São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

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Relator renuncia a CPI do setor elétrico

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado por governistas e pelo PMDB, o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) anunciou na noite de ontem ter desistido de ser o relator da CPI da Câmara que investigará as privatizações no setor elétrico. O deputado foi indicado devido a um acordo do PMDB com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), mas seu nome não contava com a simpatia da liderança do governo nem da oposição.
"Senti uma negatividade grande no ar, uma pressão muito forte. O PT queria meu cargo. Deus tocou meu coração e então decidi renunciar", afirmou. O fato é que ele perdeu apoio do próprio PMDB, que foi forçado pelos governistas a recuar. Ainda não havia definição sobre seu substituto.
Wladimir, aliado do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), é um ferrenho opositor do governo e foi o autor de um dos requerimentos que mais irritaram os representantes do Planalto -o que queria resposta formal sobre os hábitos e os gastos da Presidência com bebida alcoólica.
A resistência ao seu nome esvaziou ontem a sessão que instalaria a CPI, o que transferiu para as próximas semanas o início de seu funcionamento. Apenas oito deputados compareceram, sendo que o quórum mínimo é de 12.
Wladimir era pressionado já nas primeiras horas da manhã, mas mantinha a afirmação de que iria até o fim. Em suas primeiras declarações como relator, afirmou que seria preciso construir novo presídio federal caso se confirmassem as suspeitas de corrupção nos processos de privatização.
"Garanto que, se ficar provada a participação de quem quer que seja, vão ter que prestar conta nas barras da Justiça. E se todas as pessoas forem indiciadas e [ficar provado] que realmente estão envolvidas nesse escândalo, não tenho dúvida de que o ministro Márcio Thomaz Bastos [Justiça] terá que mandar construir uma nova penitenciária federal para abrigar tanta gente", disse.
Pela manhã, o deputado federal afirmou que havia um grupo querendo direcionar os trabalhos da CPI e que ele não iria compactuar com isso.

Prejuízo
A CPI foi pedida em 2003 devido ao prejuízo registrado naquele ano pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O banco havia emprestado, em 1998, US$ 1,2 bilhão para que a norte-americana AES comprasse a Eletropaulo. No final de 2003, o banco e a empresa chegaram a um acordo.
No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reacendeu a polêmica durante discurso no Espírito Santo.
Ele relatou ter ouvido de um assessor, no início de sua gestão, que uma estatal estava quebrada devido a um processo de corrupção ocorrido na gestão anterior, mas não citou nomes.
O caso, segundo aliados, seria relativo à venda da Eletropaulo à AES. No Senado, a oposição reagiu ao discurso, entre outras coisas, reunindo assinaturas para duas CPIs, uma para investigar as privatizações realizadas no país entre 1990 e 2004 e outra para apurar o envolvimento de Waldomiro Diniz, ex-funcionário da Casa Civil da atual gestão, em esquema de corrupção.
Os requerimentos do Senado foram lidos anteontem pela Mesa, mas, para as CPIs serem instaladas, os líderes partidários precisam indicar seus integrantes, o que pode não ocorrer.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo na Casa, já afirmou que não vê sentido nessas investigações, que já teriam sido realizadas por outros órgãos. (RB)


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