São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Canais estatais se tornam cabides de emprego pelo país

Com 390 funcionários, emissora educativa em Alagoas gasta 90% de verba com salários e só produz 4% da programação

TV estatal no PR promove debates e propagandas sobre o governo e faz ataques a oposicionistas ao governo de Roberto Requião

Sérgio Lima - 29.nov.2006/Folha Imagem
Estúdio da TV Câmara, em Brasília, no dia da inauguração das novas instalações da emissora


DA SUCURSAL DO RIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), determinou intervenção na TV e na rádio educativas do Estado. A transmissão dos sinais para os 32 municípios foi suspensa, e os 169 empregados, postos em férias. Segundo o governo, as duas emissoras têm orçamento anual de R$ 7,2 milhões e estão inchadas, com 169 funcionários.
""A TV é importante para a construção da identidade cultural do Estado, mas não vamos permitir que sirva de cabide de empregos e de central de favores", declarou o secretário de Governo, Osmar Jerônimo.
Há emissoras sucateadas e outras em franco crescimento. O governo do Piauí investiu R$ 4,7 milhões na Fundação Antares. A fundação tem 220 funcionários e fará concurso para contratar mais 100. Segundo seu presidente, Rodrigo Ferraz, ela não deixa a dever, em termos de recursos, à TV Meio Norte, afiliada da Globo.
Já em Alagoas, o Instituto Zumbi dos Palmares, vinculado à Secretaria de Educação e que administra a TV educativa e quatro emissoras de rádio, passa por penúria financeira. Apenas 4% da produção exibida pela TV são produzidos localmente, embora tenha 390 funcionários, que consomem 90% da folha de pagamento. A situação é tão crítica que um dos itens da pauta de reivindicações dos professores estaduais em greve é que a Secretaria de Educação deixe de sustentar a TV.
No Pará, a presidente da Funtelpa (Fundação de Telecomunicações do Pará), Regina Alves Lima, suspendeu o convênio assinado em 1997, na gestão do ex-governador Almir Gabriel, que cedia à TV Liberal, afiliada da Globo, o uso da rede de 78 retransmissores para o interior do Estado. A TV educativa só era captada na capital.
Um dos problemas das emissoras educativas estatais é com funcionários estatutários. A TVE do Espírito Santo, por exemplo, não tem programação ao vivo à noite porque o expediente termina às 19h.
A TVE do Maranhão foi transferida para o âmbito do governo federal quando o senador José Sarney (PMDB-AP) foi presidente da República (1985-90), para garantir recursos para o programa de ensino à distância. Ela faz parte da TVE do Rio, que é federal, o que não impediu que fosse abandonada.
Desde o início de seu mandato anterior, o governador Roberto Requião (PMDB) investiu em pessoal, equipamentos e expansão da Fundação Rádio e Televisão Educativa do Paraná. E alterou seu estatuto para despontar como personagem freqüente da programação.
A hoje RTVE (Rádio e TV Paraná Educativa) acrescentou ao objetivo de produzir e gerar programas culturais, educativos e o debate de ""políticas públicas de governo". Aos adversários de Requião a RTVE reserva dossiês e ataques.
O líder do PSDB na Assembléia Legislativa, Valdir Rossoni, diz que a TV pública do Paraná ""é uma demonstração de truculência, culto à personalidade". Rossoni acusa Requião de ""contagiar a emissora com sua síndrome chavista". Admirador do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Requião fez com a Telesur, de Caracas, uma parceria para compor a cadeia do telejornalismo da emissora, em troca da reprodução de programas de seu governo.
A Folha tentou falar na quinta e sexta-feira com o presidente da RTVE, Marcos Batista, mas ele não atendeu. O porta-voz de Requião, Benedito Pires e assessores da Agência de Notícias do governo não responderam à reportagem. (ELVIRA LOBATO E MARI TORTATO)

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