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Relator renuncia a CPI do setor elétrico
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado por governistas e
pelo PMDB, o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) anunciou
na noite de ontem ter desistido de
ser o relator da CPI da Câmara
que investigará as privatizações
no setor elétrico. O deputado foi
indicado devido a um acordo do
PMDB com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), mas seu nome não contava
com a simpatia da liderança do
governo nem da oposição.
"Senti uma negatividade grande
no ar, uma pressão muito forte. O
PT queria meu cargo. Deus tocou
meu coração e então decidi renunciar", afirmou. O fato é que
ele perdeu apoio do próprio
PMDB, que foi forçado pelos governistas a recuar. Ainda não havia definição sobre seu substituto.
Wladimir, aliado do deputado
Jader Barbalho (PMDB-PA), é um
ferrenho opositor do governo e
foi o autor de um dos requerimentos que mais irritaram os representantes do Planalto -o que
queria resposta formal sobre os
hábitos e os gastos da Presidência
com bebida alcoólica.
A resistência ao seu nome esvaziou ontem a sessão que instalaria
a CPI, o que transferiu para as
próximas semanas o início de seu
funcionamento. Apenas oito deputados compareceram, sendo
que o quórum mínimo é de 12.
Wladimir era pressionado já
nas primeiras horas da manhã,
mas mantinha a afirmação de que
iria até o fim. Em suas primeiras
declarações como relator, afirmou que seria preciso construir
novo presídio federal caso se confirmassem as suspeitas de corrupção nos processos de privatização.
"Garanto que, se ficar provada a
participação de quem quer que
seja, vão ter que prestar conta nas
barras da Justiça. E se todas as
pessoas forem indiciadas e [ficar
provado] que realmente estão envolvidas nesse escândalo, não tenho dúvida de que o ministro
Márcio Thomaz Bastos [Justiça]
terá que mandar construir uma
nova penitenciária federal para
abrigar tanta gente", disse.
Pela manhã, o deputado federal
afirmou que havia um grupo querendo direcionar os trabalhos da
CPI e que ele não iria compactuar
com isso.
Prejuízo
A CPI foi pedida em 2003 devido ao prejuízo registrado naquele
ano pelo BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social). O banco havia emprestado, em 1998, US$ 1,2 bilhão para
que a norte-americana AES comprasse a Eletropaulo. No final de
2003, o banco e a empresa chegaram a um acordo.
No mês passado, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva reacendeu a polêmica durante discurso
no Espírito Santo.
Ele relatou ter ouvido de um assessor, no início de sua gestão,
que uma estatal estava quebrada
devido a um processo de corrupção ocorrido na gestão anterior,
mas não citou nomes.
O caso, segundo aliados, seria
relativo à venda da Eletropaulo à
AES. No Senado, a oposição reagiu ao discurso, entre outras coisas, reunindo assinaturas para
duas CPIs, uma para investigar as
privatizações realizadas no país
entre 1990 e 2004 e outra para
apurar o envolvimento de Waldomiro Diniz, ex-funcionário da Casa Civil da atual gestão, em esquema de corrupção.
Os requerimentos do Senado
foram lidos anteontem pela Mesa,
mas, para as CPIs serem instaladas, os líderes partidários precisam indicar seus integrantes, o
que pode não ocorrer.
O senador Aloizio Mercadante
(PT-SP), líder do governo na Casa, já afirmou que não vê sentido
nessas investigações, que já teriam sido realizadas por outros
órgãos.
(RB)
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