São Paulo, terça-feira, 18 de março de 2008

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Só expandir programa não basta, dizem especialistas

Para eles, falta investimento na qualidade da educação

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

A expansão do Bolsa Família a jovens de 16 e 17 anos é apoiada por estudiosos da educação brasileira. Mas eles são unânimes em dizer que, isoladamente, a medida não basta.
O sociólogo Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, defende o programa, mas diz que ele não pode "reproduzir condições de vulnerabilidade".
Segundo Cara, em 2005 o governo federal só investiu 0,14% do PIB em educação básica, enquanto Estados e municípios colaboraram com 2,96%. Ele diz ainda que estudos sobre qualidade da educação mostram que, em 2007, o Fundeb (fundo de financiamento da educação básica que substituiu o Fundef) investiu R$ 1.136 por aluno do ensino médio, mas deveria ter investido R$ 2.346.
"Isso significa que, para esses jovens com idade de 16 e 17 anos alcançarem sua autonomia por meio da educação, eles deveriam ter tido um nível de investimentos que não têm", complementa Cara.
José Marcelino Rezende, da USP de Ribeirão Preto e autor de "Custo Aluno-Qualidade", diz ser preocupante a queda de matrículas no ensino médio. "E estão caindo no momento que se esperaria um crescimento. Nesse sentido, qualquer medida que estimule a presença do jovem é positiva", afirma.
Para Marcelino, a medida pode ter um "cunho oportunista e partidário", mas esse não é o único problema. "Há outros, como a necessidade de desenvolver uma escola de qualidade. O Brasil tem metade das matrículas no ensino noturno."
Para Romualdo Luiz Portela, da Faculdade de Educação da USP, "conforme vai aumentando a idade, a questão da demanda pelo mercado de trabalho aumenta". Mas, segundo ele, é preciso um estudo empírico para saber "se a queda das matrículas se dá apenas por conta da pressão do trabalho".
Daniel Cara conclui: "A melhor propaganda seria a participação radical da União em educação básica de qualidade. Essa propaganda o governo Lula, infelizmente, não pode fazer".


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