RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores do governo Fernando Henrique Cardoso, disse anteontem à noite no Rio que a política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem por objetivo "oferecer satisfação ideológica interna", dadas as contradições entre o discurso tradicional do PT e a atual política macroeconômica.
"A primeira "idéia-força" da política externa do governo Lula é a idéia do marco zero -de que vai tudo começar a partir da nova gestão", disse. Lafer participava de um dos debates de lançamento do Instituto de Estudos da Realidade Nacional, que será vinculado à UniverCidade, instituição privada de ensino do Rio.
Segundo Lafer, há antecedentes da insistência na idéia de ruptura, como na passagem do Império para a República e no governo de Jânio Quadros (1961). Nos três casos, o objetivo seria essa "satisfação ideológica interna".
"Um exemplo é um dos bordões do presidente, que é mudar a geografia econômica e comercial do mundo a partir desse voluntarismo da mudança", afirmou o ex-chanceler. "É a idéia de mesclar uma política macroeconômica ortodoxa com uma política externa heterodoxa, que simboliza o compromisso com a mudança."
Lafer disse que o atual governo procura apresentar o tema da autonomia do país em suas ações diplomáticas como "um valor muito grande", "como se essa preocupação não marcasse governos anteriores". Além de diminuir o peso da mudança na atual política externa, o ex-chanceler disse ter "dúvidas sobre a qualidade do que vem sendo feito": afirmou que o Mercosul está fragilizado e vê recuo em direitos humanos.
O ex-ministro Pedro Malan, também presente, evitou críticas diretas à gestão Lula. Disse considerar que um dos principais fatores que darão legitimidade e força às ações diplomáticas do país será a capacidade do país em resolver problemas internos, como questões de liberdades individuais e econômicas e de justiça social.
Marcílio Marques Moreira, ex-ministro da Fazenda no governo Fernando Collor (1990-1992), que também participava do colóquio "Rumos do Brasil Contemporâneo", elogiou a política macroeconômica de Lula, mas também criticou a política externa, que, para ele, "é de caráter retórico".

Ministério
O Ministério das Relações Exteriores afirmou, pela assessoria, que a política externa brasileira "tem visado à abertura de mercados" e que "os números testemunham isso". Citou um crescimento de 49% das exportações brasileiras para países em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que elas também cresceram para a Europa (30%) e para os EUA (20%).
Sobre a questão dos direitos humanos, disse que o Brasil defende a realização de relatórios globais por parte da comissão para a área das Nações Unidas, ao mesmo tempo em que critica "o caráter seletivo e politizado das avaliações individuais de países".


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