São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Não faltam recursos a TV pública, diz Bucci

DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, diz que o problema da TV pública no Brasil não está na falta de recursos financeiros ou de funcionários, mas na má-gestão. Ele, que pode deixar o cargo na reforma ministerial atualmente em curso, se declara um entusiasta da TV pública e diz que suas críticas são para aprimorar o setor. "Nenhuma democracia prescinde da comunicação pública, porque ela supre áreas que a comunicação comercial não pode atender." Leia a seguir sua entrevista à Folha. (ELVIRA LOBATO)  

FOLHA - Qual a diferença entre TV pública e TV estatal?
EUGÊNIO BUCCI
- Há vários níveis de distinção. Falar que a TV estatal defende o governo e que a TV pública é independente é um argumento capcioso, porque mesmo a TV inteiramente de propriedade do Estado não pode fazer proselitismo. O dever da impessoalidade vale para todas. Sou um entusiasta da TV pública. Nenhuma democracia prescinde da comunicação pública, porque ela supre áreas que a comunicação comercial não pode atender. Nosso problema é de gestão e formatação de marco regulatório.

FOLHA - A BBC é citada como referência de independência editorial e é financiada por uma taxa anual paga pelos telespectadores. Qual deveria ser o modelo de financiamento no Brasil?
BUCCI
- É preciso ter recurso público ou garantido pela legislação. O cidadão inglês paga uma taxa anual para manutenção da BBC porque é obrigado por lei. A idéia de que televisão pública tem de dar lucro é imprópria. Ela sempre será financiada por recursos públicos. Também é falsa a idéia de que a TV aberta no Brasil é gratuita. O preço da TV aberta está embutido no preço dos produtos que ela anuncia.

FOLHA - O problema da TV pública brasileira é de falta de recursos?
BUCCI
- Não acho. O principal problema é de gestão e de projeto. Não é falta de funcionários nem de orçamento. Os projetos que consomem recursos públicos poderiam ser melhor geridos. O setor tem de enfrentar essa realidade. Por isso, o Fórum Nacional de TVs Públicas, a ser realizado em abril, terá uma importância histórica para o setor, porque vai debater os modelos de negócios.

FOLHA - E qual é hoje a situação da Radiobrás?
BUCCI
- O problema da Radiobrás é que ela mescla comunicação institucional, como o canal NBR, e comunicação pública, da Rádio Nacional e da TV Nacional. Fizemos uma gestão marcada pela impessoalidade e pela autonomia, mas todos os integrantes da diretoria são nomeados pelo governo e demissíveis a qualquer momento.
Na prática, funcionou bem, mas qualquer diretor pode ser afastado. O orçamento anual da Radiobrás é de R$ 105 milhões, e ela tem 1.148 funcionários, na quase totalidade celetistas. A empresa produz 90 horas de programação semanal para TV e está dentro de padrões razoáveis de produtividade. Não é algo que apavore.


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