São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUMO A 2006

Reveses na gestão e na Assembléia reorientam estratégia do governador

Sob pressão, Alckmin congela projeto nacional contra Lula

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Diante de obstáculos políticos e administrativos, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), congelou o projeto de concorrer à Presidência da República no ano que vem. Segundo interlocutores, Alckmin não desistiu. Mas não se sente seguro para se afastar em abril, como exige a lei, e entregar o comando do Estado ao insurgente PFL. Seu medo é que o PSDB perca o estratégico governo de São Paulo.
Daí a disposição de ficar até o fim do mandato caso não reconstrua a aliança com o PFL. Para tucanos, esse pode ser também um recuo tático. Ao engavetar o projeto de concorrer, Alckmin não só escapa da mira do PT mas ameaça pefelistas: se o PFL quiser concorrer ao governo, ele não entrega a cadeira ao vice, Cláudio Lembo.
"Esse [risco de o PFL disputar o governo] é o complicador. Teremos um ano para costurar a confiança. Para ser bem-sucedido, o projeto tem que ser comum", admitiu o presidente do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio.
Para Pannunzio, "não dá para imaginar o PSDB sendo vice do PFL em São Paulo"."Sem querer desmerecer, o PFL não tem nome para governador", disse.
O presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen (SC), argumenta, porém, que "o partido tem dois bons nomes para a disputa: Lembo e Afif Domingos".
A aliados, Alckmin pede calma. Mas dará uma prova de seu descontentamento com o PFL hoje ao indicar Edson Aparecido para liderança do governo na Assembléia. Aparecido foi derrotado pelo PFL na disputa pela presidência da Casa, na terça-feira.
A falta de confiança no PFL -fomentada com a eleição do dissidente Rodrigo Garcia- não é o único freio imposto à candidatura Alckmin. Num momento de fragilidade administrativa, com rebeliões na Febem e a explosiva dívida da Cesp, afloram resistências dentro do próprio PSDB.
Na noite de terça-feira, dia da derrota de Aparecido, o comando do partido se reuniu na casa do presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), a pedido do governador de Minas, Aécio Neves. No encontro, que contou com a presença do senador Tasso Jereissati (CE), a avaliação foi que seria prematuro lançar o candidato antes do fim do ano. Informado, Alckmin teria aceitado a idéia.
Aécio ponderou que, se lançasse candidato e trocasse mais tarde, o partido já estaria derrotado. Disse também que é preciso dar visibilidade a todos os possíveis candidatos e recomendou que o PSDB seja mais profissional, encomendando pesquisas de opinião.
Tasso lembrou ainda que a escolha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, consumiu muito tempo. Participante do encontro, o senador Teotonio Vilela Filho (AL) diz que foram apontados seis potenciais candidatos: Alckmin, FHC, Aécio, Tasso, o prefeito José Serra e o governador de Goiás, Marconi Perillo.
"Existe uma ansiedade nas bases para que nossa candidatura tenha cara, mas avaliamos que o fim do ano é um bom prazo", conta o contrariado Teotonio.
A exemplo do ex-governador Dante Oliveira (MT), Teotonio defendia que a candidatura ganhasse as ruas desde já. Na quarta-feira, Dante expôs seu ponto de vista a Alckmin. "Eu disse que ele deve viajar, que o jogo já está posto e a derrota na Assembléia foi só o primeiro tiro. Virão outros", disse Dante, segundo o qual Alckmin ouviu calado seus conselhos.
Convidado por Dante para ir a Mato Grosso em abril, Alckmin teria respondido: "Mais para maio". Estratégico ou não, o recuo de Alckmin, no mínimo, adia um cronograma de viagens pelo país. Para alguns tucanos agora não seria bom sair de cena.
Esse seria, no entanto, o preço para se livrar da artilharia petista. Na análise dos tucanos, o PT e o governo federal dificultam a administração de São Paulo, emperrando financiamento no BNDES.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Para governador, retaliação ao PFL está descartada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.