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ALIADOS EM CRISE
Inquérito policial envolvendo diretores da construtora corre em São Paulo desde 94 em sigilo de Justiça
Guerra Jader-ACM faz ressurgir caso OAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A guerra entre os senadores
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA)
tirou da gaveta um inquérito policial que corre desde 1994 em São
Paulo. Conhecido como "caso Gigante", envolve oito diretores da
construtora OAS, com sede na
Bahia. Nunca resultou em nada.
Sob o número 2-1759, de dezembro de 1994, o inquérito reúne
99 volumes, dos quais a Folha teve acesso a dois calhamaços de
quase mil páginas. Tramita em sigilo de Justiça na Justiça Federal
em Guarulhos (SP) e contém fortes indícios de evasão de divisas e
sonegação fiscal.
Cópias do inquérito circulam
em Brasília, distribuídas por pessoas ligadas ao PMDB que tentam
revidar a onda de denúncias de
ACM contra Jader.
ACM tem notórias ligações com
a OAS e era sogro de um dos donos da empresa, César Mata Pires.
Segundo o PMDB, as relações
de ACM com a construtora mantêm-se até hoje. Diz-se no partido
também que a OAS está sendo beneficiada com o desvio de dinheiro público para a obra do aeroporto Luís Eduardo Magalhães,
em Salvador, sob investigação do
TCU (Tribunal de Contas da
União).
Prisão
O "caso Gigante" começa no dia
18 de dezembro de 1994, pouco
mais de dois meses depois da eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso para a Presidência
da República.
Foi naquele dia que a Polícia Federal prendeu no aeroporto de
Guarulhos o ex-diretor da OAS
José Raul Sena Gigante, radicado
em Londres, com uma pasta contendo cartões de crédito dos oito
diretores da construtora e farta
documentação sobre empresas financeiras no exterior, inclusive
paraísos fiscais.
O auto de apreensão encaminhado pelo delegado João Carlos
Sanchez Abraços à direção da PF,
ao qual a Folha teve acesso, informou que os cartões eram do
Coutts & CO, em nome do próprio César Mata Pires e de Luiz da
Rocha Sales Filho, Carlos Laranjeira, Nicolau Martins, Luiz Abreu
Silva, Teresa Martins e Telma Maria da Silva.
Havia também na pasta documentos de diferentes empresas financeiras estrangeiras, como Tiel
Finance Corp. e Citibank, ambas
em Luxemburgo, e procurações
de cofre forte do J.P. Morgan S/A,
na Suíça.
Foram apreendidos, ainda, o
computador portátil e uma agenda manuscrita de Gigante, que estava acompanhado da mulher,
Yara Guimarães Aguirre Zurcher
Gigante.
Contas bancárias
Em seu depoimento à polícia,
no dia em que foi detido, gigante
declarou que mantinha contas
bancárias em diversos países, especialmente Inglaterra, Estados
Unidos, Ilhas Virgens Britânicas,
Uruguai, Luxemburgo, Ilha de
Mam e Suíça.
Disse também, conforme termo
de declarações anexado ao inquérito, que mantinha duas firmas
em caráter permanente, a Allog
Consultancy Ltda., em Londres, e
a Allog Consultancy Inc., em
Stanford, EUA.
Em despacho de 5 de janeiro de
1995 para a direção da PF, o delegado Abraços escreveu: "Tais documentos (apreendidos com Gigante) revelam, à primeira vista, a
montagem de uma rede de empresas estrangeiras, em paraísos
fiscais, indiretamente constituídas pelo grupo empresarial brasileiro OAS, através de José Raul Sena Gigante, que sediado no exterior promoveria as interligações
entre tais empresas no exterior e
no Brasil".
Nesse mesmo despacho, Abraços diz que o inquérito trata da
"apuração de eventual responsabilidade criminal" de Gigante,
"relativa à constituição e operação de empresas em paraísos fiscais, em conluio com empresas
brasileiras, com vistas a proceder
a lavagem de dinheiro proveniente de procedimentos ilícitos de
subfaturamento de exportações e
outras fraudes, com reflexos penais-tributários".
Volume de dinheiro
Entre os fatos que deveriam "ser
cabalmente esclarecidos", segundo Abraços, dois chamam a atenção pelo volume de dinheiro:
1) Gigante era diretor da firma
Marnell Holdings Ltda., das Ilhas
Virgens Britânicas, que, segundo
a documentação, fez aplicações
em títulos do Tesouro Americano, através da Union Bancaire
Privée, de aproximadamente US$
35 milhões;
2) Correspondência entre Gigante e o escritório de advocacia
Noronha, diz o despacho, "acena
com discussões sobre operações
financeiras, envolvendo as firmas
estrangeiras, a um grupo empresarial brasileiro, que alcançariam
a cifra de US$ 500 milhões".
O inquérito, depois de idas e
vindas, tramita em segredo de
Justiça, tem 99 volumes e foi copiado para o procurador-geral da
República, Geraldo Brindeiro, no
dia 18 de setembro de 2000.
Seu principal responsável, o delegado Abraços, já até se aposentou da Polícia Federal. Ele foi um
dos policiais mais importantes do
chamado "caso PC Farias", que
apurou irregularidades no governo Fernando Collor.
Se houve crime fiscal, a multa já
prescreveu. Conforme a Receita
Federal, o prazo para multas é de
até cinco anos. Gigante foi preso e
o inquérito foi instaurado há pouco mais de seis.
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