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RUMO A 2006
Reveses na gestão e na Assembléia reorientam estratégia do governador
Sob pressão, Alckmin congela
projeto nacional contra Lula
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Diante de obstáculos políticos e
administrativos, o governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), congelou o projeto de
concorrer à Presidência da República no ano que vem. Segundo
interlocutores, Alckmin não desistiu. Mas não se sente seguro para se afastar em abril, como exige
a lei, e entregar o comando do Estado ao insurgente PFL. Seu medo
é que o PSDB perca o estratégico
governo de São Paulo.
Daí a disposição de ficar até o
fim do mandato caso não reconstrua a aliança com o PFL. Para tucanos, esse pode ser também um
recuo tático. Ao engavetar o projeto de concorrer, Alckmin não só
escapa da mira do PT mas ameaça
pefelistas: se o PFL quiser concorrer ao governo, ele não entrega a
cadeira ao vice, Cláudio Lembo.
"Esse [risco de o PFL disputar o
governo] é o complicador. Teremos um ano para costurar a confiança. Para ser bem-sucedido, o
projeto tem que ser comum", admitiu o presidente do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio.
Para Pannunzio, "não dá para
imaginar o PSDB sendo vice do
PFL em São Paulo"."Sem querer
desmerecer, o PFL não tem nome
para governador", disse.
O presidente nacional do PFL,
Jorge Bornhausen (SC), argumenta, porém, que "o partido tem
dois bons nomes para a disputa:
Lembo e Afif Domingos".
A aliados, Alckmin pede calma.
Mas dará uma prova de seu descontentamento com o PFL hoje
ao indicar Edson Aparecido para
liderança do governo na Assembléia. Aparecido foi derrotado pelo PFL na disputa pela presidência
da Casa, na terça-feira.
A falta de confiança no PFL
-fomentada com a eleição do
dissidente Rodrigo Garcia- não
é o único freio imposto à candidatura Alckmin. Num momento de
fragilidade administrativa, com
rebeliões na Febem e a explosiva
dívida da Cesp, afloram resistências dentro do próprio PSDB.
Na noite de terça-feira, dia da
derrota de Aparecido, o comando
do partido se reuniu na casa do
presidente do PSDB, senador
Eduardo Azeredo (MG), a pedido
do governador de Minas, Aécio
Neves. No encontro, que contou
com a presença do senador Tasso
Jereissati (CE), a avaliação foi que
seria prematuro lançar o candidato antes do fim do ano. Informado, Alckmin teria aceitado a idéia.
Aécio ponderou que, se lançasse
candidato e trocasse mais tarde, o
partido já estaria derrotado. Disse
também que é preciso dar visibilidade a todos os possíveis candidatos e recomendou que o PSDB seja mais profissional, encomendando pesquisas de opinião.
Tasso lembrou ainda que a escolha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, consumiu muito
tempo. Participante do encontro,
o senador Teotonio Vilela Filho
(AL) diz que foram apontados
seis potenciais candidatos: Alckmin, FHC, Aécio, Tasso, o prefeito
José Serra e o governador de
Goiás, Marconi Perillo.
"Existe uma ansiedade nas bases para que nossa candidatura tenha cara, mas avaliamos que o
fim do ano é um bom prazo",
conta o contrariado Teotonio.
A exemplo do ex-governador
Dante Oliveira (MT), Teotonio
defendia que a candidatura ganhasse as ruas desde já. Na quarta-feira, Dante expôs seu ponto de
vista a Alckmin. "Eu disse que ele
deve viajar, que o jogo já está posto e a derrota na Assembléia foi só
o primeiro tiro. Virão outros",
disse Dante, segundo o qual Alckmin ouviu calado seus conselhos.
Convidado por Dante para ir a
Mato Grosso em abril, Alckmin
teria respondido: "Mais para
maio". Estratégico ou não, o recuo de Alckmin, no mínimo, adia
um cronograma de viagens pelo
país. Para alguns tucanos agora
não seria bom sair de cena.
Esse seria, no entanto, o preço
para se livrar da artilharia petista.
Na análise dos tucanos, o PT e o
governo federal dificultam a administração de São Paulo, emperrando financiamento no BNDES.
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