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Não faltam recursos a TV pública, diz Bucci
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Radiobrás,
Eugênio Bucci, diz que o problema da TV pública no Brasil
não está na falta de recursos financeiros ou de funcionários,
mas na má-gestão.
Ele, que pode deixar o cargo
na reforma ministerial atualmente em curso, se declara um
entusiasta da TV pública e diz
que suas críticas são para aprimorar o setor. "Nenhuma democracia prescinde da comunicação pública, porque ela supre
áreas que a comunicação comercial não pode atender."
Leia a seguir sua entrevista à
Folha.
(ELVIRA LOBATO)
FOLHA - Qual a diferença entre TV
pública e TV estatal?
EUGÊNIO BUCCI - Há vários níveis
de distinção. Falar que a TV estatal defende o governo e que a
TV pública é independente é
um argumento capcioso, porque mesmo a TV inteiramente
de propriedade do Estado não
pode fazer proselitismo. O dever da impessoalidade vale para
todas. Sou um entusiasta da TV
pública. Nenhuma democracia
prescinde da comunicação pública, porque ela supre áreas
que a comunicação comercial
não pode atender. Nosso problema é de gestão e formatação
de marco regulatório.
FOLHA - A BBC é citada como referência de independência editorial e
é financiada por uma taxa anual paga pelos telespectadores. Qual deveria ser o modelo de financiamento no Brasil?
BUCCI - É preciso ter recurso
público ou garantido pela legislação. O cidadão inglês paga
uma taxa anual para manutenção da BBC porque é obrigado
por lei. A idéia de que televisão
pública tem de dar lucro é imprópria. Ela sempre será financiada por recursos públicos.
Também é falsa a idéia de que a
TV aberta no Brasil é gratuita.
O preço da TV aberta está embutido no preço dos produtos
que ela anuncia.
FOLHA - O problema da TV pública
brasileira é de falta de recursos?
BUCCI - Não acho. O principal
problema é de gestão e de projeto. Não é falta de funcionários
nem de orçamento. Os projetos
que consomem recursos públicos poderiam ser melhor geridos. O setor tem de enfrentar
essa realidade. Por isso, o Fórum Nacional de TVs Públicas,
a ser realizado em abril, terá
uma importância histórica para o setor, porque vai debater os
modelos de negócios.
FOLHA - E qual é hoje a situação da
Radiobrás?
BUCCI - O problema da Radiobrás é que ela mescla comunicação institucional, como o canal NBR, e comunicação pública, da Rádio Nacional e da TV
Nacional. Fizemos uma gestão
marcada pela impessoalidade e
pela autonomia, mas todos os
integrantes da diretoria são nomeados pelo governo e demissíveis a qualquer momento.
Na prática, funcionou bem,
mas qualquer diretor pode ser
afastado. O orçamento anual da
Radiobrás é de R$ 105 milhões,
e ela tem 1.148 funcionários, na
quase totalidade celetistas. A
empresa produz 90 horas de
programação semanal para TV
e está dentro de padrões razoáveis de produtividade. Não é algo que apavore.
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