São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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ACIDENTE EM ALTO-MAR

Voluntários da Petrobras encontram um dos dez mortos em consequência das explosões na 5ª

Primeiro corpo é resgatado da plataforma

CRISTIAN KLEIN
SABRINA PETRY


ENVIADOS ESPECIAIS A MACAÉ

A Petrobras conseguiu resgatar ontem o primeiro dos dez corpos dos funcionários que morreram em consequência das explosões que atingiram a plataforma de petróleo P-36, na bacia de Campos, na madrugada de quinta-feira.
O corpo foi encontrado por volta das 11h por funcionários voluntários que entraram na P-36 ontem e seguiu de helicóptero para o Instituto Médico Legal de Macaé, a 188 km do Rio.
O cadáver estava partido em dois na altura da cintura e apresentava queimaduras.
O morto foi identificado como Sérgio dos Santos Souza, 34, mecânico. Ele era casado, tinha dois filhos e trabalhava havia 12 anos na estatal. Seu corpo deverá seguir para a Bahia.
O presidente da Petrobras, Henri Reichstul, se encontrou ontem em Macaé com parentes dos mortos. "Podemos dar apoio material e moral, mas ninguém consegue reparar a perda", disse ele, qualificando as vítimas como "heróis".
Reichstul afirmou que a plataforma afundou mais meio metro em 12 horas -da noite de anteontem até o início da manhã de ontem. Segundo ele, as perspectivas de que a plataforma não afunde completamente ficaram mais otimistas, apesar de, em nota divulgada ontem, a Petrobras ter frisado que os riscos de naufrágio ainda eram muito altos.
Segundo a Petrobras, a plataforma imergiu 1,5 metro no dia do acidente. A partir daí, foi afundando gradativamente, somando cerca de 3,5 metros. Entre a noite de anteontem e a manhã, a submersão teria sido mais lenta, atingindo meio metro.
Para a Petrobras, a queda no ritmo de afundamento se deve ao trabalho de três engenheiros voluntários que se dispuseram a entrar na plataforma P-36 no início da tarde de sexta-feira para iniciar a vedação de aberturas que poderiam permitir a entrada de mais água nos compartimentos inundados.
Ontem, uma equipe de 30 pessoas continuaram os trabalhos. Foram instaladas mangueiras em quatro diferentes pontos da P-36 que estão fora da água para permitir a injeção de nitrogênio e ar nos compartimentos invadidos pela água. O objetivo é que o gás expulse a água e, com isso, a plataforma recupere a estabilidade.

Revolta
A família de Sérgio dos Santos Souza se mostrou ontem revoltada com o acidente. "Essas brigadas são formadas por trabalhadores que têm outras funções na empresa. É um absurdo. Eles são submetidos a múltiplas funções e, num momento de acidente, estão cansados e sem o preparo adequado", disse Sandra Maria dos Santos Souza, a irmã.
O coordenador regional do Ibama, no Rio, Carlos Henrique Mendes, disse que as plataformas da Petrobras não têm plano de emergência contra vazamento de óleo em caso de afundamento.
Embora atualmente essa não seja uma exigência do Ibama, Mendes afirmou que o instituto vai defender sua obrigatoriedade.
Segundo o coordenador, que se encontrou com Reichstul ontem, a Petrobras tem condições de recolher um possível vazamento em três horas. Ontem, a empresa aumentou a barreira de contenção de óleo de 1.200 m para 2.800 m.


Colaboraram Karine Rodrigues, Daniela Mendes e Mario Hugo Monken, da Sucursal do Rio



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