segundo apurou a Agência Folha, já que a maioria dos empresários beneficiados com os incentivos do Finor possui ligações com políticos da região.


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